sábado, novembro 22, 2008

fotogratextos

Aqui estão pequenos textos e diálogos fictícios que escrevi influenciado por imagens. Escrevi-os direto na internet e por isso não contém nenhuma espécie de revisão. Continuarão assim até que a vergonha ou a sensatez me faça apagá-los, mas como alguns de vocês que me conhecem sabem, sensatez nunca foi meu forte.

- me empresta o pano. - disse o motorista
- maldita tempestade de areia. - disse o co-piloto.
- pelo menos quebrou o tédio da estrada.
- falar do tempo sempre me deixa encafifado sobre a estupidez das minhas palavras, mas confesso que trocaria qualquer palavra, mesmo as inteligentes, pela simples observação da paisagem.
- deixa de ser retardado, eu fico o tempo todo concentrado nessa faixa estreita e continua de asfalto enquanto você deixa seu pensamento vagabundear pelas planícies. A paisagem também é um resultado do "tempo", assim como nosso diálogo.
- depois vai ser minha vez de dirigir e você pode fazer o mesmo.
- não tem graça.
- dirigir é que não tem graça.
- não tem graça ficar em silêncio, eu digo.
- e eu me preocupava com a estupidez, mas ok. Pense no seguinte, estamos enfurnados neste veiculo no meio do nada, estamos indo para lugar nenhum e provavelmente quando lá chegarmos teremos que lidar com os mesmos demônios que enfrentávamos antes.
- não podemos fugir de nós mesmos.
- isso, mas o pior de tudo é que o automóvel é a invenção mais estúpida para o movimento. é um maldito aquário com rodinhas.
- tá, mas vamos ao menos cruzar o deserto... ai nós pegamos uma carona ou andamos a pé.
- tanto faz, só não exija um diálogo nessa pocilga.

Conheci um sujeito interessante que fazia historia, mas não via o tempo passar.

- eu não nasci para existir.
- desistir?
- Existir, eee-xistir. Saca? Até tenho saco para toda essa merda, mas minha parede estomacal é fina igual uma seda... por isso eu sou uma "mocinha" em alguns sentidos.
- vixi cara que onda, esse lance de desistir é mó palha.. você quer conversar?
- nem um nem outro.
- qual outro? só falei de conversar.
- o outro é ter que te ouvir.
- vixi cara, você tá mal hein? é aquela tal febre de estômago que você tanto fala te atacando denovo?
- nem é... sabe o que aconteceu?
- não.
- o dia foi bem longo e por dia eu entendo, não o período em que o sol ilumina meu pedaço de terra, mas o tempo em que tenho as pessoas e sua radiante mesquinharia no meu horizonte.
- por isso você é um cara "noturno"...
- por isso que eu to saindo fora bixo.

Num piscar de olhos toda intimidade sumiu, não queee... tenha se transformado em vergonha ou antipatia, não foi isso. Sumiu! Desaparecemos um para o outro, nos perdemos ou separamos, não sei ao certo. Foi coooomo se o universo fosse tão grande como falam e tão conspirador como pretendem.

madrugada escura, ruas que pela manhã são grosseiramente barulhentas agora estão assustadoramente silenciosas. a idéia fixa do perigo as vezes escapa numa lembrança da noite ou numa idéia ébria sempre acompanhada de um sorriso zombeteiro. Se a sorte estivesse comigo não estaria andando pela madrugada e o pior junto com a escória paranóica do crack. Tudo que fiz foi ser azarado e displicente. Esse maldito clima policial, mais uma ótima oportunidade para ser mal sucedido. Sem a percepção dos policiais e a astúcia dos bandidos sou um alvo fácil para o mau-caratismo. Relógio parado e no meu bolso um canivete que não tenho a menor noção de como usá-lo. Quero acreditar que ele vai salvar minha vida, mas sei que descascará uma centena de laranjas e não conhecerá uma gota de sangue. Maldita atmosfera policial, preciso arrumar uma namorada.

Esse sol não era bom para a plantação de trigo, mas se deus quis fazer da terra uma frigideira quem sou eu para contestá-lo. As criações já demonstram algum nervosismo, não sei como escrever sobre isso mas sinto que os bixos domesticados começam a reavaliar esse acordo primitivo que fizeram com os homens. Se deus quis que esse acordo fosse revisto justamente na minha geração, quem sou eu para contestá-lo! Parece que uma pergunta há muito tempo deixada de lado simplesmente cansou de esperar e, já não procura uma resposta, na verdade esta cobrando pelo nosso silêncio. Meus cavalos (trovão, crespúsculo e batucada) continuam cavalgando com a mesma disciplina, mas o som que sai dos seus cascos parecem tambores agitados da revolta. Ainda bem que Orwell me alertou de uma revolta animal. Comprei um belo rifle Hawkin para me defender. Mas se todos animais se revoltarem e o sentido de comunidade da fazenda evaporar pelo ares, terei eu coragem de mata-los todos? Vai saber. O primeiro gesto que poderia ter tomado, já o fiz. carreguei aquele rifle e fiquei com os olhos bem abertos. Tomara que os cachorros não mudem de time, porque os porcos já me exigiram mais ração para manter o bico fechado nos tumultos.

- Cansei de tentar entender essa cidade - disse o prédio mais alto.
- É complicado se você parte de um referencial estático.
- Isso deveria conferir à minha interpretação uma estabilidade necessária ao entendimento.
- Esse não é o espírito do nosso tempo. E mesmo assim, quem disse que você está exatamente estático, nesse momento tem toda uma ação do tempo correndo seu âmago.
- Você ainda pensa em espírito soterrado por tanto asfalto e concreto?
- O paradoxo joga conosco, né?
- Tudo está assustadoramente vazio, a existência parece uma piada de mau-gosto e mesmo assim a idéia de jogo, por mais rasteira que seja, ainda encanta um número enorme de construções desencantadas.
- Como assim?
- Veja, somos escombros, somos amigos e na maior parte do tempo não precisamos desses mecanismos, mas se aparece um terceiro edifício nós ficaremos tentados a jogar. Tentar influenciar o comportamento alheio, sugerir, ironizar e, caso esse terceiro prédio seja uma bela Biblioteca ou Taberna o jogo ganhará uma conotação sexual que sem um desenlace correspondente só reforça a miséria do cotidiano urbano.
- É a arquitetura egoísta. Isso está em nossos pilares – disse o prédio baixinho de escritórios.
- E como você explica os condomínios?
- O egoísmo me parece uma inveja que reflete para dentro, uma auto-imagem que se mantém, mas ainda assim precisa de algo exterior para existir. Você só pode ser egoísta em relação à outra construção. Não sei direito. O princípio é supostamente autônomo, mas a rivalidade interna que ele suscita – a afirmação individual do edifício em contraponto com a sua integração à cidade – demole intrinsecamente sua auto-justificativa.
- Você não acha que isso é pensamento demais para nossa caixa d’água?
- Não sei, tomara que nosso arquiteto tenha feito um cálculo estrutural para agüentar toda essa merda.
- Tomara.

Gostava das florestas. Agradava-lhe caminhar perdido entre pedras, árvores e bichos, mas gostava principalmente de se sentir arranhado e "sufocado" (embora cheio de ar) pela vida. Não pensava na natureza como uma espécie de senhora bondosa, gostava da idéia de força, vingança e sobrevivência. Se a natureza fosse uma mãe ela seria uma mãe com muitos filhos, tantos que eles mesmos deveriam tomar conta uns dos outros, ela era livre da moral e da culpa. Talvez se arrependesse de uma filha em particular, a humanidade, mas isso é outra história.
Essa que conto é a história do Niño Lobo, o garoto amante das florestas e das derivas no mato, ele preferia quando era uma longa e alucinante descida, pois jogava-se por entre as galhas em alta velocidade, quanto mais se arranhava mais sentia seu corpo impenetrável. Por mais que espinhos e pontas de galho as vezes se comportem dura e violentamente, sentia-se como uma pipa cortada flutuando levemente pelo céu. Gostava da floresta porque um dia achou um "pé de gente" e sempre que queria uma mina pegava ela madurinha no pé.


ps.: também gostava dos feixes de luz que atravessavam as folhas.



- se te dissesse que nunca mais serei o mesmo.
- não sei o que isso significa, mas acho que você deve escrever isso.
- quantas vezes?
- quantas forem necessárias para limpar sua alma.
- não tem papel, madeira ou areia de praia suficiente para isso.
- se precisa escrever tanto assim é melhor começar logo.

2 comentários:

Anônimo disse...

Oh! Assistiu a esse filme da última imagem que postou?
É um lindo e moralístico filme. Vale a pena. "Primavera, verão, outono, inverno e primavera..."

Leonardo Prata disse...

Vi sim, gostei muito do filme.