Desculpe se não escrevo sobre as belezas turísticas de minha cidade, não me interessa esse tipo de atração local onde o comportamento se manifesta tão padronizado e etéreo, onde as particularidades são assassinadas por posturas débeis e infantilizadas de seres ignóbeis geralmente chamados de turistas que, seguindo fórmulas simples, congelam seus sorrisos desnatados em primeiro plano ofuscando paisagens de fundo com sua morbidade seriada - na verdade todas essas fotos, acredito, são os retratos de uma auto-imagem fria e sem personalidade que prefere a imagem à vida.
Espero não desapontá-la na forma como vejo e descrevo esse lugar onde a beleza é tão simples e pequena que fica difícil decifrá-la, para isso me embriaguei dessa cidade na esperança de transformar minhas impressões do espaço em algo mais cotidiano. Embriaguei-me e ainda estou bêbado, às vezes sinto uma ressaca de vitória, facilmente contornada com outra dose de aventura e descoberta. Caminhei perdido e cambaleante por suas ruas, provei seu amargo, às vezes, seu doce. Procurei ruas pequenas, onde as almas distantes se vêem de muito longe e nossos passos assumem uma cadência envolvente e são escutados e percebidos, por segundos ou anos conforme a melodia que nossos pés suscitam. Na multidão abri trilhas estreitas onde só passava uma pessoa por vez. onde tinha barulho eu cantei alto em voz muda. Onde era vazio expandi-me até ficar rarefeito, até ficar frio, até perder o equilíbrio.
À direita. Atravessei da raiva à serenidade, curvei na perspectiva, subi no respeito, atravessei o doce cume da eternidade que tatuado nas minhas entranhas e coração ainda se faz presente mesmo como ausência amarga ou doce coexistência. Desci o vale em espiral que torce o vento num ciclo constante que me trouxe de volta à partida. Aterrorizei-me com a perspectiva da ausência de história através da clara noção da linha que rodopia constantemente em torno de cada dúvida fundamental, uma fatigante peregrinação entre sugestões e pesadelos.
A esquerda costuma acabar no tédio, acho que parte da culpa esta na minha repulsa ao norte(ador). As formalidades da comunicação, à postura servil assumida tanto por mim, quanto pelas massas.
Quem diz que vitória é uma ilha deixa-se enganar pela metafísica da geografia, ou pelo mau costume das ciências que, geralmente, se mostram num plano autista que não diz nada a respeito da vida. Mas como podem dizer que essa cidade é uma ilha? Vitória é um arquipélago! E por mais mapeado que seja já vi em centenas de olhares, pessoas que descobriram suas ilhas secretas. Pequenos espaços inabaláveis e indestrutíveis sujeitos somente às ações do esquecimento.
(continua?)
(continua!)
sexta-feira, janeiro 05, 2007
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5 comentários:
Continua!
legal, hein bicho. qualquer dia desses eu passo pro computador algumas que fiz durante esse ano. vamos trocar figurinhas.
aquele abrá!
Nem toda cidade é um vão.
Nem toda cidade é um arquipélago.
Tens a sorte de se embriagar em uma cidade com um certo ar de iodo, uma certa maresia, que emana um perfume forte e fresco, nem sempre agradável, no entanto, suportável e sedutor.
Descobrir uma cidade é meter-se em suas ruas, becos e vielas, ignorar a barreira formada por seus tijolos e concretos e explorar cada centimetro de lugares que muitas vezes passam despercebidos em seu cotidiano.
Onde a massa de turistas costuma frequentar não é de fato recomendável, plastificado para parecer bonito, raras vezes confere a verdadeira identidade do lugar. Os pontos turísticos são 'não-lugares', mascarados para se tornarem atrativos.
A beleza está nos lugares simples, não turísticos e cotidiano ao qual não vemos e tão pouco percebemos por ser tão comum para nós. Mesmo que não seja de fato uma beleza estupenda, arquitetura digna de Niemeyer (um bosta modernista demodé), a beleza está nas ruas não frequentadas, nas antigas igrejas caindo aos pedaços, naquilo que confere a história local e registra seu passado, se tornando um patrimônio cultural tangível e intangível, guardado na gaveta da memória.
E continua, contínua.
Me perdoe a visão de turismóoga no comentário acima, mas esta é a verdadeira sociologia do turismo.
(valeu Krippendorf, pelo menos este curso me serviu de alguma coisa)
Me gusta o que tu escreves
Leitão na Reta da Silva.
Fernando com a Penha na Ferrari.
Na Avenida, Vitoria ouviu Jerônimo.
Monteiro conta histórias..
...histórias de amor.
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