sexta-feira, janeiro 05, 2007

av. entranhas esquina com a coração

Desculpe se não escrevo sobre as belezas turísticas de minha cidade, não me interessa esse tipo de atração local onde o comportamento se manifesta tão padronizado e etéreo, onde as particularidades são assassinadas por posturas débeis e infantilizadas de seres ignóbeis geralmente chamados de turistas que, seguindo fórmulas simples, congelam seus sorrisos desnatados em primeiro plano ofuscando paisagens de fundo com sua morbidade seriada - na verdade todas essas fotos, acredito, são os retratos de uma auto-imagem fria e sem personalidade que prefere a imagem à vida.
Espero não desapontá-la na forma como vejo e descrevo esse lugar onde a beleza é tão simples e pequena que fica difícil decifrá-la, para isso me embriaguei dessa cidade na esperança de transformar minhas impressões do espaço em algo mais cotidiano. Embriaguei-me e ainda estou bêbado, às vezes sinto uma ressaca de vitória, facilmente contornada com outra dose de aventura e descoberta. Caminhei perdido e cambaleante por suas ruas, provei seu amargo, às vezes, seu doce. Procurei ruas pequenas, onde as almas distantes se vêem de muito longe e nossos passos assumem uma cadência envolvente e são escutados e percebidos, por segundos ou anos conforme a melodia que nossos pés suscitam. Na multidão abri trilhas estreitas onde só passava uma pessoa por vez. onde tinha barulho eu cantei alto em voz muda. Onde era vazio expandi-me até ficar rarefeito, até ficar frio, até perder o equilíbrio.
À direita. Atravessei da raiva à serenidade, curvei na perspectiva, subi no respeito, atravessei o doce cume da eternidade que tatuado nas minhas entranhas e coração ainda se faz presente mesmo como ausência amarga ou doce coexistência. Desci o vale em espiral que torce o vento num ciclo constante que me trouxe de volta à partida. Aterrorizei-me com a perspectiva da ausência de história através da clara noção da linha que rodopia constantemente em torno de cada dúvida fundamental, uma fatigante peregrinação entre sugestões e pesadelos.
A esquerda costuma acabar no tédio, acho que parte da culpa esta na minha repulsa ao norte(ador). As formalidades da comunicação, à postura servil assumida tanto por mim, quanto pelas massas.
Quem diz que vitória é uma ilha deixa-se enganar pela metafísica da geografia, ou pelo mau costume das ciências que, geralmente, se mostram num plano autista que não diz nada a respeito da vida. Mas como podem dizer que essa cidade é uma ilha? Vitória é um arquipélago! E por mais mapeado que seja já vi em centenas de olhares, pessoas que descobriram suas ilhas secretas. Pequenos espaços inabaláveis e indestrutíveis sujeitos somente às ações do esquecimento.

(continua?)
(continua!)

5 comentários:

Anônimo disse...

Continua!

Anônimo disse...

legal, hein bicho. qualquer dia desses eu passo pro computador algumas que fiz durante esse ano. vamos trocar figurinhas.

aquele abrá!

Anônimo disse...

Nem toda cidade é um vão.
Nem toda cidade é um arquipélago.
Tens a sorte de se embriagar em uma cidade com um certo ar de iodo, uma certa maresia, que emana um perfume forte e fresco, nem sempre agradável, no entanto, suportável e sedutor.

Descobrir uma cidade é meter-se em suas ruas, becos e vielas, ignorar a barreira formada por seus tijolos e concretos e explorar cada centimetro de lugares que muitas vezes passam despercebidos em seu cotidiano.

Onde a massa de turistas costuma frequentar não é de fato recomendável, plastificado para parecer bonito, raras vezes confere a verdadeira identidade do lugar. Os pontos turísticos são 'não-lugares', mascarados para se tornarem atrativos.

A beleza está nos lugares simples, não turísticos e cotidiano ao qual não vemos e tão pouco percebemos por ser tão comum para nós. Mesmo que não seja de fato uma beleza estupenda, arquitetura digna de Niemeyer (um bosta modernista demodé), a beleza está nas ruas não frequentadas, nas antigas igrejas caindo aos pedaços, naquilo que confere a história local e registra seu passado, se tornando um patrimônio cultural tangível e intangível, guardado na gaveta da memória.

E continua, contínua.

Anônimo disse...

Me perdoe a visão de turismóoga no comentário acima, mas esta é a verdadeira sociologia do turismo.
(valeu Krippendorf, pelo menos este curso me serviu de alguma coisa)

Me gusta o que tu escreves

Anônimo disse...

Leitão na Reta da Silva.
Fernando com a Penha na Ferrari.
Na Avenida, Vitoria ouviu Jerônimo.
Monteiro conta histórias..
...histórias de amor.