tag:blogger.com,1999:blog-221389662024-03-21T06:12:39.976-03:00Amansa Loucorápidas anotações sobre alucinaçõesLeonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.comBlogger92125tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-3722458269252412372015-02-12T14:15:00.001-02:002015-02-12T14:15:35.211-02:00Retratos escritosExercício de descrição de rostos, projeto para um face book de verdade.<br />
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1.<br />
Seu rosto era arredondado como se não tivesse conhecido, não digo intimamente, mas mesmo corriqueiramente, a fome. Talvez fosse o medo da fome que o fizesse comer com tanto desespero e urgência, mas independente do motivo, o cara tinha um apetite que fazia inveja a qualquer um. Esse apetite combinava com uma voz alta e um jeito de falar que lembrava alguém falando de boca cheia. Um avesso da calvície ocorria na sua face, os cabelos pareciam invadir sua testa, trazendo à sua expressão um aspecto turvo e canino. Quando um sorriso emergia de sua boca, aquele monte de dentes brancos e alinhados era uma discrepância com os pelos e sisudez das expressões. Dócil, fazia-me entender que não devia julgar um livro por sua capa.<br />
<br />
2.<br />
O aspecto roedor de sua face tornava sua desconfiança e atitudes sorrateiras ainda mais evidentes, um sorriso debochado contrastava com o gesto sempre constante de por a mão em frente a boca ao sorrir. Na brecha de tempo entre o riso que escapa e a mão que o cobre, você podia perceber a faísca de deboche e zombaria. A barba lhe era farta, mas sempre feita, como se isso o fizesse mais honesto. Evitava o olhar direto nos olhos e seu andar era também hesitante, acho que nunca fez barulho ao caminhar, talvez nem tenha tropeçado na vida, mas isso não o impedia de ser um pouco sujo, num sentindo mais espiritual. Aproveitava brechas para fazer colocações que, se analisadas adequadamente, facilmente caíam no terreno da ofensa. Seus olhos teimosamente se direcionavam para os lados, como se algo ou alguém estivesse pra chegar de supetão. Era um rosto que não inspirava confiança alguma e com certeza sofria por isso.<br />
<br />
3.<br />
A pessoa tem um rosto que acompanha seus olhos, nenhuma expressão consegue substituir a mensagem daquele olhar, a claridade da sua íris torna-o ainda mais transparente e revelador. Sua expressão ganhou contornos marcantes com o passar dos anos, suas questões se aprofundaram com as marcas de expressão. Ainda que não tenha respondido nada a que se tenha questionado, digo, uma resposta contundente para se carregar até o fim da vida, parece em harmonia com essas questões. Seu rosto não transparece ignorância, doce, sereno e claro, com lábios macios, tenta recordar minha memória, torna-a suscetível a diversas formas de desejos, mais invasivos ou não. Trabalha com o olhar, como não poderia deixar de ser, seria o mesmo que um orelhudo negando sua pré-disposição para a audição, ou uma bocuda para a fala.<br />
<br />
4.<br />
Pense num rosto engraçado, ainda que, as vezes, tentasse abordar assuntos sérios a graça da sua expressão não me permitia acompanhar a profundidade do tema. Já o vi chateado com minhas risadas que lhe pareciam sem fundamento, mas aquele combo de expressão facial e sotaque meio matuto faziam da tarefa de conter a gargalhada, uma missão impossível. Seu olhar não era aberto, as pálpebras cerravam-se nas extremidades externas, seu nariz levemente arredondado e sombrancelhas fartas tinham algo de cômico e porque não de palhaço, sentia-se bem contando causos e piadas, mas sofria ao ser sério. Não sei como brigou com a namorada, pessoa cuja cara de limão era totalmente oposta a dele, mas um dia conseguiu se libertar daquele relacionamento fajuto. Perdi o contato, mas só de lembrar do rosto dele um sorriso me visita.<br />
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<br />Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-12785581641897098842015-02-12T13:04:00.001-02:002015-02-12T13:04:19.001-02:00medo e delírio em vitóriaBoca seca e mente turva, ando por esse bairro turbulento, a avenida próspera é uma casca frágil, um quarteirão atrás dela mais uma quebrada histéricamente agitada.<br />
Coloco a mão no bolso, sinto a minha cueca lá dentro. Ela está usada, frente e verso, encostar nela é sujar um pouco mais a minha mão suja No terceiro dia virei ela ao avesso e no quarto tirei fora, coloquei no bolso, não gosto de jogar nada fora. Tenho uma cueca e um vale transporte, estou sujo, com uma ressaca acumulada por dias. Conhaque, cigarro, cerveja e maconha, me sinto podre e devo realmente estar podre. Não me recordo direito por onde andei, sei que as noites sempre acabavam naquela casa onde tudo acontecia, a liberdade era um horizonte presente e as conversas loucas nunca ofendiam, ainda que convidativa, deveria eu estar perdido nessa por dias?<br />
Já voltei pra casa, isso aconteceu há anos, mas de certa forma ainda estou naquele ponto de ônibus na madrugada. Mendigos ainda estão me pedindo um real, dou tudo que tenho, meu vale transporte. mostro minha cueca como um escudo contra o roubo, quem diabos roubaria um cara com a cueca no bolso? Digo que voltarei a pé pra casa, não sei se é certo chamar esse depósito de frustrações de casa, mas o caminho até ela é tão familiar como um lar, nesse caminho me sinto parte de alguma coisa, de uma cidade com suas neuroses e transcendências. Sinto viver esse organismo arquitetônico, cheiro sua sarjeta e nas horas raras seus perfumes mais caros, sou um exilado de todos os cosmos desse espaço, nem pobre demais, tampouco rico o suficiente. Eu sei da riqueza do encontro com os despossuídos, esse tipo de encontro que tive no ponto de ônibus, estamos com tudo o que temos, com tudo que somos. Todos os cacos e riquezas, só carregamos o que precisamos e damos valor, sejam alegrias, tristezas ou vales transportes. Já não tenho meu vale transporte, já não tem mais ônibus. Seguimos até uma encruzilhada, a esquerda um complexo de bocas de fumo, reto minha cama em forma de abismo.<br />Andar é a forma mais íntima de se relacionar com a cidade, é o máximo da nudez e transparência permitidos, sou íntimo desses fluxos, caminhei tanto que cheguei a delirar. A cidade sem filtros revela suas facetas mais cruas, esbarra-se em arestas, beija-se bocas e asfaltos. Não se estuda uma cidade, no máximo a vivemos ou vemo-la morrer.<br />
<br />Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-7448721771049930282014-01-16T01:20:00.000-02:002014-01-16T01:20:01.136-02:00o mesmo lado da moedaAlberto: Foi uma longa caminhada até o silêncio. Confesso que cheguei com minhas próprias pernas, mas não sei o quanto fui empurrado, me deixando levar e o quanto me dirigi para isso.<br />
Dulce: É triste esse lugar, né? Vejo você com um pouco de pena.<br />
Alberto: Não precisa, não me sinto triste. Me sinto comovido.<br />
Dulce: Não é uma sensação ruim no final das contas. Eu queria te dizer algo.<br />
Alberto: Se queria, não quer mais. Não precisa falar, chegamos nesse lugar juntos.<br />
Dulce: E como você não acha isso triste?<br />
Alberto: Alegria e tristeza são o mesmo lado da moeda.<br />
Dulce: Impossível, alegria é alegria e, tristeza é tristeza. Não são a mesma coisa, isso é absurdo.<br />
Alberto: Elas são o mesmo lado da moeda, porque a moeda não pára de girar. Isso não é um relativismo absurdo, está mais para um efeito ótico, saca? A moeda está girando e tristeza e alegria se fundem enquanto imagem, porque não enquanto sentimento? Quantos risos tristes e quantas tristezas com bom humor já experimentamos!<br />
Dulce: Faz um pouco de sentido, você nunca tentou fazer a moeda parar de girar? Acertar a felicidade! Essa é a meta, não?<br />
Alberto: Não sei Dulce, não sei mesmo. O que antes parecia feliz agora é triste e o que era triste parece-me feliz. Se você me diz que Cara é felicidade e Coroa é tristeza, se girarmos a moeda e der Cara, você pode acostumar-se com essa idéia, mas te garanto que, cedo ou tarde, acontecerá uma metamorfose nesse sentimento.<br />
Dulce: Isso é a natureza humana?<br />
Alberto: Não sei, é algo que eu convivo intimamente. Me conformei com essa idéia.<br />
<br />Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-63296233951639110662012-10-09T15:41:00.001-03:002012-10-09T15:41:10.139-03:00Liberdade<div><p>A liberdade logo chegará, no mar ou nessa ilha. Porque o ceu continua generoso, e o vento ainda sopra gostoso.<br>
Sou feliz ate pelas minhas cicatrizes, quantas vezes elas nao foram poderosas atrizes? Me fazendo parecer mais sofrido do que deveria, me tornando mais humano do que gostaria.<br>
Aprendi do jeito mais dificil, mas isso nunca me fez amar o sacrificio. <br>
A liberdade nem sempre eh conforto, no vazio pode suicidar um roto, que no emaranhado das suas linhas, sufoca-se na saida mesquinha.<br>
A liberdade eh o mar, a liberdade eh o que queriamos, mas nao tinhamos coragem de pedir um ao outro.<br>
Hoje as historias que me rodeiam tornam-me cada vez mais algo que muitos odeiam, a verdade esta no vinho. Na ambiguidade da garrafa vazia, na certeza da mente ebria, no momento da decisao fulminante.<br>
No coracao que insiste em bater, prolonga-se a narrativa em que rastejantes e bravos sao protagonistas de seus proprios dramas.<br>
Quem diria que poderia vestir tal camisa? E fazer tal loucura?</p>
<p>(Em construcao)</p>
</div>Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-59880400048816883262012-09-11T23:18:00.001-03:002012-09-11T23:18:53.945-03:00Louco rio<div><p>Louco rio que segue seus imperativos até o fim, inevitável destino, seu desaparecimento em águas oceânicas. Louco rio que molda rochas, mas não é capaz de voltar atras.<br>
Adiante louco rio, seu volume de certezas não o impede de cultivar mistérios em suas curvas.<br>
Louco rio, seu destino é a foça ou a foz.</p>
<p>Em processo<br>
</p>
</div>Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-22735929069629648242012-08-28T23:12:00.001-03:002012-09-04T10:07:44.641-03:00<div><p>Dane-se tudo! Todos comentários e julgamentos se você anda buscando nunca trair a si mesmo, se você acredita que pode ser tudo ou nada! Se injustiça e meio termo são sinônimos em algum plano.</p>
<p>Conhecendo a profundidade, sempre pule de cabeça!</p>
<p>Esse é um mundo louco em que tenta-se de toda forma aparentar uma normalidade fútil. <br>
Os libertários também tem suas prisões se deixam de derrubar os muros que crescem diariamente.<br>
Os autoritarios cospem tijolos e os resignados lubrificam a maquina.</p>
<p>Hoje é o dia. </p>
</div>Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-28864605551637031912012-08-02T18:14:00.001-03:002012-08-02T18:14:13.906-03:00<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Eu mudei cem vezes de nome</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Ja engordei e senti fome</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Conheci hoteis caros e a grama gratuita</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">O edredon quente e a brisa oculta</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">O luar sem dono já foi meu</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Na mesma noite insana que foi de todo mundo</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">O trovao surdo disse em voz gutural</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Que o destino ainda nao eh o final</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Quantas vezes o desvio foi meu unico caminho?</span><br style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;" /><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">Quantas vezes fui rude em busca de carinho?</span><br />
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #333333; display: inline; font-family: 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 13px; line-height: 18px; text-align: left;">
Eu sei da sinceridade que escorre no suor<br />Do fôlego coletivo que divide o fardo<br />Pois o amor só pode ser honesto<br />Pois o amor não pode ser deserto.</div>Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-70931030893481233542012-01-22T06:13:00.000-02:002012-01-22T06:13:03.728-02:00a onda infinita<i>"Certamente não', me soprava a razão." (Dostoiévski, O jogador)</i><br />
<i><br />
</i><br />
Quantos são os episódios onde a razão tem pouca eficácia? Eram tantos os casos onde ela não servia para Franco que já considerava seriamente - e aqui vemos como ele era paradoxal -, se entregar a loucura. Conforme o recorte da realidade a sua lógica, mesmo seguindo parâmetros racionais, ao invés de lhe aproximar de um entendimento sadio do mundo, empurrava-o para a mais profunda obscuridade, não existia senso capaz de frear sua teia de pensamentos. A partir de uma suposição levemente ofensiva, mesmo que sutil, dava então início a uma reunião de pensamentos em associações complexas com significados sempre cortantes. O engraçado é que foram poucas as vezes em que, por causa do pensamento, ele tenha explodido, agido e até mesmo contestado. Depois da maturidade não lembro de nenhuma mais enfática. Seus pensamentos eram seus e isso atormentava ele ainda mais.<br />
Faz algum tempo ele esta dominado por uma ideia, uma ideia antiga que assombra homens e mulheres. Como ela entrou na sua mente? Como ela cresceu como um cancer dentro do seu cérebro? São perguntas que não consigo responder, mas desconfio que mais cedo ou mais tarde ele iria cair nesse labirinto sem saída. Com esse pensamento corrosivo ele se ocupa durantes dias e noites, uma febre da mente que atinge todo seu corpo, do estômago aos fios de cabelo.<br />
Seguro de que esta sendo coerente, atravessa o inferno através do pensamento, remói com habilidade cada gesto alheio que confirma sua teoria. Nem tem saído mais para não esbarrar novamente com esse tipo gesto. Agora mistura um pouco do passado, era uma outra história, mas isso não importa. Tudo esta conectado, tudo tem que estar conectado. Esta sofrendo cada vez mais, é quando o pensamento começa a machucar que sente o poder da lógica. Franco está confiante, a ideia parece tão precisa e lúcida que chega a ser transparente.<br />
E antes que ele mesmo provoque aquilo que a covardia alheia se nega a fazer com as próprias mãos, porque mesmo que infligindo esse tipo de provocador é antes de tudo um covarde passivo. Franco desarma-se de tudo que fere, atravessa os últimos metros das sombras através de uma inércia exaurida.<br />
Sofreu, não fez nada, mas está convicto. A exaustão trouxe mais uma vez um tipo de paz que somente ela traria.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-30560057851212964752010-04-07T10:13:00.002-03:002010-04-07T11:00:57.377-03:00do abismoa imagem do abismo sempre me encantou, muito mais pelo mistério que sua profundeza esconde do que pelo convite que escuto vindo das brisas abismais. Eu tenho uma certeza misteriosa que no fundo do abismo você vai achar um espelho, mas isso é uma baita especulação. No fundo do poço eu encontrei uma pá e um bocado de lama (isso é empírico).Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-68047494296234035962009-11-12T01:10:00.003-02:002009-11-12T01:19:26.014-02:00folk da bala perdidameus joelhos se dobram igual uma esquina fudida<br />a escuridão que antes assustava agora domina<br />antes que o catarro desça e acalme meu estômago nervoso<br />meu olhar se refresca com a certeza de uma antiga maldição<br />a dor se foi com a última certeza infame<br />o sangue negro do fígado me faz sentir duas vezes mais homem <br />morrendo tudo parece duas vezes mais idiota<br />até a temida morte recebe a última chacota.<br />(cuspe)<br />tiro o chapéu, quero sentir o chão com minha testa.<br />meu último som oco para acabar com a festa.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-9432744666409422622009-09-02T00:06:00.001-03:002009-09-02T00:07:37.154-03:00Consumido pelo fogo<span style="font-style:italic;">"Os homens receberam seu eu como algo pertencente a cada um, diferente de todos os outros, para que ele possa com tanto maior segurança se tornar igual"</span> T. W. Adorno<br /><br /><br />A crise do sujeito criou as condições existenciais e históricas para o desenvolvimento do sujeito da crise. O indivíduo que resulta do processo de estratificação inaugurado com a separação da economia das demais esferas da vida não encontra limites para outras especializações e separações. Esse sujeito que se apresenta para a história flexível e superficial ganha, através da ideologia pós-moderna, uma complexidade que só tem paralelo com o tamanho de seu vazio, inclusive o de origem intelectual. É nítido que essa complexidade é estritamente ideológica, porque o indivíduo pós-moderno é flexível no pior sentido do termo, digo, flexível sobretudo no que tange as suas mais variadas formas de submissão.<br /><br /><br /><span style="font-weight:bold;">Experiência em primeira pessoa.</span><br /><br />Uma força de massificação ou centrifugação sempre me perturbou, essa mesma força até então nebulosa, era difícil de decifrar. Chamei de "vontade de rebanho" após ver a organização espacial de um camping, mas não fui mais longe do que arranjar uma nomenclatura. Essa força durante um longo período da minha vida aproximou-me de encontros e situações que dificilmente alguém aceitaria de bom grado e isso caracterizava boa parte dos dois fronts de encontro. Esse tipo de destino social que alguns tentam atribuir à mãos invisíveis ou outras forças exteriores passíveis de qualquer identificação mais ou menos esotérica é, em boa parte, de minha inteira responsabilidade. Essa força sempre nos uniu enquanto separados, como bem observou Debord e a IS. E a minha intenção era experimentar nesses encontros forçados de primeiro grau aquilo que Cláudio Duarte apontou no texto sobre o "Homem sem qualidades" onde ele tem como questão principal "mostrar que mesmo assim tal homem suporta a particularidade de uma certa época histórica".<br /><br />Suportar a particularidade de uma época, ao invés de vivenciá-la e contruí-la é o tipo de adaptação do homem sem qualidades. Suportar essa especialidade histórica, creio eu, só é possivel mediante a acumulação de alguns momentos impossíveis de serem desapropriados. Circunstâncias que só podem ser valoradas no universo da memória. Essa jornada individual, no meu caso, tornou-se com tanto maior segurança arruinada devido um processo incansável em busca do esquecimento absoluto. Tudo aquilo que escapou da compreensão no turbilhão socializador foi como a água que escapa por entre os dedos que almejam retê-la. Dessa pretensão metaforizada ficou simplesmente a sensação de umidade – uma forma nebulosa de frescor experimentada nas derivas. São raros e efêmeros os momentos recompensadores no deserto social. São as risadas e a casualidade das palavras que levam a uma comunicação profunda que fazem dos encontros uma possibilidade verdadeira de comunhão. Esse tipo de instante demora o suficiente para ser memorável é o tipo de riqueza há muito esquecida pelos materialistas de todo tipo. É o tipo de riqueza que consumi com o fogo e a fumaça.<br /><br />Agora nem a saudade me resta, pois a saudade é o vazio preenchido por lembranças e boa parte das minhas estão deletadas. O que restou disso foi um furacão de longos dias acordado girando ao redor de uma mesma questão. Fui consumido pelo fogo e não sei o que vai sair dessas cinzas, talvez só mais um homem sem qualidades.<br /><br /><br />Por: João de Lírio<br />(texto originalmente escrito para o fanzine true lies #4 de barra mansa)Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-68346191579520437452009-07-10T15:33:00.002-03:002009-07-12T12:23:37.968-03:00Perdido na tradiçãoD: Você é uma falcatrua!<br />A: Não acredito que atravessei o inferno à toa.<br />D: Que inferno? Ai meu deus, além de falcatrua é melodramático.<br />A: Cada um sabe a cruz que carrega.<br />D: Cristão também!? Você precisa entender que teve tudo sempre de mão beijada, você não tem o direito, n-ã-o t-e-m o d-i-r-e-i-t-o de reclamar. Se algo tão simples, ainda mais sendo do seu próprio interesse, tenha se transformado num calvário isso é problema exclusivamente seu.<br />A: Certo Dulce, você quer e sabe ser afiada, não me espanta que o seja. Este assunto só poderia ser tratado contigo porque compartilhamos a intimidade tão bem que mesmo através de abstrações chegaremos no núcleo do problema. O prisma que você utiliza é perfeitamente cabível e adequado aos meus critérios de julgamento, não fujo nem um milímetro da responsabilidade, inclusive das minhas atitudes mais inconseqüentes ou inconscientes. A questão nunca foi essa.<br />D: E qual foi?<br />A: Resumir as coisas ao indivíduo é tão simples quanto cruel, o problema é que se eu continuar com essa linha vai parecer que estou me desculpando e não quero ter essa intenção.<br />D: Ah! Alberto. Não gosto do seu discurso, às vezes vejo tanto sofrimento no seu coração, se você não tivesse sido covarde comigo, até teria simpatia por sua pessoa.<br />A: Não misture as coisas.<br />D: Não exija merda nenhuma, você é uma falcatrua.<br />A: Enquanto você se ocupa em atirar pedras, prefiro juntá-las para fazer um muro. Quanto mais você jogar maior será a altura do mesmo.<br />D: Estarei do lado de fora do muro?<br />A: Preciso sobreviver a sua artilharia para construí-lo, depois disso saberei o que é dentro e fora nessa guerra toda.<br />D: Você é desprezível, mas às vezes fala umas coisas que me encantam.<br />A: Você tem muita raiva e isso, por incrível que pareça, me ajuda. Só não posso parecer irônico, porque esses seus sentimentos são como um castelo de cartas, eles podem ficar extremamente altos e complexos, mas uma simples brisa pode levá-lo ao chão. <br />D: Teve aquela vez que você riu e levou umas bordoadas.<br />A: Achei que nunca mais conseguiria olhar nos seus olhos novamente, mas veja como é o tempo e suas propriedades alucinógenas.<br />D: Alucinógenas?<br />A: Convenhamos, você foi de uma conivência absurda, isso não é coisa que se faça.<br />D: Você sempre se mostrou ultra-inteligente, por que eu haveria de te ensinar algo?<br /><br />Alberto da uma risada constrangida enquanto coça a cabeça. Um silêncio se instala na mesa, parece que o mundo todo se calou.<br /><br />A: Vou dar uma volta, essa conversa não vai levar a lugar nenhum.<br />D: Como é que aquele menino falava? “We're going nowhere!”<br />A: Isso está fora do contexto e o entusiasmo que tinha correu pelo ralo.<br />D: Alberto, você é uma falcatrua.<br />A: Tudo bem, você venceu. Batata frita. A falcatrua aqui vai ficar bêbada com seus demônios.<br />D: Vai se tratar.<br />A: Vou, meu consultório é o bar. Beijo.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-76510635480951262402009-07-10T12:59:00.000-03:002009-07-10T14:57:21.465-03:00do abismo<br />"por maior que seja o abismo ele sempre encontrará uma alma que lhe sirva"Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-26038438448040597182009-07-05T11:08:00.002-03:002009-07-05T11:11:10.602-03:00Da sabedoria (ou da misantropia?)<br /><br />"Sabedoria é conseguir usar a solidão para preencher o vazio."<br /><br />(ah! esses longos dias...)Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-65443481098566134492009-06-24T12:22:00.002-03:002009-06-26T12:03:34.762-03:00Quando o sujeito decadente reconhece seu espírito decadente, o orgulho e o temperamento que antes moviam-no ladeira abaixo, com determinação e velocidade são freiados com todo o peso do mundo. O princípio da inércia arrastaria esse sujeito alguns metros ainda mais abaixo, no abismo solitário que já estava habituado. Esse reconhecimento ao mesmo tempo que assustador e doloroso, identifica um processo que já tem, independente desta compreensão, um destino social determinado.<br /><br />(corrigido?)Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-32965272603692672732009-06-10T14:20:00.002-03:002009-06-10T14:54:59.329-03:00- Nomadismo não leva a lugar nenhum.<br />- É pra lá mesmo que vou antes do inferno.<br />- Que besteirol é esse de inferno?<br />- Tirei de um filme. O Del Gue fala com o Jeremiah "sei lá o que... hell in the end". Era sobre o destino que cada um tomaria assim que se separassem. Pior que o Del Gue estava querendo acompanhar o Jeremias, mas esse não aguentava mais os outros depois de uma longa perseguição através dos anos.<br />- Por falar em destino... o que pensa da vida?<br />- Qualquer coisa fora das suas dimensões.<br />- Hãn?!<br />- Não quero parecer brilhante, não se trata disso e você sabe, mas não sei como está sua estima. Nesses dias de crise, qualquer coisinha pode parecer prepotente. Fora das suas dimensões, é tentar viver de um jeito que você não aprendeu a viver e tão pouco me ensinou.<br />- Como assim?<br />- Criativamente. Viver criativamente.<br />- Tá me chamando de burro?<br />- Não! Você é e, sempre será, duas vezes mais inteligente que eu. Sinceramente não vejo nenhuma possibilidade de sucesso ao contar exclusivamente com minha criatividade, mas vejo uma infinidade de tristeza se ficar acorrentado como você, nessa areia movediça que chamam de serviço.<br />- Besteira. Foges do emprego como o diabo foge da cruz.<br />- Em outras épocas chamariam isso de uma atitude sensata.<br />- Só se for lá nos tempos ciganos.<br />- Onde ou quando for eu estaria em boa companhia, mas deixe-me ir para lugar nenhum antes que visite o inferno no final.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-26647437635437663882009-04-21T00:38:00.001-03:002009-04-21T00:51:56.326-03:00ditados reloaded"quem vacila amigo é"<br /><br />"melhor sumir do que remediar"Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-41219289987987952272009-04-13T13:58:00.001-03:002009-04-13T13:58:46.687-03:00"nada se esquece, no máximo se esconde"<br /><br />do labirinto da consciênciaLeonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-43712588933589875922009-03-19T09:55:00.001-03:002009-03-19T09:56:54.085-03:00"Reclamar é para muitos, eu quero viver." L.P.<br /><br />Agora eu fui. qualquer coisa: http://roadloveregret.blogspot.comLeonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-88043399341308618022009-03-11T17:03:00.002-03:002009-03-11T17:24:23.613-03:00curriculum vitaeEle entrou no antigo emprego e disse: desculpe se em algum momento da minha vida de funcionário demonstrei algum interesse em continuar ou acender nesse emprego, com certeza fui vítima de todas as patologias que vocês mesmo funcionários-competitivos-de-merda fizeram questão de me imputar e, tenho certeza de que em algum momento demonstrei interesse nesse estilo de vida que tanto abomino. Sei disso porque vocês conseguiram me ofender, me senti humilhado pela gentalha e sua retórica de golpe baixo. Se me ofenderam foi porque me convenceram de algo, me fizeram deixar de ser indiferente. A ração quase ficou com gosto de lagosta, mas um soco sempre será um soco e viver rastejando num mundo cujas regras e trapaças não dizem nada a seu respeito é uma estupidez sem tamanho. Vocês fizeram da sua prostituição a minha prostituição e hoje é com prazer que o sol queima minha pele suja enquanto perambulo pela cidade, é como se aquela crosta de sujeira me protegesse contra as patologias com que vocês tanto me infernizaram. Gostaria de ter um aspecto mais aceitável, porque hoje mal posso passar dessa porta sem levar alguns chutes e pontapés, mas pouco importa. Não respeito vocês e tão pouco sou indiferente à toda essa merda que vocês fazem por debaixo de panos cada vez mais sujos. Vocês também estão com uma crosta repugnante cobrindo sua forma reptiliana asquerosa, esta crosta se parece com automóveis do ano e perfumes franceses, clareamento dentário e bom ar para camuflar seus gases. A distinção que vocês tanto querem exaltar de pessoas como eu ficou cada vez mais restrita aos zero$ antes da vírgula. Eu odeio você e toda sua laia.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-39064223727775179602009-02-18T15:10:00.000-03:002009-02-18T15:19:11.683-03:00Num piscar de olhos aquilo que era cotidiano transformou-se em absurdo. Não sabia nem como e tão pouco o porquê. Minha consciência parecia cheia de buracos negros e minha alma um retalho de sensações. Confiava no meu juízo, mas o caminho sempre fora tortuoso. Eu queria pegar a porra da estrada, assim fui.<br />----<br />Vou me despedindo do blog por um tempo... se conseguir fazer algo que presta estará publicado no roadloveregret.blogspot.com<br /><br />adios niños e niñas.<br />the road, my passion, my curse.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com8tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-25900585861006088052009-02-04T13:45:00.001-02:002009-02-04T13:47:19.267-02:00grandes questões de gente pequeña IITodo erro transmite a sensação de retorno?Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-20713422690571593842009-02-02T12:00:00.000-02:002009-02-02T12:54:15.616-02:00grandes questões de gente pequenaÉ possível que duas pessoas, de lugares completamente diferentes, partindo para a solução de uma mesma questão cheguem num determinado lugar sem nunca antes terem se encontrado?Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-16757502704082379672009-01-27T16:46:00.000-02:002009-01-27T16:47:06.495-02:00mensagem na garrafaEncontrou a seguinte anotação no seu bolso: "o pequeno pedaço de sabonete na pia dava o tom de tempos de economia, a única coisa que acumulava naquele ambiente era uma poeira incrustante. A imagem que tinha daquele lugar era a de uma pia de cozinha muito antiga, daquelas que por mais que você a limpe, um aspecto de sujo e velho não consegue ser tirado por nada nesse mundo”. Não fazia idéia de onde estivera, mas aquele bilhete criara nele uma imagem tão nítida que reconheceria essa cozinha mesmo através da porta. <br />Sua memória voltava a lhe pregar peças, bilhetes deixados a esmo em seus bolsos e a sensação constante de não reconhecimento atormentava-lhe a consciência. Seria isso um sonho maluco? Estava novamente na sua casa, mas não reconhecia nada além de sua caligrafia nas paredes. - “Que lugar é esse? E por que escrevi isso nas paredes?” <br />A memória tem vontade própria e à medida que se sente maltratada pelas substancias encontra outros espaços para se manter existindo. No curioso caso de P. ela havia se refugiado na escrita, particularmente naquela feita à mão. As imagens que brotavam de seus escritos recuperavam aquilo que nunca havia pertencido a ele próprio. <br />Quando ele ficava vários dias seguidos sem escrever, tinha a forte impressão de que havia dormido por semanas sem parar e foi numa dessas hibernadas que P. acordou com uma mulher ao seu lado na cama. Ela tinha escrito nos braços dela que ela realizava a poesia na vida e que conseguia traduzir diamantes, isso bastou para que seu mau humor desaparecesse, mas o remorso de só saber dela aquilo que havia escrito angustiava seu coração, não acordou a moça e, com essa sensação de parcialidade do conhecimento foi direto para o banheiro. Enquanto escovava os dentes viu no reflexo do espelho uma frase escrita com uma letra feminina em seu peito. Teve dificuldade de ler a frase refletida e contorcido começou a entendê-la “você escreveu a vida em meus olhos, não precisa mais sentir a ausência”.<br />Aquela frase ganhou um contorno sonoro, ele podia ouvi-la sendo sussurrada em seus ouvidos. Ele reconhecia a voz que estava por trás daquelas palavras, ele sabia quem as havia proferido ele se lembrava da pele que cobria aquelas palavras e do olhar carinhoso que preenchia os silêncios. P. então correu para seu suposto quarto e olho para sua suposta cama e ela estava completamente vazia.<br />Desacreditado escreveu um bilhete “M. acreditava que destruía minha memória com as substâncias que consumia, mas é a distancia entre nossos corpos que faz toda lembrança perder o sentido. Você é a minha ilha e enquanto não te achar novamente, deixe-me sentir sua falta”. Lembrou de Guadacanal a ilha onde havia encontrado M. pela primeira vez, lembrou de toda inocência que os rodeavam, de todo amor que só poderia nascer ali mesmo, naquelas praias tropicais. Lembrou de tantos detalhes da sua personalidade e corpo que não conseguiria sequer descrevê-las, a velocidade que essas sensações voltavam para sua consciência não existia escrita rápida o suficiente para transcrevê-las. <br />Ao não conseguir realizar isso voltou a dormir por dias. Não estava por perto quando ele meteu a mão no bolso de sua bermuda suja e encontrou o bilhete que escrevera para a posteridade, soube que o encontrara andando pelas estradas do norte. Quase consigo enxergar o sorriso que seu rosto desenhou ao saber o que estava procurando e para onde estava indo. P. sumiu, mas aposto que sua memória voltou.Leonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-22138966.post-27825988552129282762009-01-20T15:29:00.001-02:002009-01-20T15:30:26.098-02:00"se é verdade que a linha reta faz uma curva no infinito, essa curva com certeza é para a direita"<br /><br />da políticaLeonardo Pratahttp://www.blogger.com/profile/08154402249199344907noreply@blogger.com0