segunda-feira, abril 02, 2007

"-Outra dose de loucura, por favor!" Gritou um negro alto que tocava saxofone alucinadamente, nem esperou a bebida chegar, quando rapidamente ouvimos a marcação distante de quatro tempos nas baquetas, era o prelúdio de mais uma música de beleza enfurecedora. Ninguém conseguia achar um jeito contínuo para movimentar seus corpos e pensamentos, um desconforto acolhedor nos aquecia, copos iam e vinham até nossas bocas aveludando nossos ouvidos e encharcando nossas idéias.
Nessa altura, nossas conversas pareciam com o movimento de cardumes de peixes pequenos fugindo dos predadores, uma nuvem dançante de esbarrões num oceano de deliro. Só podia ser coisa daquele quarteto alucinado. O pianista parecia tocar uma espécie de tambor primitivo, seus pés não conseguiam se conter, aquela cena toda da banda nos impelia a dançar, não um passo, não um estilo esquizofrênico, parecia que desviávamos de socos vindos daquele palco. A esquiva nos fazia tirar conclusões a torto e a direito, o mais quieto do grupo disse em voz ébria:
- Dificilmente um fraco resiste ao silêncio, por isso estive quieto até agora. Não que vá falar coisas brilhantes, mas com certeza o silêncio é um direto de direita. Esse som é fudido e às vezes me perdi em sua fluidez, disse Gerard que logo foi interrompido pelo sempre volumoso Diego com suas caretas e retórica de machado desafiado:
-Sim, mas... – e dele sempre vinha um irritante "mas" seguido de suas verdades piradas – nas minúcias o silêncio não deveria ser encarado tão desafiadoramente.
Gerard só aceitaria essa resposta de uma pessoa que ao menos uma vez ficasse quieta diante de um assunto ou que evitasse as avalanches de mas e poréms, que sentisse fadiga ou demonstrasse humanidade.

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