quinta-feira, dezembro 21, 2006

a tempestade no oceano

meu olhos apontam para o nada e nada vejo. a impressão que tenho é que não perco nada, (valeu laerte) mas nada tenho. estou em algum lugar do tempo ou do esquecimento é frio e amplo e distorcido. afogado no meu próprio ego, me resta a caridade. é o resultado do dano. o abismo tem dois gumes e te corta em quantos fragmentos inteiros você conseguir contar. agora somos dois estranhos que se conhecem bem. agora, não existe mais para mim. agora é só um ponto, é só uma gota e eu sou a tempestade.

domingo, dezembro 17, 2006

não posso ser contido.

mais fumaça que matéria
não tenho forma, sou idéia
perambulo pelo tempo
vagabundeando pelos momentos
a vida é quem exige o esquecimento
os pedaços que guardo em segredo
espero encaixem com os seus
pois é fumaça, é idéia
muito mais sangue que artéria.

domingo, dezembro 03, 2006

poesia picaretista, ops concretista

desconfio,
descuido,
descompasso,
descaso,
desastre
destemido,
destino.

quarta-feira, novembro 29, 2006

o esquecimento é que terá a última palavra

que pedaços pequenos me restem
mas que nunca à significados escusos se prestem.
Pedaços tão rasgados, praticamente irrecuperáveis,
por nenhum momento miseráveis.
um aqui outro acolá
melhor quando é dificil encaixar.
anos de lembrançar perdidas
para evitar sentir o gosto de um dia sem vida.

sábado, novembro 04, 2006

pequeno tratado de um grande b.

procure pequenas fissuras para tentar chegar a qualquer lugar, fale sobre qualquer coisa, até mesmo vulgar. faça as palavras sairem ou simplesmente estocar, pensei que você estivesse errada, mas só o tempo irá nos contar.
pensei que a vida era curta, mas o tempo parece um inferno. recolha-se até uma noz. silencie-se, você não gosta da sua voz.
você planejou ser escorregadio, mas as vezes é pegajoso, as vezes é arrogante, parecendo corajoso, mas você se conhece, sabe que ainda é, apesar da casca dura, um muleque medroso.
a maior parte do tempo, odeie o tempo.
e se o caminho mais curto para sair fosse escrever alucinadamente? acho que não.

quinta-feira, novembro 02, 2006

i thought that you was wrong
but only time will tell.
i thought life is short
but time sometimes looks like hell.

ad infinitum

cretinos, sacerdotes, administradores de empresas, empreendedores, modernos, estudantes em geral, trabalhadores do terceiro setor, espertinhos, fanfarrões, pessoas que abusam da paciência alheia, que falam muito, que são hiperativas e não fazem bosta nenhuma que presta, pessoas inertes e sebosas, juízes da moral em plantão 24h, políticos, anti-políticos, boêmios, caretas, artistas, intelectuais bossais, malandros, quadrados, políciais sem distintivo, opinião pública, criticos de qualquer coisa, mendigos e milionários, grávidas e mulheres sem ovário, homens sem huevos, homens que praguejam ao pé do ouvido, machões que fazem análise de risco, motoristas que lustram o carro como se fosse uma rôla grossa, aqueles que estão inseridos em estatísticas, aqueles que não vomitam, patéticos, introspectivos, autistas, portadores de deficiência de caráter (sic), esportistas, niilistas, bons de bola, filhos da terra, maconheiros, estrangeiros, descendentes, mamíferos, dançarinos, atores de teatro, bibliotecários, pedagogos, vendedores de livros, editores, filhos da puta em geral... eu odeio vocês e toda sua laia.

eu chamo isso de exercício da memória.

domingo, outubro 29, 2006

giant steps

devagar, devagar...
passos gigantes estamos prestes a dar.
a ilusão do que pode ser imenso
esbarra no perdido, no pretenso.

sábado, outubro 28, 2006

domingo, outubro 22, 2006

se eu fosse um enrolado
me chamaria leonardo
se esse enrolado fosse um babaca
me chamaria leonardo prata.

quinta-feira, outubro 19, 2006

pedaços

perdido nas águas do passado
cultivo a miopia do significado
percorro as ruas de vitória
fintado pelos abismos da ruína ou da glória
onde os faróis escrevem um corajoso enredo
embora meu melhor amigo sempre foi o medo
sussurro palavras num ritmo calmo
palavras pequeninas, bem menores que um palmo

(sem ritmo mas ok)

domingo, setembro 24, 2006

in my solitude

dormi no melhor que a solidão pôde me proporcionar
até os sonhos essa campanheira me leva ao acordar
os momentos pequenos e sublimes que ela vem me contar
falando baixinho e devagar para só eu escutar,
não sei porque, mas não consigo expressar.
assim no silêncio, quem consegue sequer imaginar
a melhor maneira para se contar?
os segredos que as noites solitárias insistem em cantar.

segunda-feira, setembro 18, 2006

descompasso

um salto qualitativo dado fora do tempo e espaço
um delírio imaginativo ou só embaraço?
nesses dias de descompasso,
o que que eu faço?
acostumado ao parado, regulo meus passos
inquieto nunca calado, finjo, disfarço.
falo sobre o que não sei, abro o que não dei.
nesses dias de descompasso,
o que que eu faço?

cansei de tentar fazer disso algo razoável.

segunda-feira, setembro 11, 2006

sambinha da memória fraca

hoje vesti as roupas de uma felicidade fugaz
só para poder me destrair
já que a verdade está longe demais
e eu não quero sair; daqui.

entre memórias e esquecimentos
só restam pequenas glórias e tantos tormentos
já não me recordo mais
daqueles saudosos tempos de paz.

hoje torci para que minhas virtudes prevalecessem
para que os sofrimentos se desintegrassem
mas só a inércia me visitou
só a inércia me visitou.

quinta-feira, agosto 17, 2006

Equilíbrio Infernal

Ciladas Temporais

1.

Já vivencie em vários momentos a sensação das palavras envelhecerem. o que chamei de engavetar sentimentos, conserva, de alguma maneira, aquilo que de fato já adoeceu, mas que em rodopíos frequentes, trazem em minha mente o gosto que era teu. o significado que dou a isso já não te interessa mais é o perfume fugaz de um tempo que jamais irá voltar. essa é minha brincadeira com o tempo, um jogo particular que tenho com meu passado que as vezes esbarra num enroscado de pernas, numa carícia mais tenra ou em beijos delicados. Se o corpo já é uma prisão para alma o que dizer quando a palavra seca, a voz cala e a mente peca?

2.
se tivesse um nome de acordo com a realidade
esse nome seria saudade.

3.

eu naufraguei, em algum lugar ou amor passado, em algum copo ou baseado.
já naveguei, sem destino e amedrontado, temendo os meus pecados.
mas ainda sou novo e consigo sorrir, mesmo das tempestades do porvir.
e quem branda contra a minha loucura que olhe para si mesmo e aceite a sua.

4.
coisas estranhas tem passado pela minha mente, estranhos sentimenos e formas inusitadas de enxerga-los. óbvio que tudo isso pode significar algum momento idiota que você simplesmente deveria ignora-lo ao invés de ficar digerindo por dias. é que esse lance de tentar ser o dr. manhattan tem fodido minha cabeça... eu tinha uma concepção do tempo e história que me parecia razoável e confortante, emprestada de um historiador gente boa. mas o manhattan me parecia mais interessante, embora dificil de ser aplicado... a idéia de que as coisas ainda estão acontecendo, mesmo no passado, tem me provocado reações estranhas. Em tentativas de cartografar todos movimentos e possibilidades no tempo e espaço, mesmo o movimento de coisas que não existiram ou deixaram de existir, de histórias que não foram contadas ou de vidas que não vivi têm me levado a ver a vida como um jogo de xadrez e não gosto de pensar nela dessa forma porque eu jogo xadrez mil vez melhor do como eu levo a vida.
Como não lido com "peças", a teoria do "xadrez da vida" deveria cair por terra embora eu possa estar analisando possiveis reações e bla bla bla... mas isso seria idiota da minha parte. A metáfora do xadrez só é válida quando você consegue enxergar o tabuleiro com outros olhos, usando menos matemática e mais poesia.

5.
mesmo agora que já não faça mais tanto sentido
eu vejo o tempo sendo tragado
e o significado abandonado
as custas de um engano prometido

me zanga teu equilíbrio forçado
como quem compra um rebolado
e calça sandalias novas para dançar
esse silencio evocado.

6.
Mil noites com o tempo parecendo cacos de vidro
Com o silêncio agudo como um ruído
Mil goles brindando o delírio
Mil amores para achar o equilíbrio.

Ciladas Espaciais

1.
Quantos significados beijos e abraços
deram aos meus espaços?
E a saudade que tece seus traços
entre minhas entranhas, tijolos, asfaltos e braços?
Pode essa minha cidade; sobreviver
aos amores dessa mocidade?
A reconstruir constantemente, se for necessário.
Nunca sem amor, muito pelo contrário.

2.
existe uma cidade identica à vitória que por trás da realidade, invisível em sua forma e conteúdo, nasce e morre todos os dias ao contrário da slow death da cidade oficial. essa vitória invisível com seus sonhos mudos e seus diálogos nadaístas não tem medo de morrer, seus sonhos duram o necessário para amanhecer um outro dia.
é a cidade das prostitutas, dos mendigos e dos pivetes. a cidade dos que se perdem em sua rotina ou sentam num banco só para ver o tempo passar. é o desvio, o medo e o delírio. está fora das caixas de ferro motorizadas, dos engravatados, dos mapas oficiais e dos cartões postais.

3.
por mais que os monumentos erquidos ao ego tentem transparecer uma validade muito maior que seu merecimento por causa da suas armaduras de concreto e seus cálculos com margens de risco acima da média, sabemos muito bem que sua função inicial e importância evaporam-se tão rápidos quanto o mijo de um vagabundo no sol quente de todas as estações. ao uso coube o improviso como aquele que lida com o o novo a cada instante.


Por Juan Del Lírio
viciosimorais@yahoo.com.br

uma compilação fragmentada de textos para o zine True Lies

segunda-feira, julho 17, 2006

dialética

cada passo é como uma minúscula peça de um quebra cabeça que venho construindo há 24 anos, nuances por muitos não percebidas que revelo conforme meu humor, sentimentos que mostro conforme minha intimidade e desejos. de tal forma que não construo mais do que sou construído, não encanto mais do que sou encantado e não bebo mais porque já estou embreagado.

terça-feira, julho 11, 2006

folk da caminhada noturna

many times, many roads
many deaths, many thoughts

i always cross the city with cigarettes in my pockets
with my mind flyiiiiiing as an rocket

every street has a secret
every corner too many wishes


moon is burning my night reason
the dawn is coming to fight against the season

domingo, julho 02, 2006

realidade

se tivesse um nome de acordo com a realidade
esse nome seria saudade.

(será que isso ja existe?)

sábado, junho 24, 2006

manhãs colossais

as manhãs colossais são construídas de momentos sublimes quando você parece reger o universo, mergulhado nos mais profundos oceanos, embreagado sobre tudo. mas cada milímetro contendo uma sinceridade absoluta e infinita.
tudo isso funciona espiralmente como se fizesse sentido embora sempre partindo de uma mesma dúvida. nuances e sutilezas, maestralmente postas em movimento é a idéia que mergulha e retorna, seca para um novo pulo.

domingo, junho 11, 2006

sambinha da mulher amada

me permite,
hoje eu quero ser tão triste quanto eu puder.
afinal,
não existe mal melhor que uma mulher.
me deixa,
gravar esse samba, para poder lembrar
que um dia,
na minha mocidade, sofri de tanto amar.
pois é,
só sei que te amo
mesmo
perdido nesse pranto.
então
eu alcanço
o céu no momento que canto
mesmo perdito nesse pranto.
será que a minha filosofia
consegue ao menos um dia
compreender o absurdo desse amor
que sem razão nenhuma só me trouxe
até agora essa dor.

rima bêbada.... perdida num oceano de cerveja.

sexta-feira, maio 26, 2006

um oceano de uísque

eu naufraguei, em algum lugar ou amor passado, em algum copo ou baseado.
já naveguei, sem destino e amedrontado, temendo os meus pecados.
mas ainda sou novo e consigo sorrir, mesmo das tempestades do porvir.
e quem branda contra a minha loucura que olhe para si mesmo e aceite a sua.

quinta-feira, maio 25, 2006

dos meus paraísos artificiais.

o tempo nunca esteve do meu lado, acredito que ele nunca esteve do lado de ninguém, como diz a famosa frase "le temps détruit tout" e é assim que a banda toca. mas existem aqueles paraísos artificiais, lugares onde você se esconde do tempo, abraça o infinito e contempla o delírio. as vezes mergulhado em um bom gole, ou enfumaçado por um delicioso aroma vindo de cabrobró, nessas ocasiões outro ritmo nos toca, pela lembrança ou esquecimento somos guiados e a razão perde espaço, se deixa levar nesse barco ébrio que é a mente sob efeito das substâncias. o gosto pelo infinito rege os homens descompromissados com a mesquinhês dos tempos modernos, quando falam vagabundo, dizem de boca cheia, viram copos, e assassinam o tempo em mesas sujas de bar. Uma linha tênue separa o infinito do abismo e infelizmente é o maldito tempo que irá nos mostrar isso, mas só quando acabarem os doces paraísos artificiais.

(continua um dia)

quinta-feira, maio 18, 2006

tempestades primaveris

por alguns segundos escapa-me como uma brisa, mas em seguida volta para mim e volta como uma enorme tempestade que atinge meu corpo que sente como tudo isso é estranho e forte e físico. confesso que fico assustado e medroso, nunca a incerteza me pareceu tão angustiante e insuportável, como um naufrago que revê seu amor pelo mar no meio de um deserto oceânico. Se tudo isso tem uma razão, inracional que seja, aparece para mim como um desafio, talvez o maior que já enfrentei e como isso me excita. Não pelo desafio em si (que ultimamente tenho evitado), mas pelo o que ele alcança dentro de mim.

corrigir e organizar.

sábado, maio 06, 2006

poeminhas

venha comigo
eu conheço um abrigo
onde eu posso te amar
o que você então vai achar
se é triste ou engraçado
que o nome desse lugar
seja passado?

---
te amo tanto
te amo tanto que dói
como a maresia que corrói
vinda do oceano de meu pranto.

poesias em construção, nunca pensei que fosse escrever uma sequer. obrigado vinicius

terça-feira, maio 02, 2006

a cidade escreve um nome

existe uma cidade identica à vitória que por trás da realidade, invisível em sua forma e conteúdo, nasce e morre todos os dias ao contrário da slow death da cidade oficial. essa vitória invisível com seus sonhos mudos e seus diálogos nadaístas não tem medo de morrer, seus sonhos duram o necessário para amanhecer um outro dia.
é a cidade das prostitutas, dos mendigos e dos pivetes. a cidade dos que se perdem em sua rotina ou sentam num banco só para ver o tempo passar. é o desvio, o medo e o delírio. está fora das caixas de ferro motorizadas, dos engravatados, dos mapas oficiais e dos cartões postais.

1.2
por mais que os monumentos erquidos ao ego tentem transparecer uma validade muito maior que seu merecimento por causa da suas armaduras de concreto e seus cálculos com margens de risco acima da média, sabemos muito bem que sua função inicial e importância evaporam-se tão rápidos quanto o mijo de um vagabundo no sol quente de todas as estações. ao uso coube o improviso como aquele que lida com o o novo a cada instante. (cartografias do alcool)

quinta-feira, abril 13, 2006

tentativas de análises ou insanidades analíticas


coisas estranhas tem passado pela minha mente, estranhos sentimenos e formas inusitadas de enxerga-los. óbvio que tudo isso pode significar algum momento idiota que você simplesmente deveria ignora-lo ao invés de ficar digerindo por dias. é que esse lance de tentar ser o dr. manhattan tem fodido minha cabeça... eu tinha uma concepção do tempo e história que me parecia razoável e confortante, emprestada de um historiador gente boa. mas o manhattan me parecia mais interessante, embora dificil de ser aplicado... a idéia de que as coisas ainda estão acontecendo, mesmo no passado, tem me provocado reações estranhas. Em tentativas de cartografar todos movimentos e possibilidades no tempo e espaço, mesmo o movimento de coisas que não existiram ou deixaram de existir, de histórias que não foram contadas ou de vidas que não vivi têm me levado a ver a vida como um jogo de xadrez e não gosto de pensar nela dessa forma porque eu jogo xadrez mil vez melhor do como eu levo a vida.
Como não lido com "peças", a teoria do "xadrez da vida" deveria cair por terra embora eu possa estar analisando possiveis reações e bla bla bla... mas isso seria idiota da minha parte. A metáfora do xadrez só é válida quando você consegue enxergar o tabuleiro com outros olhos, usando menos matemática e mais poesia.

sábado, março 11, 2006

o segredo da melodia e a melodia do segredo

a vida é como uma melodia, ela é ritmo, um movimento que por natureza é incontrolável, mas como você não é um vegetal, você pode seguir o ritmo dançando, as vezes fora do tempo ou pisando no pé da parceira, ou você pode pegar um instrumento e tocar. nenhum dos dois são fáceis e todos estão à mercê do imprevisto, então se prepare pro free jazz da vida.
se você exercitou sua percepção ao longo do tempo é capaz de, em momentos sublimes, arriscar sobre o futuro, com uma creteza que chega a ser assustadora. como se você, soubesse a próxima nota, antes mesmo de escuta-la uma vez sequer. essa sensação é intrigante e confesso que a sinto em momentos muito transparentes, na beleza da simplicidade ou quando sou completamente tomado por algo. não dizem respeito a grandes coisas do mundo, mas as grandes coisas em mim mesmo. quando sinto que estou esculpindo o tempo e isso é mágico. é o que eu tenho para dizer.

quarta-feira, março 08, 2006

600ml de sinceridade

testemunho aqui minha apologia ao alcool.

sábado, fevereiro 18, 2006

AS METAMORFOSES DO VAMPIRO

(Charles Baudelaire)
E no entanto a mulher, com lábios de framboesa
Coleando qual serpente ao pé da lenha acesa,

E o seio a comprimir sob o aço do espartilho,

Dizia, a voz imersa em bálsamo e tomilho:
- "A boca úmida eu tenho e trago em mim a ciência
De no fundo de um leito afogar a consciência.

As lágrimas eu seco em meios seios triunfantes,
E os velhos faço rir com o riso dos infantes.
Sou como, a quem me vê sem véus a imagem nua,
As estrelas, o sol, o firmamento e a lua!
Tão douta na volúpia eu sou, queridos sábios,

Quando um homem sufoco à borda de meus lábios,
Ou quando os seio oferto ao dente que o mordisca,

Ingênua ou libertina, apática ou arisca,
Que sobre tais coxins macios e envolventes

Perder-se-iam por mim os anjos impotentes!"

Quando após me sugar dos ossos a medula,
Para ela me voltei já lânguido e sem gula

À procura de um beijo, uma outra eu vi então

Em cujo ventre o pus se unia à podridão!
Os dois olhos fechei em trêmula agonia,

E ao reabri-los depois, à plena luz do dia,
Ao meu lado, em lugar do manequim altivo,

No qual julguei ter visto a cor do sangue vivo,

Pendiam do esqueleto uns farrapos poeirentos,

Cujo grito lembrava a voz dos cata-ventos

Ou de uma tabuleta à ponta de uma lança,

Que nas noites de inverno ao vento se balança.

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já estava na hora de ter algo bom escrito aqui.
Engraçado que esse texto não podia cair em minhas mãos em hora mais apropriada.

sexta-feira, fevereiro 17, 2006

point of no return


quando você pára e, por alguns segundos, olha para trás e isso só te faz andar para frente incontestávelmente, é óbvio que você chegou num ponto sem retorno. se você fez tudo direitinho, mesmo sem saber o amanha esse é seu caminho, por dois motivos, (1) é tudo o que você tem e (2) é tudo o que você poderia desejar. então, qualquer questão sobre o que fazer nessas horas parece idiota e pequena, mesquinha demais para sua alma. porque no fundo você sabe. você simplesmente sabe. parecido com uma música que você sabe tocar perfeitamente e você fecha os olhos e toca. cada nota, tempo e sentimentos entrando e saindo pelos seus dedos de maneira fluida e intensa. parece que você controla tudo nesses momentos, mas não é nada disso, na verdade você não controla nada, nem uma vírgula... as coisas simplesmente vem e vão, mas tudo esta tão perfeitamente encaixado que você solta o volante e só vai. pulamos o mesmo pulo e só desejo cair do seu lado.

sábado, fevereiro 11, 2006

em cada conversa, uma parte de nossa história secreta

Agora pago pelos maus tratos que fiz ao Destino, os 24 anos zombando sua existência uma hora provocariam sua ira. Aquele que encaminha toda uma vida para o incerto por certo que ofende esse sujeito, mas o importante para se saber dessa entidade onipresente (assim também com as outras) é o seu enjôo absurdo do teatro sem graça que é a humanidade. Esse tipo de cara esta de saco cheio, só vai se importar com você quando tu quiser fuder com ele, mas sua resposta não é uma maldição insuportável... é mais sutil e com altas doses de sarcasmo.
O destino geralmente ofende aqueles que não se contentam com um aspecto dominador de suas próprias decisões, ou seja, mesmo diariamente assumindo escolhas, as mesmas não podem sonhar em dominar meu espírito. Afinal de contas, quem é o capitão desse navio? Existe, para meu espírito, uma única maneira de continuar voluntariamente em algum caminho, o mesmo precisa ser intenso. E pode parecer fácil achar isso, mas nesses dias quando o tédio quase que exclusivamente gerencia a vida, intensidade é uma raridade.
Dessa forma
já faz anos que me vejo perdido, me agarrando em futilidades para freiar a qualquer custo o caos, mas toda vez que casei com futilidades do divórcio só herdei o cinismo. Assim, minha busca tornou-se achar uma fórmula para se mover intensamente. Um estado de espírito que facilitasse as coisas, custando alguns relacionamentos, descobri que preciso estar constante e completamente apaixonado. Quanto mais a paixão me empurra para o abismo da loucura mais ela move minha vida do jeito que eu gostaria.
Assim nós vamos, a cada conversa, construindo nossa história secreta, aquele universo infinito enquanto for apaixonante.
Depois eu conto porque o Destino é um canalha.

quarta-feira, fevereiro 08, 2006

get the road, get the fucking road!

hoje sou uma espécie de road junkie com crise de abstinência, já faz uns 2 anos que não viajo. E quando a sua própria cidade vira parte do enredo de um amor fracassado, a necessidade de se mandar daqui aumenta drasticamente. Eu lembro quando as ruas escreviam seu nome e tudo era apaixonante, mas hoje minha ilha esta sem graça. Carros, rostos tristes e toda espécie de filhodaputa conseguem me deixar de mau humor. Eu sabia que isso podia acontecer, quando tudo que apostei nesse relacionamento foi minha percepção da cidade, da minha cidade.
Lembro quando tudo isso começou, antes da ruina, eu estava procurarando uma palavra para definir minha cidade. Do mesmo jeito que Saudade define Lisboa, precisava encontrar a palavra-chave que todas as noites o movimento dos faróis escreviam pelas ruas. Ainda hoje acho que essa palavra seja encontro, mesmo sabendo que isso, hoje, perdeu significado para mim. Porque tudo que procuro hoje esta longe daqui e essa busca exige uma urgência assustadora. Eu preciso pegar a estrada.