sábado, dezembro 22, 2007

funerais de cidades

"É preciso ser deveras inteligente para bancar o idiota" pensou, buscando mais conforto do que estabelecer alguma verdade. "Mas esse papel não cai bem para qualquer um e nem é um fardo leve para se carregar, mas mesmo assim, você ainda será o único realmente apto a celebrar uma noite em sua estupidez mais dilacerante e desesperada."
Uma indiferença em relação a seu próprio tempo ao mesmo tempo que facilitava as coisas para sua conduta colocava-o num caminhar solitário cheio de significados ofensivos. Assustadora era a sua capacidade de se sentir ofendido, de tal modo que lhe bastavam poucas palavras e um arranjo mais ou menos sugestivo e toda febre lhe subia à cabeça, a bílis se contorcia no estômago e o sangue lhe inchava os olhos.
Ele só pensava, sempre pensava - "Quando em cada diálogo, por mais estúpido que esse seja, surgem dezenas de Alexandres, Júlio Cesares e Cleópratas só me resta o nobre papel de bobo. Por que o mesmo discurso que enaltece a brilhantice se incomoda continuamente com a insignificância? Já não sei se isso é um defeito meu ou exterior, mas nesse desespero para ser lembrado eles só fazem esquecer. Rebaixo-me até o autismo, próximo da nulidade completa num devaneio mudo quando de relance percebo a eterna conversa sobre conversar, a mesma porcaria que fez da arte o mais fedorento e desértico lugar na terra."
Por essas e outras ele acreditava que Vitória estava morrendo, ele não tinha mais a inocência de antes que ainda inspirava alguma vida e inchava seus olhos de deslumbre, a cidade morre conforme ela foi matando-lhe. Os muros vão ficando brancos, as conversas insignificantes e o desespero gritante. Tem que ter muito fígado ou ser muito idiota para glorificar algo nesse cenário. Brener sentiu a miséria, abraçou a miséria, tornou-se miséria para finalmente preferir a idiotice.
(sem muito o que escrever, voltando a ativa, sem revisão, sem pretensão, sem esperança)

2 comentários:

Marcelo Fonseca disse...

nesse lindo e colorido país tropical, existe esse mito de felicidade que as vezes é um fardo, uma obrigação chata como o pé no saco que é bater ponto no trampo (quando se tem um).

indiferente ao como esteja meu caro, acho que o lance é: sinta.permita-se.

e fodam-se os comprometidos com a felicidade, ponho fogo nos abadás e quero que o enxofre caia do céu o quanto antes.

passar bem.
M.

Anônimo disse...

apenas ecos atravessando a noite...