quinta-feira, novembro 12, 2009

folk da bala perdida

meus joelhos se dobram igual uma esquina fudida
a escuridão que antes assustava agora domina
antes que o catarro desça e acalme meu estômago nervoso
meu olhar se refresca com a certeza de uma antiga maldição
a dor se foi com a última certeza infame
o sangue negro do fígado me faz sentir duas vezes mais homem
morrendo tudo parece duas vezes mais idiota
até a temida morte recebe a última chacota.
(cuspe)
tiro o chapéu, quero sentir o chão com minha testa.
meu último som oco para acabar com a festa.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Consumido pelo fogo

"Os homens receberam seu eu como algo pertencente a cada um, diferente de todos os outros, para que ele possa com tanto maior segurança se tornar igual" T. W. Adorno


A crise do sujeito criou as condições existenciais e históricas para o desenvolvimento do sujeito da crise. O indivíduo que resulta do processo de estratificação inaugurado com a separação da economia das demais esferas da vida não encontra limites para outras especializações e separações. Esse sujeito que se apresenta para a história flexível e superficial ganha, através da ideologia pós-moderna, uma complexidade que só tem paralelo com o tamanho de seu vazio, inclusive o de origem intelectual. É nítido que essa complexidade é estritamente ideológica, porque o indivíduo pós-moderno é flexível no pior sentido do termo, digo, flexível sobretudo no que tange as suas mais variadas formas de submissão.


Experiência em primeira pessoa.

Uma força de massificação ou centrifugação sempre me perturbou, essa mesma força até então nebulosa, era difícil de decifrar. Chamei de "vontade de rebanho" após ver a organização espacial de um camping, mas não fui mais longe do que arranjar uma nomenclatura. Essa força durante um longo período da minha vida aproximou-me de encontros e situações que dificilmente alguém aceitaria de bom grado e isso caracterizava boa parte dos dois fronts de encontro. Esse tipo de destino social que alguns tentam atribuir à mãos invisíveis ou outras forças exteriores passíveis de qualquer identificação mais ou menos esotérica é, em boa parte, de minha inteira responsabilidade. Essa força sempre nos uniu enquanto separados, como bem observou Debord e a IS. E a minha intenção era experimentar nesses encontros forçados de primeiro grau aquilo que Cláudio Duarte apontou no texto sobre o "Homem sem qualidades" onde ele tem como questão principal "mostrar que mesmo assim tal homem suporta a particularidade de uma certa época histórica".

Suportar a particularidade de uma época, ao invés de vivenciá-la e contruí-la é o tipo de adaptação do homem sem qualidades. Suportar essa especialidade histórica, creio eu, só é possivel mediante a acumulação de alguns momentos impossíveis de serem desapropriados. Circunstâncias que só podem ser valoradas no universo da memória. Essa jornada individual, no meu caso, tornou-se com tanto maior segurança arruinada devido um processo incansável em busca do esquecimento absoluto. Tudo aquilo que escapou da compreensão no turbilhão socializador foi como a água que escapa por entre os dedos que almejam retê-la. Dessa pretensão metaforizada ficou simplesmente a sensação de umidade – uma forma nebulosa de frescor experimentada nas derivas. São raros e efêmeros os momentos recompensadores no deserto social. São as risadas e a casualidade das palavras que levam a uma comunicação profunda que fazem dos encontros uma possibilidade verdadeira de comunhão. Esse tipo de instante demora o suficiente para ser memorável é o tipo de riqueza há muito esquecida pelos materialistas de todo tipo. É o tipo de riqueza que consumi com o fogo e a fumaça.

Agora nem a saudade me resta, pois a saudade é o vazio preenchido por lembranças e boa parte das minhas estão deletadas. O que restou disso foi um furacão de longos dias acordado girando ao redor de uma mesma questão. Fui consumido pelo fogo e não sei o que vai sair dessas cinzas, talvez só mais um homem sem qualidades.


Por: João de Lírio
(texto originalmente escrito para o fanzine true lies #4 de barra mansa)

sexta-feira, julho 10, 2009

Perdido na tradição

D: Você é uma falcatrua!
A: Não acredito que atravessei o inferno à toa.
D: Que inferno? Ai meu deus, além de falcatrua é melodramático.
A: Cada um sabe a cruz que carrega.
D: Cristão também!? Você precisa entender que teve tudo sempre de mão beijada, você não tem o direito, n-ã-o t-e-m o d-i-r-e-i-t-o de reclamar. Se algo tão simples, ainda mais sendo do seu próprio interesse, tenha se transformado num calvário isso é problema exclusivamente seu.
A: Certo Dulce, você quer e sabe ser afiada, não me espanta que o seja. Este assunto só poderia ser tratado contigo porque compartilhamos a intimidade tão bem que mesmo através de abstrações chegaremos no núcleo do problema. O prisma que você utiliza é perfeitamente cabível e adequado aos meus critérios de julgamento, não fujo nem um milímetro da responsabilidade, inclusive das minhas atitudes mais inconseqüentes ou inconscientes. A questão nunca foi essa.
D: E qual foi?
A: Resumir as coisas ao indivíduo é tão simples quanto cruel, o problema é que se eu continuar com essa linha vai parecer que estou me desculpando e não quero ter essa intenção.
D: Ah! Alberto. Não gosto do seu discurso, às vezes vejo tanto sofrimento no seu coração, se você não tivesse sido covarde comigo, até teria simpatia por sua pessoa.
A: Não misture as coisas.
D: Não exija merda nenhuma, você é uma falcatrua.
A: Enquanto você se ocupa em atirar pedras, prefiro juntá-las para fazer um muro. Quanto mais você jogar maior será a altura do mesmo.
D: Estarei do lado de fora do muro?
A: Preciso sobreviver a sua artilharia para construí-lo, depois disso saberei o que é dentro e fora nessa guerra toda.
D: Você é desprezível, mas às vezes fala umas coisas que me encantam.
A: Você tem muita raiva e isso, por incrível que pareça, me ajuda. Só não posso parecer irônico, porque esses seus sentimentos são como um castelo de cartas, eles podem ficar extremamente altos e complexos, mas uma simples brisa pode levá-lo ao chão.
D: Teve aquela vez que você riu e levou umas bordoadas.
A: Achei que nunca mais conseguiria olhar nos seus olhos novamente, mas veja como é o tempo e suas propriedades alucinógenas.
D: Alucinógenas?
A: Convenhamos, você foi de uma conivência absurda, isso não é coisa que se faça.
D: Você sempre se mostrou ultra-inteligente, por que eu haveria de te ensinar algo?

Alberto da uma risada constrangida enquanto coça a cabeça. Um silêncio se instala na mesa, parece que o mundo todo se calou.

A: Vou dar uma volta, essa conversa não vai levar a lugar nenhum.
D: Como é que aquele menino falava? “We're going nowhere!”
A: Isso está fora do contexto e o entusiasmo que tinha correu pelo ralo.
D: Alberto, você é uma falcatrua.
A: Tudo bem, você venceu. Batata frita. A falcatrua aqui vai ficar bêbada com seus demônios.
D: Vai se tratar.
A: Vou, meu consultório é o bar. Beijo.
do abismo
"por maior que seja o abismo ele sempre encontrará uma alma que lhe sirva"

domingo, julho 05, 2009

Da sabedoria (ou da misantropia?)

"Sabedoria é conseguir usar a solidão para preencher o vazio."

(ah! esses longos dias...)

quarta-feira, junho 24, 2009

Quando o sujeito decadente reconhece seu espírito decadente, o orgulho e o temperamento que antes moviam-no ladeira abaixo, com determinação e velocidade são freiados com todo o peso do mundo. O princípio da inércia arrastaria esse sujeito alguns metros ainda mais abaixo, no abismo solitário que já estava habituado. Esse reconhecimento ao mesmo tempo que assustador e doloroso, identifica um processo que já tem, independente desta compreensão, um destino social determinado.

(corrigido?)

quarta-feira, junho 10, 2009

- Nomadismo não leva a lugar nenhum.
- É pra lá mesmo que vou antes do inferno.
- Que besteirol é esse de inferno?
- Tirei de um filme. O Del Gue fala com o Jeremiah "sei lá o que... hell in the end". Era sobre o destino que cada um tomaria assim que se separassem. Pior que o Del Gue estava querendo acompanhar o Jeremias, mas esse não aguentava mais os outros depois de uma longa perseguição através dos anos.
- Por falar em destino... o que pensa da vida?
- Qualquer coisa fora das suas dimensões.
- Hãn?!
- Não quero parecer brilhante, não se trata disso e você sabe, mas não sei como está sua estima. Nesses dias de crise, qualquer coisinha pode parecer prepotente. Fora das suas dimensões, é tentar viver de um jeito que você não aprendeu a viver e tão pouco me ensinou.
- Como assim?
- Criativamente. Viver criativamente.
- Tá me chamando de burro?
- Não! Você é e, sempre será, duas vezes mais inteligente que eu. Sinceramente não vejo nenhuma possibilidade de sucesso ao contar exclusivamente com minha criatividade, mas vejo uma infinidade de tristeza se ficar acorrentado como você, nessa areia movediça que chamam de serviço.
- Besteira. Foges do emprego como o diabo foge da cruz.
- Em outras épocas chamariam isso de uma atitude sensata.
- Só se for lá nos tempos ciganos.
- Onde ou quando for eu estaria em boa companhia, mas deixe-me ir para lugar nenhum antes que visite o inferno no final.

terça-feira, abril 21, 2009

ditados reloaded

"quem vacila amigo é"

"melhor sumir do que remediar"

segunda-feira, abril 13, 2009

"nada se esquece, no máximo se esconde"

do labirinto da consciência

quinta-feira, março 19, 2009

"Reclamar é para muitos, eu quero viver." L.P.

Agora eu fui. qualquer coisa: http://roadloveregret.blogspot.com

quarta-feira, março 11, 2009

curriculum vitae

Ele entrou no antigo emprego e disse: desculpe se em algum momento da minha vida de funcionário demonstrei algum interesse em continuar ou acender nesse emprego, com certeza fui vítima de todas as patologias que vocês mesmo funcionários-competitivos-de-merda fizeram questão de me imputar e, tenho certeza de que em algum momento demonstrei interesse nesse estilo de vida que tanto abomino. Sei disso porque vocês conseguiram me ofender, me senti humilhado pela gentalha e sua retórica de golpe baixo. Se me ofenderam foi porque me convenceram de algo, me fizeram deixar de ser indiferente. A ração quase ficou com gosto de lagosta, mas um soco sempre será um soco e viver rastejando num mundo cujas regras e trapaças não dizem nada a seu respeito é uma estupidez sem tamanho. Vocês fizeram da sua prostituição a minha prostituição e hoje é com prazer que o sol queima minha pele suja enquanto perambulo pela cidade, é como se aquela crosta de sujeira me protegesse contra as patologias com que vocês tanto me infernizaram. Gostaria de ter um aspecto mais aceitável, porque hoje mal posso passar dessa porta sem levar alguns chutes e pontapés, mas pouco importa. Não respeito vocês e tão pouco sou indiferente à toda essa merda que vocês fazem por debaixo de panos cada vez mais sujos. Vocês também estão com uma crosta repugnante cobrindo sua forma reptiliana asquerosa, esta crosta se parece com automóveis do ano e perfumes franceses, clareamento dentário e bom ar para camuflar seus gases. A distinção que vocês tanto querem exaltar de pessoas como eu ficou cada vez mais restrita aos zero$ antes da vírgula. Eu odeio você e toda sua laia.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Num piscar de olhos aquilo que era cotidiano transformou-se em absurdo. Não sabia nem como e tão pouco o porquê. Minha consciência parecia cheia de buracos negros e minha alma um retalho de sensações. Confiava no meu juízo, mas o caminho sempre fora tortuoso. Eu queria pegar a porra da estrada, assim fui.
----
Vou me despedindo do blog por um tempo... se conseguir fazer algo que presta estará publicado no roadloveregret.blogspot.com

adios niños e niñas.
the road, my passion, my curse.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

grandes questões de gente pequeña II

Todo erro transmite a sensação de retorno?

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

grandes questões de gente pequena

É possível que duas pessoas, de lugares completamente diferentes, partindo para a solução de uma mesma questão cheguem num determinado lugar sem nunca antes terem se encontrado?

terça-feira, janeiro 27, 2009

mensagem na garrafa

Encontrou a seguinte anotação no seu bolso: "o pequeno pedaço de sabonete na pia dava o tom de tempos de economia, a única coisa que acumulava naquele ambiente era uma poeira incrustante. A imagem que tinha daquele lugar era a de uma pia de cozinha muito antiga, daquelas que por mais que você a limpe, um aspecto de sujo e velho não consegue ser tirado por nada nesse mundo”. Não fazia idéia de onde estivera, mas aquele bilhete criara nele uma imagem tão nítida que reconheceria essa cozinha mesmo através da porta.
Sua memória voltava a lhe pregar peças, bilhetes deixados a esmo em seus bolsos e a sensação constante de não reconhecimento atormentava-lhe a consciência. Seria isso um sonho maluco? Estava novamente na sua casa, mas não reconhecia nada além de sua caligrafia nas paredes. - “Que lugar é esse? E por que escrevi isso nas paredes?”
A memória tem vontade própria e à medida que se sente maltratada pelas substancias encontra outros espaços para se manter existindo. No curioso caso de P. ela havia se refugiado na escrita, particularmente naquela feita à mão. As imagens que brotavam de seus escritos recuperavam aquilo que nunca havia pertencido a ele próprio.
Quando ele ficava vários dias seguidos sem escrever, tinha a forte impressão de que havia dormido por semanas sem parar e foi numa dessas hibernadas que P. acordou com uma mulher ao seu lado na cama. Ela tinha escrito nos braços dela que ela realizava a poesia na vida e que conseguia traduzir diamantes, isso bastou para que seu mau humor desaparecesse, mas o remorso de só saber dela aquilo que havia escrito angustiava seu coração, não acordou a moça e, com essa sensação de parcialidade do conhecimento foi direto para o banheiro. Enquanto escovava os dentes viu no reflexo do espelho uma frase escrita com uma letra feminina em seu peito. Teve dificuldade de ler a frase refletida e contorcido começou a entendê-la “você escreveu a vida em meus olhos, não precisa mais sentir a ausência”.
Aquela frase ganhou um contorno sonoro, ele podia ouvi-la sendo sussurrada em seus ouvidos. Ele reconhecia a voz que estava por trás daquelas palavras, ele sabia quem as havia proferido ele se lembrava da pele que cobria aquelas palavras e do olhar carinhoso que preenchia os silêncios. P. então correu para seu suposto quarto e olho para sua suposta cama e ela estava completamente vazia.
Desacreditado escreveu um bilhete “M. acreditava que destruía minha memória com as substâncias que consumia, mas é a distancia entre nossos corpos que faz toda lembrança perder o sentido. Você é a minha ilha e enquanto não te achar novamente, deixe-me sentir sua falta”. Lembrou de Guadacanal a ilha onde havia encontrado M. pela primeira vez, lembrou de toda inocência que os rodeavam, de todo amor que só poderia nascer ali mesmo, naquelas praias tropicais. Lembrou de tantos detalhes da sua personalidade e corpo que não conseguiria sequer descrevê-las, a velocidade que essas sensações voltavam para sua consciência não existia escrita rápida o suficiente para transcrevê-las.
Ao não conseguir realizar isso voltou a dormir por dias. Não estava por perto quando ele meteu a mão no bolso de sua bermuda suja e encontrou o bilhete que escrevera para a posteridade, soube que o encontrara andando pelas estradas do norte. Quase consigo enxergar o sorriso que seu rosto desenhou ao saber o que estava procurando e para onde estava indo. P. sumiu, mas aposto que sua memória voltou.

terça-feira, janeiro 20, 2009

"se é verdade que a linha reta faz uma curva no infinito, essa curva com certeza é para a direita"

da política

sexta-feira, janeiro 09, 2009

da saudade.

"A saudade é o vazio preenchido por lembranças."