sábado, dezembro 22, 2007

funerais de cidades

"É preciso ser deveras inteligente para bancar o idiota" pensou, buscando mais conforto do que estabelecer alguma verdade. "Mas esse papel não cai bem para qualquer um e nem é um fardo leve para se carregar, mas mesmo assim, você ainda será o único realmente apto a celebrar uma noite em sua estupidez mais dilacerante e desesperada."
Uma indiferença em relação a seu próprio tempo ao mesmo tempo que facilitava as coisas para sua conduta colocava-o num caminhar solitário cheio de significados ofensivos. Assustadora era a sua capacidade de se sentir ofendido, de tal modo que lhe bastavam poucas palavras e um arranjo mais ou menos sugestivo e toda febre lhe subia à cabeça, a bílis se contorcia no estômago e o sangue lhe inchava os olhos.
Ele só pensava, sempre pensava - "Quando em cada diálogo, por mais estúpido que esse seja, surgem dezenas de Alexandres, Júlio Cesares e Cleópratas só me resta o nobre papel de bobo. Por que o mesmo discurso que enaltece a brilhantice se incomoda continuamente com a insignificância? Já não sei se isso é um defeito meu ou exterior, mas nesse desespero para ser lembrado eles só fazem esquecer. Rebaixo-me até o autismo, próximo da nulidade completa num devaneio mudo quando de relance percebo a eterna conversa sobre conversar, a mesma porcaria que fez da arte o mais fedorento e desértico lugar na terra."
Por essas e outras ele acreditava que Vitória estava morrendo, ele não tinha mais a inocência de antes que ainda inspirava alguma vida e inchava seus olhos de deslumbre, a cidade morre conforme ela foi matando-lhe. Os muros vão ficando brancos, as conversas insignificantes e o desespero gritante. Tem que ter muito fígado ou ser muito idiota para glorificar algo nesse cenário. Brener sentiu a miséria, abraçou a miséria, tornou-se miséria para finalmente preferir a idiotice.
(sem muito o que escrever, voltando a ativa, sem revisão, sem pretensão, sem esperança)

sábado, outubro 27, 2007

"e no final o desprezo recebido é sempre maior que o esperado." L.p. outubro/07

será que essa frase já existe ou é uma daquelas verdades absolutas que trazem a impressão de já existirem ou de ja terem sido ditas de outra forma?

domingo, outubro 14, 2007

onde não existe o sentido só resta o desespero.

segunda-feira, outubro 08, 2007

fragmentos

"No final as palavras são só uma forma de vestir sentimentos" Leonardo Prata 06/08/07

"Tenho uma sede, uma secura na boca. Um deserto no peito quando cultivei nos campos do apego. Às vezes um descompromisso malevolente e uma miopia para enxergar em perspectiva. Um Midas ao avesso que deprecia tudo o que tem nas mãos e adora seu passado como se tivesse um olho nas costas.” (Trecho encontrado em um rascunho sem destinatário em 12/06/07)

"Tenho um apetite pelo presente que só encontra rival à altura na minha vontade de ver o amanha nascer novamente diante dos meus olhos” (L.P. perdi a data)

"Existe alguma coisa em mim que parece invulnerável, uma vontade de estar com os olhos e ouvidos abertos, mas que perde o sentido para o mundo conforme minha fala se esvai ou meu apetite pela sociedade diminui." (L.P. perdi a data e mais um monte de frases legais)

"o alcool é o melhor removedor de manchas espirituais"

Se na época em que eu estava escrevendo "frases" enviei alguma para "você" que não se encontra aqui por favor me devolva.

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Pedaço de algum livro brilhante que estou escrevendo... brincadeira.

As idéias haviam desaparecido das conversas, percebera isso primeiramente enquanto sensação negativa e porque não dizer, reduzida. Não se sentia satisfeito com o universo das sensações, precisava senti-las para além do mau-humor e da febre. Um mal-estar lhe habitava o espírito, sem passar pelo coador da razão, essa sensação não lhe transcendia o raio fisiológico, não se convergia em retórica, não amadurecia em conceito, essa clausura da sensação em sua manifestação puramente biológica, confinou por osmose o seu espírito. Eu conhecia Gerson Brener muito bem e sabia que para um homem que levava os pensamentos a sério, não conseguir decifra-los poderia acarretar mais tormento que a própria sensação fisiológica, algo comum em suas atitudes, um eco que não diminuía gradativamente o volume, mas ao contrário aumentava até tornar-se insuportável. Contou-me o que estava sentindo e que iria se debruçar sobre essa sensação, estudá-la mais a sério.No inverno daquele ano entregou-se ao silêncio, foi a última notícia que obtive sobre seus "estudos" antes da carta que recebi. Na carta, uma espécie de grito calmo me escreveu sobre as conclusões as quais chegara sobre a natureza do silêncio, mesmo acreditando que ele era o único lugar onde o dualismo poderia ser extirpado, só alcançava esse oásis através da meditação. A partir do encadeamento do pensamento o silêncio era por excelência ambíguo, mesmo assim conseguiu retirar uma dialética superadora, sobretudo no que tangia a busca da serenidade. Escrevera-me que "toda tranqüilidade detinha em algum lugar nela um aspecto silencioso, mas que nem todo silêncio era tranqüilo". O silencio era para ele sem mistérios, puramente reflexivo não só para as questões das idéias e da alma, mas como espelho desta última. Se confundiram alguma vez na história o olhar com o silêncio como detentor dessa função, não caíram, assim, propriamente no erro, mas no pecado da redução. A visão é facilmente ludibriada, mesmo que o olhar contenha mais alma que as imagens, os olhos há muito tempo estavam sendo sobrecarregados e nessa avalanche de imagens e com a nova velocidade em que elas apareciam o olhar não ficou desconfiado, na verdade, ficou hipertrofiado perdendo sua capacidade investigativa, sendo sobre tudo a janela da ilusão. Disse-me outro dia que não se assustara quando percebera que a ilusão havia descido, sobre tudo na consciência das massas, ao reino da visão.

quinta-feira, agosto 02, 2007

1 ano e 6 meses de blog!

Fui dar uma olhadela nas coisas que escrevi, algumas palavras tornaram-se velhas outras continuam vivas e estão até mais jovens. A validade das palavras tem alguma relação com o tanto de sangue que você derrama para escreve-las. Como gosto de abrir minhas veias ao máximo um padrão foi estabelecido nas minhas batalhas cotidianas, a luta para acabar com os parâmetros erguidos pelo tédio. Nem sempre fui feliz nessa luta, ainda mais caminhando no meio do gado humano. Gostaria de montar uma guerrilha de dois, mas como diria o mussum... é complicadis e pareço sempre estar a serviço do descompasso. Hoje estou andando mais sozinho, pensando mais de mansinho. Não digo que saí dessas palavras ileso, que idiota pensaria isso? Aqui estão pedaços que por alguma falha da minha natureza eu resolvi expor. Não é vaidade, essas palavras com certeza me afastaram mais ainda do mundo dos homens. Estou escrevendo mais do que nunca, mas não estou publicando aqui. Estou fazendo um "mistério"...
Estou com um outro blog de resenhas (http://booksloveregret.blogspot.com) e um blog secreto das minhas viagens e filosofias do movimento para o projeto do meu livro "Como se filosofa com o chinelo ou filosofia a chineladas". Estou traduzindo um texto para uma suposta editora pirata, escrevendo minha monografia e com certeza.. ficando louco. Tudo isso exigiu de mim que abandonasse a boêmia, por isso peço que evitem convites para eu me juntar a vocês, celebrar qualquer coisa ou rir de qualquer merda. Amo todos meus amigos e desejo todas a bocetas, mas agora é tempo de hibernar.
Obrigado a todo mundo que deixou um recado aqui, sei que nunca comento nada no blog de ninguém e nem leio o blog de ninguém... mas não é por escrotice, é mais para me manter limpo ou, se preferir, imerso na minha própria sujeira.
Se quiser me encontrar, ande pelas ruas de vitória em horários inusitados ou nas tardes dos finais de semana.
Abraço
L.

domingo, julho 22, 2007

só mesmo em vitoria onde os homens se confundem com o mar

na calmaria ou no tumulto sempre naveguei nesse assunto.
de qual oceano estamos falando?
do pacífico, oras. há muito tempo não me banho em suas águas, mas sempre que o céu parece um pulmão negro cheio de estrelas é como se minha boca salivasse agua salgada ou quando nossas peles escorregadias e suadas encharcam a cama e agarrando no seu quadril como um naufrago segurando a vida, nessas horas, me confundo com o mar, me deixo levar... sou quase amar.
o que falta então?
que pergunta! você contaria os segredos do mar?

domingo, junho 17, 2007

as portas da percepção ou de como eu preciso do seu olhar


o silêncio deixa uma infinidade de possibilidades para a imaginação e a imaginação é, para a realidade, uma porta fechada. e sabe que o é. vamos supor que você seja bom nisso e que sua imaginação encerre muito mais possibilidades do que o usual e que você se diverte nessa busca angustiante para chegar ao máximo de possibilidades, você passa pelas mais dolorosas e experimenta de sua dor, pelas mais alegres você se diverte e sorri e assim por diante, você acaba introjetando todas elas e acaba retornando em algumas e não são poucas as vezes, mas a troca de silêncios, para ser saudável, exige muito mais compreensão entre imaginação e realidade (do objeto) do que parece. Pois a natureza do silêncio é ambigüa, pode compreender o entendimento mais pleno e a indiferença mais fria.
Apesar da sensação de ter experimentado tantas possibilidades e tê-las sentido como se estivessem tocando a sua pele, você sabe que a porta ainda estava fechada e que pouco vale esse universo de experimentações imaginárias se o objeto não abrir a porta e deixar que você sinta não mais um milhão de possibilidades imaginárias, mas um milhão de momentos de possibilidades infinitas.

domingo, junho 03, 2007

existem noites que somos bons, existem outras.... que somos horriveis.

-"Noite sem sentido." - Pensei e continuei - aqui o jogo é mesquinho, não me agrada. Na verdade, nem me sinto tocado por esse jogo. Não me sinto desafiado, há muito tempo isso não faz diferença para mim, digo... afeta meu humor, mas não meu espírito. E o que me traz novamente nesse lugar? O que diabos me traz? A possibilidade do encontro! É verdade! Minha eterna fraqueza sociabilizante. - sorri para mim mesmo, um sorriso doente e louco e nessa hora percebi que haviam notado minha alegria autista. Meu silêncio e concordância despreocupada haviam irritado o democrático ditador daquela casa.

- repara que ninguém consegue ficar parado.
- mas isso não significa nada, estamos sempre em movimento. e tem a coisa da música, ela mexe com a gente.
- sim, essa música é horrível. Amaldiçoados aqueles que não reconhecem seus limites. Mas isso, de estarmos todos em movimento não signifca que seja impossivel analizar o movimento, veja bem...
- por que retorna sempre as mesmas questões?
- digamos que sou chato. - e continuou - minha vida toda me encaminhei para tornar movimento. Nunca fui apegado a nada, meus amores nunca apareceram para mim enquanto perspectivas futuras, era o momento. Minhas posses estão a mercê de todo o imprevisto e desapego. Não lustro coisas mortas, nem tiro a poeira da velharia. Tudo para mim tem que acontecer e morrer na acidez do tempo. Mas veja a contradição, não viajo faz muito tempo.
- a maior parte do tempo, você se pergunta sobre o tempo. não vê que aniquila todo o sentido girando inercialmente?
- lá vem você denovo com esse papo sobre inércia. sabes muito bem que venho girando ao redor das coisas para vê-las em todos os ângulos e se não bastasse meus temas variam conforme meu espírito. Não abandono um problema por sua complicação, abandono-o quando a minha resposta me satisfaz. Posso não ser o cara mais feliz do mundo, mas me aturo muito bem. Não me vê reclamar sem propósito. E fique sabendo, agora estou a estudar a urgência.
- Sim, interessante. E já digo, que tu parece desesperado.
- Toma a forma pelo conteúdo, sabes que sou calmo. Nervoso não consigo pensar, é uma fraqueza deixar que me tirem do sério, mas acontece. Sou humano. Nessas horas fico reduzido à nada. Não estou desesperado, digo as coisas com uma urgência benéfica, estou a me acostumar com este estado excitado. Talvez melhore nas próximas situações críticas.
- Críticas?
- Nervosas, que seja.
- Mas o que tem de positivo a urgência?
- Acredito que se eu estudar a urgência posso fazer do impulso, que os momentos urgentes exigem, uma arma mais precisa. Na verdade você trouxe a conversa para onde eu realmente queria chegar, a urgência e o impulso que ela exige de mim. Nessas horas nervosas eu me comporto muito mal, acabo tropeçando nas minhas próprias pernas, resolvi estudar isso para que nesses momentos, na menor fração de tempo possível, eu obtenha a resposta mais curta e esclarecedora possível, tanto física quanto retóricamente. Como sabe reajo pouco ao mundo, abandonei quase tudo que a humanidade glorifica. Sempre tive essa tentação pela solidão, não me leve a mal. Estou bem assim.
- Não te levo a mal meu amigo, só fico preocupado com suas idéias. Andas a ler muito e a viver pouco, mal fala comigo. De que adianta seus "exercícios" - e fez o gesto com as mãos como se colocasse as aspas - se anda escondido? Parece fraco.
(continua um dia)

sexta-feira, junho 01, 2007

solitude's temptation vs. desire

quando meu pensamento se desfaz em sombras, caminho taciturnamente pelo barulho da confusão.
quando meu pensamento se faz de sombras, caminho pensativamente pelo silêncio da solidão.
é tudo uma questão de causa e consequência.
caminhar é a única constante que obedeço. que meus pés me levem para longe do mundo dos homens e para perto do mundo dos deuses. eu sei que vou longe.
minha bagagem é leve quando sou sincero, enquanto o fardo da mentira é pesado e escorregadio. dificil de carregar, você vai constatar.
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era uma coisa virou outra
minh'alma grita rouca
para ler em braile
os mistérios de su boca.

sábado, abril 21, 2007

descaminhos ou como filosofar com um chinelo

As idéias são possessivas, e quantas vezes já nos percebemos girando ao redor delas com expressões angustiadas? Voltas investigativas num universo que ao mesmo tempo que é íntimo, pelo seu modus operandis, é estranho e novo, pelas suas sempre inesgotáveis possibilidades. Lobo, macaco ou hiena, mil faces da alma. Bobo, opaco ou sem pena, quem dentre nós me condena? Fora está o beijo quente que nutrio, o rio de pele e pêlo que você atravessa sem perceber. imagens ou imaginação, pensamento ou ação, boca ou tentação.
Não pertenço à nenhuma cela e minha condenação veio do carrasco em mim mesmo, indefeso palhaço que ri do espelho que zoa e maltrata sem zelo. a polidez na lata de lixo dessa transportadora de ilusões chamada vida. a medida que encolho, escapo. Conheço a fuga como quem viveu perambulando por cadeias, um coiote sem deserto, um lobo sem estepe.
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o prazer de viajar esta em se perder. por isso viajar sozinho é uma experiência necessária, as vezes dois são um só, mas a cumplicidade afoga as experiencias mais profundas, deixadas de lado em nome do conforto do espelho conhecido nublam o incerto e a deriva nos aguas tranquilas da alteridade. Poucas pessoas tem coragem para fazer aquilo que sabem, pouquíssimas. Estou aqui, longe de mim e de todos e nesses dias eu quero ver o esfacelamento do mundo porque aqueles que tentam salvar o mundo com a razão descobrem a sua pequenez.

terça-feira, abril 17, 2007

tato

meu olhar anseia por um dia de sorrir e namorar, olhares ja me conduziram para esses paraísos de alegria e poesia. hoje, daqui, te dou minhas palavras com vontade de chorar.

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passear poeticamente pela vida consiste num exercício descompromissado até o fim objetivo. Cada passo é uma revolução caliente e o desfrute pleno a utopia do vagabundo, nde o amor e a poesia se realizam na sua doçura e simplicidade. O caminho, quando duro ou insípido, exige um radicalismo do desejo, nesses dias tristes a profundidade tanto do corte quanto do peito são a arena de nossas paixões, onde a soma de tudo tem seu único espaço de insurreição na mesma proporção de sua urgência. (juro que vou consertar esse final ou tudo).

segunda-feira, abril 02, 2007

Sentia-se mal e fraco, não em sua moral ou julgamentos, era seu corpo que padecia, notara que seu apetite para aquilo que considerava vida havia diminuído. Começou um auto-tratamento, como sempre fazia - pelos com as doenças da alma, diminuiu os cigarros e começou alguns exercícios, mas sua rotina era um constante desmoronamento. Comprou um maço de cigarros para evitar que, num momento de fraqueza, pedisse à alguém. Preferia sua tosse monstruosa a estabelecer alguma espécie de contato com outros fumantes, aquele orgulho burguês de não se portar como pedinte, porque se o cigarro já era visto por ele como uma fraqueza, fazer do seu vício uma razão de comunicação atormentava-o. Preferia o silêncio pois sempre que escutava conversas perdidas pela cidade ficava assustado com as imbecialidades modernas, preferia o silêncio por que não queria fazer parte dessa estatística e silenciosamente se saía bem das mais difíceis encruzilhadas que a vida havia colocado em sua frente.
O fato de ter um maço cheio atiçava seu desejo pela nicotina e sabia que provávelmente fumaria tudo e rápido. Mas estava satisfeito com seu pensamento burguês.
Acreditava que toda aquela fraqueza servia-lhe de alguma forma. Mostrando o quanto escrever carregava consigo uma certa mortandade interna, fúnebre ritual de transformar a vida em palavras mortas, em folhas de árvores mortas para durar além da vida.
"-Outra dose de loucura, por favor!" Gritou um negro alto que tocava saxofone alucinadamente, nem esperou a bebida chegar, quando rapidamente ouvimos a marcação distante de quatro tempos nas baquetas, era o prelúdio de mais uma música de beleza enfurecedora. Ninguém conseguia achar um jeito contínuo para movimentar seus corpos e pensamentos, um desconforto acolhedor nos aquecia, copos iam e vinham até nossas bocas aveludando nossos ouvidos e encharcando nossas idéias.
Nessa altura, nossas conversas pareciam com o movimento de cardumes de peixes pequenos fugindo dos predadores, uma nuvem dançante de esbarrões num oceano de deliro. Só podia ser coisa daquele quarteto alucinado. O pianista parecia tocar uma espécie de tambor primitivo, seus pés não conseguiam se conter, aquela cena toda da banda nos impelia a dançar, não um passo, não um estilo esquizofrênico, parecia que desviávamos de socos vindos daquele palco. A esquiva nos fazia tirar conclusões a torto e a direito, o mais quieto do grupo disse em voz ébria:
- Dificilmente um fraco resiste ao silêncio, por isso estive quieto até agora. Não que vá falar coisas brilhantes, mas com certeza o silêncio é um direto de direita. Esse som é fudido e às vezes me perdi em sua fluidez, disse Gerard que logo foi interrompido pelo sempre volumoso Diego com suas caretas e retórica de machado desafiado:
-Sim, mas... – e dele sempre vinha um irritante "mas" seguido de suas verdades piradas – nas minúcias o silêncio não deveria ser encarado tão desafiadoramente.
Gerard só aceitaria essa resposta de uma pessoa que ao menos uma vez ficasse quieta diante de um assunto ou que evitasse as avalanches de mas e poréms, que sentisse fadiga ou demonstrasse humanidade.

quinta-feira, março 22, 2007

o que sou senão a miragem do meu próprio eu? Uma pergunta idiota respondida sem foco nos dias do império da visão. A claridade que não ofusca revela não mais do que o vazio. Foda-se! Hoje não existirão arestas e tudo vai descer o abismo infinito, deslizar por curvas imaginárias. Hipótese confirrmada pelo gosto dos oceanos e estradas de palavras e gargalhadas. Vendo a alegria nos dias de tristeza e ressabiado sorrio doentio para seus olhos carinhosos como quem sem medo treme e sem choro gagueja por um beijo, idiota que seja! Não sou mais do que isso.
De volta deparo-me com o sem graça e disfarço uma saída do embaraço. Se soubessemos os prazeres da liverdade não haveria mais tempo ou dias, sem ressentimentos te amo minha música.
"O céu me apareceu cheio de encanto" e a chuva finalmente é percebida, peranbulando por músicas e ruas o encontro ainda encanta corações estragados que estraçalhados no tempo e no espaço, na rotina e no descompasso sorriem diante do desenlance. - "No sepa lo que soy. Yo crèo que soy un beso. Una salita de recepición, una musica cantada para la luna. "
A certeza que dissipada canta sua essência efêmera, fumaça fuliginosa como gosta de dizer vulgarizada pela esquecidiça condição de existência.
-"Yo solamente soy essa noche calieñte! Mira me. solo su ritmo alucinado! Mira me no hay nombre, solamente cuerpo e dança".
Misturou goles com filosofia sem perceber rastros despejou sua mão novamente sobre o papels, diretos de direita dignos de seus idolos boxeadores esmurravam sua cabeça contra o ânimo. - Meu repelente é ácido expulsa mosquitos travesseiros que atravessam as noites.
Qualquer elemento surrava-lhe a mente, fraco ouvia a chuva em catarze que seus olhos molhados se fecharam para o amanhã.

domingo, março 18, 2007

e o silêncio e a alma

oh alma trancafiada, que nao uiva, mas cala. dorme, dorme e dorme e, quando não, cava sua própria vala.
parece aceitar a jaula, mas conhece os sintomas de sua clausura. ignora-os ao gosto do momento. por onde sorrateiramente transborda essa alma? mutável, prefere a fumaça à forma. escorregadia e foliginosa e calma. doces são os tempos de liberdade quando escapa de seus próprios tormentos, quando finge ter algum talento. sabe-se que é resistente ao silencio. então controla o incêndio e quase deixa escapar, palavras de amor ou raiva nesses dias sem paladar. vai alma penada, desce a escada, atravesse a parede e transborde a rede com sua sede. bêba até o último gole porque você entende mais lúcidamente de porre e se alguem te importunar, mande a loucura procurar. oh alma tranca afiada. devagar, devagar, devagar. bocejar, bocejar, bocejar. que ampla cadeia que é o silêncio mas que dói e aperta mais o coração do que escrever.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

já é hora de desvirar a ampulheta


Deveria estar certo de que ao desvirar a ampulheta começaria uma nova contagem do tempo, mas desde que a ampulheta parou o que essas areias guardaram dentro de si naquele contar do tempo? Construíram castelos de areia, forminhas de praia, palavras sutis e atritos... ora escorreram suavemente ora dolorosamente, como se estivessem arranhando meus olhos. Sólidas e salgadas estruturas, diria, se não carregasse a doce propaganda da memória sem rastro, foliginosa e enfumaçada. Não faz mais diferença, as areias são pequenos manuscritos do tempo, nelas estão contidas todas as experiências dos milênios, vem de bem antes da minha recente existência e a elas juntar-me-ei num futuro recente. Quem duvidaria de nossa pequenez?
Será que as areias envelhecem? Talvez elas sejam as formas da velhice, o pó. São pelo menos quando uma bunda velha senta e deforma a areia com suas curvas mulambentas e gravitacionais.
As areias desertas de qualquer estação gravam sua volúpia silenciosamente, resistem ao seu destino atômico e tragicômico, afinal quem será lembrado nas areias do esquecimento? Quem será amado ou odiado? Quem terá o perfume tatuado e a textura da sua pele impregnada dos/nos poros de outrem? Quem conhecerá os segredos dos mares da outra pessoa e terá a sensação de estar sempre a desvendá-los em qualquer momento? Tanto nas lembranças quanto na imaginação!
Agora sou um exercício, uma matemática torta que visa potencializar todos os momentos da vida, sem piedade minha ampulheta soterra o tempo e minha miserabilidade. É a faca que você, supostamente, amola contra si mesmo. Acreditando que viver entre o delírio e o mistério torna a vida um pouco mais excitante. Não existe mais contabilidade, nem balança. A ampulheta nunca foi desvirada, porque ainda não acabou, quem desvira a ampulheta é a morte e nosso xadrez ainda esta no começo da partida, espero.

sempre inacabado, como precisa ser.

sábado, janeiro 06, 2007

drop your guns

aquilo que não vivi permace com o encanto do que não foi, é que tudo parece maior quando sou incapaz, covarde e medroso. como você pode ver esse ego grande e esquizofrênico não tem mais receios, até suas fraquezas (conhecidas e exploradas por uns, odiadas e amaldiçoada por outros) são propagandeadas com a sinceridade da publicidade.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

av. entranhas esquina com a coração

Desculpe se não escrevo sobre as belezas turísticas de minha cidade, não me interessa esse tipo de atração local onde o comportamento se manifesta tão padronizado e etéreo, onde as particularidades são assassinadas por posturas débeis e infantilizadas de seres ignóbeis geralmente chamados de turistas que, seguindo fórmulas simples, congelam seus sorrisos desnatados em primeiro plano ofuscando paisagens de fundo com sua morbidade seriada - na verdade todas essas fotos, acredito, são os retratos de uma auto-imagem fria e sem personalidade que prefere a imagem à vida.
Espero não desapontá-la na forma como vejo e descrevo esse lugar onde a beleza é tão simples e pequena que fica difícil decifrá-la, para isso me embriaguei dessa cidade na esperança de transformar minhas impressões do espaço em algo mais cotidiano. Embriaguei-me e ainda estou bêbado, às vezes sinto uma ressaca de vitória, facilmente contornada com outra dose de aventura e descoberta. Caminhei perdido e cambaleante por suas ruas, provei seu amargo, às vezes, seu doce. Procurei ruas pequenas, onde as almas distantes se vêem de muito longe e nossos passos assumem uma cadência envolvente e são escutados e percebidos, por segundos ou anos conforme a melodia que nossos pés suscitam. Na multidão abri trilhas estreitas onde só passava uma pessoa por vez. onde tinha barulho eu cantei alto em voz muda. Onde era vazio expandi-me até ficar rarefeito, até ficar frio, até perder o equilíbrio.
À direita. Atravessei da raiva à serenidade, curvei na perspectiva, subi no respeito, atravessei o doce cume da eternidade que tatuado nas minhas entranhas e coração ainda se faz presente mesmo como ausência amarga ou doce coexistência. Desci o vale em espiral que torce o vento num ciclo constante que me trouxe de volta à partida. Aterrorizei-me com a perspectiva da ausência de história através da clara noção da linha que rodopia constantemente em torno de cada dúvida fundamental, uma fatigante peregrinação entre sugestões e pesadelos.
A esquerda costuma acabar no tédio, acho que parte da culpa esta na minha repulsa ao norte(ador). As formalidades da comunicação, à postura servil assumida tanto por mim, quanto pelas massas.
Quem diz que vitória é uma ilha deixa-se enganar pela metafísica da geografia, ou pelo mau costume das ciências que, geralmente, se mostram num plano autista que não diz nada a respeito da vida. Mas como podem dizer que essa cidade é uma ilha? Vitória é um arquipélago! E por mais mapeado que seja já vi em centenas de olhares, pessoas que descobriram suas ilhas secretas. Pequenos espaços inabaláveis e indestrutíveis sujeitos somente às ações do esquecimento.

(continua?)
(continua!)