sábado, abril 21, 2007

descaminhos ou como filosofar com um chinelo

As idéias são possessivas, e quantas vezes já nos percebemos girando ao redor delas com expressões angustiadas? Voltas investigativas num universo que ao mesmo tempo que é íntimo, pelo seu modus operandis, é estranho e novo, pelas suas sempre inesgotáveis possibilidades. Lobo, macaco ou hiena, mil faces da alma. Bobo, opaco ou sem pena, quem dentre nós me condena? Fora está o beijo quente que nutrio, o rio de pele e pêlo que você atravessa sem perceber. imagens ou imaginação, pensamento ou ação, boca ou tentação.
Não pertenço à nenhuma cela e minha condenação veio do carrasco em mim mesmo, indefeso palhaço que ri do espelho que zoa e maltrata sem zelo. a polidez na lata de lixo dessa transportadora de ilusões chamada vida. a medida que encolho, escapo. Conheço a fuga como quem viveu perambulando por cadeias, um coiote sem deserto, um lobo sem estepe.
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o prazer de viajar esta em se perder. por isso viajar sozinho é uma experiência necessária, as vezes dois são um só, mas a cumplicidade afoga as experiencias mais profundas, deixadas de lado em nome do conforto do espelho conhecido nublam o incerto e a deriva nos aguas tranquilas da alteridade. Poucas pessoas tem coragem para fazer aquilo que sabem, pouquíssimas. Estou aqui, longe de mim e de todos e nesses dias eu quero ver o esfacelamento do mundo porque aqueles que tentam salvar o mundo com a razão descobrem a sua pequenez.

terça-feira, abril 17, 2007

tato

meu olhar anseia por um dia de sorrir e namorar, olhares ja me conduziram para esses paraísos de alegria e poesia. hoje, daqui, te dou minhas palavras com vontade de chorar.

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passear poeticamente pela vida consiste num exercício descompromissado até o fim objetivo. Cada passo é uma revolução caliente e o desfrute pleno a utopia do vagabundo, nde o amor e a poesia se realizam na sua doçura e simplicidade. O caminho, quando duro ou insípido, exige um radicalismo do desejo, nesses dias tristes a profundidade tanto do corte quanto do peito são a arena de nossas paixões, onde a soma de tudo tem seu único espaço de insurreição na mesma proporção de sua urgência. (juro que vou consertar esse final ou tudo).

segunda-feira, abril 02, 2007

Sentia-se mal e fraco, não em sua moral ou julgamentos, era seu corpo que padecia, notara que seu apetite para aquilo que considerava vida havia diminuído. Começou um auto-tratamento, como sempre fazia - pelos com as doenças da alma, diminuiu os cigarros e começou alguns exercícios, mas sua rotina era um constante desmoronamento. Comprou um maço de cigarros para evitar que, num momento de fraqueza, pedisse à alguém. Preferia sua tosse monstruosa a estabelecer alguma espécie de contato com outros fumantes, aquele orgulho burguês de não se portar como pedinte, porque se o cigarro já era visto por ele como uma fraqueza, fazer do seu vício uma razão de comunicação atormentava-o. Preferia o silêncio pois sempre que escutava conversas perdidas pela cidade ficava assustado com as imbecialidades modernas, preferia o silêncio por que não queria fazer parte dessa estatística e silenciosamente se saía bem das mais difíceis encruzilhadas que a vida havia colocado em sua frente.
O fato de ter um maço cheio atiçava seu desejo pela nicotina e sabia que provávelmente fumaria tudo e rápido. Mas estava satisfeito com seu pensamento burguês.
Acreditava que toda aquela fraqueza servia-lhe de alguma forma. Mostrando o quanto escrever carregava consigo uma certa mortandade interna, fúnebre ritual de transformar a vida em palavras mortas, em folhas de árvores mortas para durar além da vida.
"-Outra dose de loucura, por favor!" Gritou um negro alto que tocava saxofone alucinadamente, nem esperou a bebida chegar, quando rapidamente ouvimos a marcação distante de quatro tempos nas baquetas, era o prelúdio de mais uma música de beleza enfurecedora. Ninguém conseguia achar um jeito contínuo para movimentar seus corpos e pensamentos, um desconforto acolhedor nos aquecia, copos iam e vinham até nossas bocas aveludando nossos ouvidos e encharcando nossas idéias.
Nessa altura, nossas conversas pareciam com o movimento de cardumes de peixes pequenos fugindo dos predadores, uma nuvem dançante de esbarrões num oceano de deliro. Só podia ser coisa daquele quarteto alucinado. O pianista parecia tocar uma espécie de tambor primitivo, seus pés não conseguiam se conter, aquela cena toda da banda nos impelia a dançar, não um passo, não um estilo esquizofrênico, parecia que desviávamos de socos vindos daquele palco. A esquiva nos fazia tirar conclusões a torto e a direito, o mais quieto do grupo disse em voz ébria:
- Dificilmente um fraco resiste ao silêncio, por isso estive quieto até agora. Não que vá falar coisas brilhantes, mas com certeza o silêncio é um direto de direita. Esse som é fudido e às vezes me perdi em sua fluidez, disse Gerard que logo foi interrompido pelo sempre volumoso Diego com suas caretas e retórica de machado desafiado:
-Sim, mas... – e dele sempre vinha um irritante "mas" seguido de suas verdades piradas – nas minúcias o silêncio não deveria ser encarado tão desafiadoramente.
Gerard só aceitaria essa resposta de uma pessoa que ao menos uma vez ficasse quieta diante de um assunto ou que evitasse as avalanches de mas e poréms, que sentisse fadiga ou demonstrasse humanidade.