domingo, janeiro 22, 2012

a onda infinita

"Certamente não', me soprava a razão." (Dostoiévski, O jogador)


Quantos são os episódios onde a razão tem pouca eficácia? Eram tantos os casos onde ela não servia para Franco que já considerava seriamente - e aqui vemos como ele era paradoxal -, se entregar a loucura. Conforme o recorte da realidade a sua lógica, mesmo seguindo parâmetros racionais, ao invés de lhe aproximar de um entendimento sadio do mundo, empurrava-o para a mais profunda obscuridade, não existia senso capaz de frear sua teia de pensamentos. A partir de uma suposição levemente ofensiva, mesmo que sutil, dava então início a uma reunião de pensamentos em associações complexas com significados sempre cortantes. O engraçado é que foram poucas as vezes em que, por causa do pensamento, ele tenha explodido, agido e até mesmo contestado. Depois da maturidade não lembro de nenhuma mais enfática. Seus pensamentos eram seus e isso atormentava ele ainda mais.
Faz algum tempo ele esta dominado por uma ideia, uma ideia antiga que assombra homens e mulheres. Como ela entrou na sua mente? Como ela cresceu como um cancer dentro do seu cérebro? São perguntas que não consigo responder, mas desconfio que mais cedo ou mais tarde ele iria cair nesse labirinto sem saída. Com esse pensamento corrosivo ele se ocupa durantes dias e noites, uma febre da mente que atinge todo seu corpo, do estômago aos fios de cabelo.
Seguro de que esta sendo coerente, atravessa o inferno através do pensamento, remói com habilidade cada gesto alheio que confirma sua teoria. Nem tem saído mais para não esbarrar novamente com esse tipo gesto. Agora mistura um pouco do passado, era uma outra história, mas isso não importa. Tudo esta conectado, tudo tem que estar conectado. Esta sofrendo cada vez mais, é quando o pensamento começa a machucar que sente o poder da lógica. Franco está confiante, a ideia parece tão precisa e lúcida que chega a ser transparente.
E antes que ele mesmo provoque aquilo que a covardia alheia se nega a fazer com as próprias mãos, porque mesmo que infligindo esse tipo de provocador é antes de tudo um covarde passivo. Franco desarma-se de tudo que fere, atravessa os últimos metros das sombras através de uma inércia exaurida.
Sofreu, não fez nada, mas está convicto. A exaustão trouxe mais uma vez um tipo de paz que somente ela traria.