quarta-feira, dezembro 24, 2008

uma historinha iluminada

Era uma noite escura e sem lua, Brenner ao sair da sala iluminada pensou "Será que meus olhos um dia não se adaptarão à escuridão?", continuou caminhando e, alguns passos mais adentro na escuridão, tropeçou numa pedra e enfiou a cara no barro. Ao limpar a sujeira do rosto e da roupa parecia ter descoberto a resposta.

sábado, novembro 22, 2008

fotogratextos

Aqui estão pequenos textos e diálogos fictícios que escrevi influenciado por imagens. Escrevi-os direto na internet e por isso não contém nenhuma espécie de revisão. Continuarão assim até que a vergonha ou a sensatez me faça apagá-los, mas como alguns de vocês que me conhecem sabem, sensatez nunca foi meu forte.

- me empresta o pano. - disse o motorista
- maldita tempestade de areia. - disse o co-piloto.
- pelo menos quebrou o tédio da estrada.
- falar do tempo sempre me deixa encafifado sobre a estupidez das minhas palavras, mas confesso que trocaria qualquer palavra, mesmo as inteligentes, pela simples observação da paisagem.
- deixa de ser retardado, eu fico o tempo todo concentrado nessa faixa estreita e continua de asfalto enquanto você deixa seu pensamento vagabundear pelas planícies. A paisagem também é um resultado do "tempo", assim como nosso diálogo.
- depois vai ser minha vez de dirigir e você pode fazer o mesmo.
- não tem graça.
- dirigir é que não tem graça.
- não tem graça ficar em silêncio, eu digo.
- e eu me preocupava com a estupidez, mas ok. Pense no seguinte, estamos enfurnados neste veiculo no meio do nada, estamos indo para lugar nenhum e provavelmente quando lá chegarmos teremos que lidar com os mesmos demônios que enfrentávamos antes.
- não podemos fugir de nós mesmos.
- isso, mas o pior de tudo é que o automóvel é a invenção mais estúpida para o movimento. é um maldito aquário com rodinhas.
- tá, mas vamos ao menos cruzar o deserto... ai nós pegamos uma carona ou andamos a pé.
- tanto faz, só não exija um diálogo nessa pocilga.

Conheci um sujeito interessante que fazia historia, mas não via o tempo passar.

- eu não nasci para existir.
- desistir?
- Existir, eee-xistir. Saca? Até tenho saco para toda essa merda, mas minha parede estomacal é fina igual uma seda... por isso eu sou uma "mocinha" em alguns sentidos.
- vixi cara que onda, esse lance de desistir é mó palha.. você quer conversar?
- nem um nem outro.
- qual outro? só falei de conversar.
- o outro é ter que te ouvir.
- vixi cara, você tá mal hein? é aquela tal febre de estômago que você tanto fala te atacando denovo?
- nem é... sabe o que aconteceu?
- não.
- o dia foi bem longo e por dia eu entendo, não o período em que o sol ilumina meu pedaço de terra, mas o tempo em que tenho as pessoas e sua radiante mesquinharia no meu horizonte.
- por isso você é um cara "noturno"...
- por isso que eu to saindo fora bixo.

Num piscar de olhos toda intimidade sumiu, não queee... tenha se transformado em vergonha ou antipatia, não foi isso. Sumiu! Desaparecemos um para o outro, nos perdemos ou separamos, não sei ao certo. Foi coooomo se o universo fosse tão grande como falam e tão conspirador como pretendem.

madrugada escura, ruas que pela manhã são grosseiramente barulhentas agora estão assustadoramente silenciosas. a idéia fixa do perigo as vezes escapa numa lembrança da noite ou numa idéia ébria sempre acompanhada de um sorriso zombeteiro. Se a sorte estivesse comigo não estaria andando pela madrugada e o pior junto com a escória paranóica do crack. Tudo que fiz foi ser azarado e displicente. Esse maldito clima policial, mais uma ótima oportunidade para ser mal sucedido. Sem a percepção dos policiais e a astúcia dos bandidos sou um alvo fácil para o mau-caratismo. Relógio parado e no meu bolso um canivete que não tenho a menor noção de como usá-lo. Quero acreditar que ele vai salvar minha vida, mas sei que descascará uma centena de laranjas e não conhecerá uma gota de sangue. Maldita atmosfera policial, preciso arrumar uma namorada.

Esse sol não era bom para a plantação de trigo, mas se deus quis fazer da terra uma frigideira quem sou eu para contestá-lo. As criações já demonstram algum nervosismo, não sei como escrever sobre isso mas sinto que os bixos domesticados começam a reavaliar esse acordo primitivo que fizeram com os homens. Se deus quis que esse acordo fosse revisto justamente na minha geração, quem sou eu para contestá-lo! Parece que uma pergunta há muito tempo deixada de lado simplesmente cansou de esperar e, já não procura uma resposta, na verdade esta cobrando pelo nosso silêncio. Meus cavalos (trovão, crespúsculo e batucada) continuam cavalgando com a mesma disciplina, mas o som que sai dos seus cascos parecem tambores agitados da revolta. Ainda bem que Orwell me alertou de uma revolta animal. Comprei um belo rifle Hawkin para me defender. Mas se todos animais se revoltarem e o sentido de comunidade da fazenda evaporar pelo ares, terei eu coragem de mata-los todos? Vai saber. O primeiro gesto que poderia ter tomado, já o fiz. carreguei aquele rifle e fiquei com os olhos bem abertos. Tomara que os cachorros não mudem de time, porque os porcos já me exigiram mais ração para manter o bico fechado nos tumultos.

- Cansei de tentar entender essa cidade - disse o prédio mais alto.
- É complicado se você parte de um referencial estático.
- Isso deveria conferir à minha interpretação uma estabilidade necessária ao entendimento.
- Esse não é o espírito do nosso tempo. E mesmo assim, quem disse que você está exatamente estático, nesse momento tem toda uma ação do tempo correndo seu âmago.
- Você ainda pensa em espírito soterrado por tanto asfalto e concreto?
- O paradoxo joga conosco, né?
- Tudo está assustadoramente vazio, a existência parece uma piada de mau-gosto e mesmo assim a idéia de jogo, por mais rasteira que seja, ainda encanta um número enorme de construções desencantadas.
- Como assim?
- Veja, somos escombros, somos amigos e na maior parte do tempo não precisamos desses mecanismos, mas se aparece um terceiro edifício nós ficaremos tentados a jogar. Tentar influenciar o comportamento alheio, sugerir, ironizar e, caso esse terceiro prédio seja uma bela Biblioteca ou Taberna o jogo ganhará uma conotação sexual que sem um desenlace correspondente só reforça a miséria do cotidiano urbano.
- É a arquitetura egoísta. Isso está em nossos pilares – disse o prédio baixinho de escritórios.
- E como você explica os condomínios?
- O egoísmo me parece uma inveja que reflete para dentro, uma auto-imagem que se mantém, mas ainda assim precisa de algo exterior para existir. Você só pode ser egoísta em relação à outra construção. Não sei direito. O princípio é supostamente autônomo, mas a rivalidade interna que ele suscita – a afirmação individual do edifício em contraponto com a sua integração à cidade – demole intrinsecamente sua auto-justificativa.
- Você não acha que isso é pensamento demais para nossa caixa d’água?
- Não sei, tomara que nosso arquiteto tenha feito um cálculo estrutural para agüentar toda essa merda.
- Tomara.

Gostava das florestas. Agradava-lhe caminhar perdido entre pedras, árvores e bichos, mas gostava principalmente de se sentir arranhado e "sufocado" (embora cheio de ar) pela vida. Não pensava na natureza como uma espécie de senhora bondosa, gostava da idéia de força, vingança e sobrevivência. Se a natureza fosse uma mãe ela seria uma mãe com muitos filhos, tantos que eles mesmos deveriam tomar conta uns dos outros, ela era livre da moral e da culpa. Talvez se arrependesse de uma filha em particular, a humanidade, mas isso é outra história.
Essa que conto é a história do Niño Lobo, o garoto amante das florestas e das derivas no mato, ele preferia quando era uma longa e alucinante descida, pois jogava-se por entre as galhas em alta velocidade, quanto mais se arranhava mais sentia seu corpo impenetrável. Por mais que espinhos e pontas de galho as vezes se comportem dura e violentamente, sentia-se como uma pipa cortada flutuando levemente pelo céu. Gostava da floresta porque um dia achou um "pé de gente" e sempre que queria uma mina pegava ela madurinha no pé.


ps.: também gostava dos feixes de luz que atravessavam as folhas.



- se te dissesse que nunca mais serei o mesmo.
- não sei o que isso significa, mas acho que você deve escrever isso.
- quantas vezes?
- quantas forem necessárias para limpar sua alma.
- não tem papel, madeira ou areia de praia suficiente para isso.
- se precisa escrever tanto assim é melhor começar logo.

sexta-feira, novembro 14, 2008

"deixar para fazer as coisas na última hora pode ser o momento ideal para fazê-las apenas uma vez"

do jeitinho.

segunda-feira, novembro 10, 2008

"o senso comum parece uma grande conspiração e pior, pode funcionar como tal."

da paranóia.

domingo, novembro 09, 2008

redução no estômago diminui a gastrite.

Essa é o tipo de certeza que não fazia a menor diferença para existência, mas gostava de pensar que aquela menina realmente me odiava. Nunca vi sorrisos e respostas confirmarem tanto essa impressão. Não sabia se estava certo, mas não estava muito longe da verdade. Se aquilo tudo era charme, merda!, a existência realmente alcançou as raias do patético. Eu simplesmente queria ver aquilo tudo mais de perto, queria sentir aquilo tudo mais na pele. Não me importava de ser parte do ridículo, não me importava em ser parte da piada. A vida era uma loucura-de-mão-dupla e, simplesmente, não optei por fazer o papel de leva-e-traz desse tipo de insanidade. Estava mais uma vez deslocado, nem era por causa do ódio característico do seu olhar, aquilo simplesmente me acolhia porque gostava de senti-la me odiando bem próximo. Sentia-me desconfortável somente quando o seu convite para a convivência me colocava numa espécie de sinuca de bico, quando seu ódio era uma mensagem criptografada, inteligível somente para seus amigos mais antigos.
Dulce era doce, mas nada adoçava seu olhar envenenado. Ela gargalhava como se aquilo fosse um privilégio, uma exclusividade da sua pessoa, isso fazia do meu estômago um cárcere da revolta. Minha consciência procurava dezenas de motivos para acreditar que ela era traumatizada, que fazia aquilo numa vingança contra o mundo quando, na verdade, ela simplesmente fazia da nossa intimidade o adubo de seu prazer malicioso.
Minha mão queria esmagar a dela, meus olhos queriam incendiar sua alma. Eu era um homem ridículo, mas se esse ridículo fosse exclusivamente meu, aceitaria de coração. Talvez ele até fosse exclusivamente meu, eu queria ser a porra do lobo da estepe, não queria? Mas antes disso, antes de colocar esse projeto em andamento eu.... eu tinha amigos, tinha mulheres, tinha família... onde eles estavam? Eu sei a resposta. Soterrados na minha própria insanidade.
Um princípio de convulsão começou a se apoderar de minhas células, músculos e papilas.
Precisava encontrar alguma calma. Precisava encontra alguma frieza.
Queria odiá-la, mas isso não era o papel social dela?
Queria responder mais do que perguntar, queria me sentir ignorante novamente. Eu sei o tanto que aquilo fazia bem para o meu espírito elevando-o até passar por cima de toda pretensão gentalhesca.
Ladainha.
Você foi a última pessoa por quem me apaixonei e provavelmente será a última. Não pense que sou piegas ou dramático dizendo isso. Por favor, não grite ou discorde de mim. Não te incomodo muito e só digo isso para impedir que o vazio se apodere de mim. Ele é infinitamente mais doloroso que qualquer ataque seu. Você só precisa esperar até isso acontecer novamente, até que eu me apaixone por outra pessoa de novo. Que ela me odeie ou ame, dane-se. Você me desculpe, mas preciso acreditar que essa paixão por você será eterna independente de toda rejeição, desprezo, mau-caratismo, deboche, ironia e maledicência que você, meu amor, tenha proferido. Você não precisa me atender no telefone, não precisa ler meus emails ou conversar comigo, eu só peço que continue ai, do jeito que você está em minha memória. Por favor!
-... (um grunhido diz alguma coisa que só eu consigo entender e que é simplesmente intraduzível)
-Impossível!? Quem disse esse absurdo!?
-.... (novamente)
-Minha própria memória? Não é de hoje que me sinto traído por essa meretriz!
- ....
-Se você não é exatamente aquilo que contive em minha memória por quem estou apaixonado? Isso tudo era uma miragem desde a sua origem?
- Você é viciado na sensação de estar apaixonado, independe o “conteúdo” ou melhor, independe a “outra”.
- Por que só agora você se manifesta?
- Porque me cansei do seu egocentrismo.
- E quem é você?
- Sou sua ressaca.
- Prazer.
- É todo seu.

sexta-feira, novembro 07, 2008

"parar com um vício faz você se sentir forte, se entregar a ele faz você se sentir acompanhado"

da nicotina.

quarta-feira, novembro 05, 2008

buteco dos conhaques uivantes

Como se uma voz sussurrasse no meu ouvido e, tinha tempos que não escutava um doce sussurro. Apesar do tom suave e do sotaque encantador a mensagem era sinistra e bagunçada, dizia caoticamente: "there's no chance, ça vá? Go! e foda tout ao seu around, você avez understand, mané?" Eu coçava os olhos e tentava entender da onde vinha aquela mensagem que, a cada pegada no copo, quando meu foco se concentrava nas cores do conhaque e na imagem do fundo que começava a se revelar, era repetida e embaralhada cada vez mais dentro da minha cabeça.
Esse tipo de confusão mental eu, geralmente, reservava para os momentos solitários de ajuste de consciência. Como pude perceber esses ajustes nunca foram eficazes e sempre ignoraram pedaços enormes da minha existência. Dessa vez a enxurrada de idéias escolheu um antigo bar que freqüentava e para evitar os efeitos catastróficos me perguntava inocentemente que tipo de "silêncio" anunciava essas tempestades. Esse é o tipo de pergunta que faz de você uma mosca morta no meio duma briga, um panaca diante de um flerte e uma piada diante da ironia.
Voltando ao bar, do meu lado tinha uma menina e um rapaz afeminado, como a voz parecia feminina, mal terminei uma golada e me virei diretamente para ela. Era o tipo de sussurro que tem que ser dito bem perto do ouvido. Achei que com esse gesto ágil conseguiria pegá-la no flagra, mas foi assustador quando a vi com o olhar completamente distante.
Outro gole, mas esse foi menor porque a bebida já estava no final. Esperei lendo o fundo do copo que a voz voltasse a pronunciar algo, mas foi da minha boca que sairam algumas palavras pedindo um "outro conhaque, por favor". Alguém comentou na mesa que bebia conhaque quando tinha 15 anos. Pensei "uau" sem querer me explicar muito disse que gostava mesmo da bebida.
Distração ou socialização, não sabia ao certo. A voz parecia ter saído do meu ouvido e entrado na minha corrente sanguínea, se "a verdade está no vinho" o caos estava engarrafado com o conhaque. "Sim, é isso!" comemorei como se essa fosse uma idéia brilhante, felizmente interrompida por um "Aqui seu conhaque". Era esse o som que precedia minha tempestade, pensei. As primeiras doses vieram acompanhadas de um constrangedor "senhor", esse tipo de idiotice não era mais necessária, mas não sei porque havia reparado sua ausência. Dei um longo gole para ver se a voz voltava aos meus ouvidos. Nada. Volto a atenção para a mesa e vejo que a conversa é interessante, mas minha mente está tão turva que existe um abismo entre o pensamento e a fala. Faço uma piada infeliz, então escuto novamente "there's no chance". Concentro-me para não demonstrar o baque que foi escutar isso novamente, agora mais sussurado e próximo da minha orelha ou loucura. Fui bem sucedido porque ninguém prestava atenção de qualquer forma. Olho pro fundo do copo novamente e, ao inclinar o mesmo para beber... o líquido que parecia um mel mais fluído escorre pela parede do copo formando um desenho. Ele parece um órgão, parece um polvo, parece um câncer.
Engasgo com a bebida e para não deixar o soluço sozinho no universo faço uma careta terrível, alguém me olha com pena e desprezo. Penso que a pessoa não sabe se expressar direito. É patética e paradoxalmente ambígua. Com certeza quer agradar a opinião pública. Eu sou apenas ridículo e isso é simples, é puro, é cristalino. Tento pedir outro conhaque, mas o garçon me ignora. Esse tipo de atitude me tira de qualquer lugar. Estou ousado porque tenho um pouco de dinheiro no bolso, hoje não preciso de cartão. Hoje eu sou o poderoso chefão. Me despeço e deixo vinte reais na mesa, penso que o conhaque é barato demais para vinte reais, mas estou bêbado demais para fazer conta. O poderoso bebão. A voz volta para se despedir da noite "there's no chance, c'est merda no tien fin, ça vá mané?". Digo "ok" sorrindo.

quinta-feira, outubro 30, 2008

pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa na vida é a oportunidade perfeita para vivê-la pela metade.

quinta-feira, setembro 04, 2008

"se o pensamento é liquido cedo ou tarde ele acha o caminho atraves da barragem."

"do jeitinho"
"para falar com a massa, o homem precisa da multidão.
para falar com o ser, o homem precisa da solidão."

de uma idéia nietzscheniana, mas aposto que é tão recorrente como a sede.

domingo, julho 27, 2008

- Você deveria pensar mais antes de falar – Disse Dulce num tom seco – talvez um pouco de reflexão traga o mínimo de censura às suas palavras. Moral não se resume a um princípio cristão, não sei se adianto um pensamento que preciso explorar mais, mas existe um aspecto de auto-preservação nas atitudes morais. Entende? - Ela continuou um pouco mais carinhosa - Esses excessos de intimidade nas suas conversas deixam as palavras com um acento desesperado e inocente.

- Preferia quando eu soava sombrio para você, pelo menos tinha um aspecto soturno e menos óbvio que o desespero. - Disse Alberto com uma indignação bastante triste.

- Dá na mesma, quando te chamei assim foi porque ainda não te conhecia direito e não acreditava que você poderia ser assim durante tanto tempo.

- Assim com?

- Com essa sinceridade covarde.

- Pelo jeito você continua amolada como se estivesse em guerra.

- E você relaxado como se estivesse em paz. Esse lance de você se expor por completo para mim é um recurso barato, sem contar que você esta expert em abstrações.

- Estou evitando pegar aquela febre no estômago que me colocava numa guerra contra o mundo, mas confesso que não sou feliz nessa missão.

- Que mundo Alberto!? Isso é uma construção da sua cabeça! O tamanho do seu mundo é o tamanho da sua dor, não percebe?

- Você parece gostar de atribuir mais culpa do que eu já me disponho a carregar, mas vai em frente... sou como um coração de mãe nesse aspecto, sempre cabe mais uma culpa.

- Tá vendo.

- Por que não analisamos - disse Alberto - um caso específico uma vez pelo menos? Se sairmos das generalidades e abstrações por um instante talvez eu me mostre até um cara calmo e ponderado - Mostrava-se mais uma vez de peito aberto e revelaria até a mais profunda intimidade desde que descobrisse algo espiritualmente - porque me parece até óbvio que as generalidades conduzam ao pessimismo.

- Que caso específico você gostaria de analisar então?

- Talvez o fato de que ainda não tenhamos trepado.

- putz.

- Ok, a minha estupidez social então.



-

domingo, junho 29, 2008

aforismos sobre a inimizade

"o avanço civilizatório pode ser resumido na progressiva transformação da inimizade num assunto burocrático"

"numa conversa entre dois inimigos quando brota um sorriso, vangloria-se a vilania."

tirei do meu livro de culinária "delícias do suco gástrico" publicado pela editora razões da bílis.

quinta-feira, junho 19, 2008

rapidas anotações sobre alucinações

"Ganhar-se-ia bastante se, pela instrução em tempo apropriado, fosse erradicada nos jovens a ilusão de que há muito a encontrar no mundo. Porém, é o contrário que acontece: na maioria das vezes, conhecemos a vida primeiro pela poesia, e depois pela realidade."Arthur Schopenhauer

Não vou perder tempo com o período dos relâmpagos que cortavam aquela terrível tempestade, nesse momento singelo e solitário todo significado ganha a força instintiva do espasmo, a compreensão lampejante é intensa e profunda como o susto. Esses dias tempestuosos antecederam uma reflexão profunda e ressaqueada da existência de Brener, uma pessoa com o olhar acostumado à escuridão não conseguia interpretar tamanho dispêndio de clareza. O efeito óptico desorientava aquele que já estava perdido.

Despedaçado o infeliz conseguiu enxergar na sua própria ruína algo de sugestivo, o esfacelamento do individualismo. Até a compaixão, que sempre foi uma virtude controversa para ele, procurou como oásis. Culpava-se por sua ignorância ao mesmo tempo em que sentia um orgulho masoquista daquelas conquistas. O mesmo orgulho que drenou sua vida e quase o matou sem derramar uma gota de sangue sequer, transformava aqueles dias numa poderosa tempestade contra o seu ser. Uma daquelas tempestades que pessoas como Conrad encontraram entre a monotonia da existência marítima. "O engano é uma benção – dizia para si próprio – nele construí minha morada e dele sou o resultado mais puro. Policiais e médicos de plantão acertadamente me acusaram de louco quando tratei da pureza sobre minhas condições, mas seus históricos serviços para a manutenção do senso comum e subserviência geral deslegitimam suas palavras. Caminhar no engano é uma parte importante do labirinto da verdade, só não achava que seria tão longo e doloroso".

Ele caminhava com um aspecto de perdido pelas ruas, não percebeu que estava chegando em casa, nem que estava falando sozinho e muito menos que lhe observavam. Quando percebeu logo tratou de não se preocupar com a aparente insanidade, mas já era tarde.. havia perdido o fio da meada.

quinta-feira, maio 01, 2008

A melhor terça-feira da minha vida.

- arrume a sua gola.
- você é linda. - disse Brener sorrindo e se aproximando da mulher num gesto que oferecia o pescoço para o concerto.
- acordou bem humorado.. que bom. - respondeu Fernanda sorrindo e arrumando a gola da camisa.
O gesto era comum como nascer o dia, mas alguma coisa naquela manhã tinha um novo arranjo. As palavras de Fernanda sobre a gola da camisa não eram doces, mas também não continham amargura. Então o que fez Brener reagir tão carinhosamente àquelas palavras? Estou me adiantando porque nesse instante nada disso era pensado, eles estavam acordando e boa parte da consciência deles ainda estava sonhando.
Enquanto ela arrumava a gola da camisa de Brener seu seio raspou suavemente no peito dele, um encontro comum para um casal, mas era uma manha com um arranjo diferente e ele se esqueceu do horário, do serviço e bagunçando toda roupa deitou abraçado a Fernanda na cama. Fizeram amor sorrindo. Ela despia, sem entender muito bem, a camisa que a poucos instantes tinha ajeitado e ele acariciava seu cabelo espalhando-o no travesseiro. A roupa dela foi mais fácil de sair porque ainda estava de camisola - só ia trabalhar depois do meio-dia - fazendo com que ele chegasse primeiro as regiões que tanto o encantaram no começo do namoro.
Ele sentia um novo gosto e ela uma nova sensação, ainda não tinham perdido o encanto um pelo outro neses 4 anos juntos, mas também já fazia um certo tempo que não acontecia algo surpreendente.
O sexo foi forte e carinhoso, ele riu quando gozou e ela tinha molhado a perna dele toda enquanto estava por cima.
Ele estava deitado sorrindo quando ouviu ela perguntar "o que foi?".
- oi? repondeu ele meio sem saber o que tinha escutado.
A manhã tinha sido mágica até agora e as vezes a mulher precisa saber a razão disso tudo ao invés de simplesmente curtir o prolongamento do momento. Claro que o motivo da pergunta é para tentar descobrir a receita para fazer repetir manhãs tão especiais quanto essa.
Fernanda beijou Brener ao ver que ele mesmo não entendia bem o que estava acontecendo, mas que estava transbordando felicidade. Se beijaram longamente e pelados começaram tudo denovo, mas dessa vez era ainda mais forte, parecia que o encaixe deles era perfeito e ela estava quente por dentro, seus grandes lábios pareciam chupar o pinto de Brener e as diferentes partes da pele dela pareciam alças feitas para as mãos dele que a puxavam contra si. Gozou e se contorceu todo rindo e tremendo, ela que já estava molhada do gozo anterior molhou ele ainda mais e deitada sobre ele ria cansada. Sua cabeça desabou sobre o ombro dele.
- eu te amo - disse ele com cara de bobo e beijando ela com a rôla ainda introduzida, a virou e se levantou para ir trabalhar, dessa vez ela não ajeitou sua roupa, nem sequer se levantou. Ficou deitada na cama em extase. Não queria mais saber de receita, estava curtindo as tremidas que suas pernas ainda faziam involuntariamente.
Brener mal chegou no trabalho e sua chefe já brigava com ele na frente de todos sobre seu atraso e a desorganização de suas roupas, mas trepar de manhã é para encarar a rotina como é o protetor solar pra ir a praia, ou um protetor auditivo para o barulho, ou o óculos escuro para olhar a intensa luminosidade.
No meio da verborragia patronal, que não tinha nada a ver com o seu humor, ele começou a pensar por que aquela manhã estava tão especial aos seus sentidos? Então lembrou do comentário de Fernanda sobre sua gola. Tentou achar alguma coisa no ton daquelas palavras e viu nelas apenas normalidade. Tentou achar naquela raspada de peito algo mais, mas os peitos de Fernanda apesar de serem deliciosos ao rasparem na camisa não eram surpreendentes..
Brener finalmente percebeu que não eram as palavras ou o encontro da pele naquela manhã que tinham atingido as profundezas de seus sentimentos, mas o olhar de Fernanda que, sempre atento e carinhoso para com ele, nunca o deixara desprovido do carinho necessário para uma existência sadia.
Ao constatar isso ele sorriu graciosamente enquanto sua chefe brigava com ele. A chefe vendo aquele sorriso engasgou, havia enxergado naquele sorriso uma verdade tão profunda de um espírito livre que sentindo-se ofendida e incapaz de antingi-lo retóricamente o demitiu ali mesmo.

Fim

Acho que é isso... agora vou bater uma... carta hehehehe.
Vale lembrar que esse blog nunca se preocupou com revisões, sintaxe, ortografia, concordância, métrica, regras, gramática, etc. Aqui é um caderno de rascunho para idéias que irei desenvolver depois que me aposentar.
Obrigado
Leonardo Prata

sábado, março 15, 2008

samba recado.

a ilusão que precede o erro
é a mesma que o mantém
a solidão que o sucede
é a mesma que lhe convém
não podemos errar juntos
que dirá vivermos assim
amores já tive muitos
agora é só o fim.
talvez esteja sendo precipitado, novamente
e a minha mente
numa brincadeira sem graça
escreve hj um recado, para o futuro
desse presente mal criado.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

It was an impulse of madness and insanity, but also an impulse of nature, irresistibly and unconsciously (like everything in nature) avenging the violation of its eternal laws. ( The brothers karamazov)

Queria dizer que sinto a sua falta, que sinto a ausência, ou seja, a presença do vazio. Você por muito tempo me pareceu confiável e hoje não sei se posso confiar em nossa intimidade, ela é por demais devastadora à minha pessoa. Peço desculpas por te escrever como se ainda fossemos amigos, isso é um defeito meu e pode trazer uma impressão errada, mas que a comunicação continue fluida e aquecida mesmo enquanto nossos corações caminharem pertubados. Todo arranjo que construo é obscuro, as vezes até mesmo para mim, o que alivia minha existência é o acaso e dele eu nada sei. Conforme o destino geral da existência fica cada vez mais restrito ao cinismo, uma antiga verdade assume novo significado social. Aquela verdade que diz que é melhor estar só do que mal acompanhado. Você era uma companhia que preenchia meus pulmões e tranquilizava minhas mãos. Eu me conheço o suficiente para não me dar uma chance, seria o mesmo que dar uma tragada, mas era disso mesmo que eu estava falando.