quinta-feira, janeiro 16, 2014

o mesmo lado da moeda

Alberto: Foi uma longa caminhada até o silêncio. Confesso que cheguei com minhas próprias pernas, mas não sei o quanto fui empurrado, me deixando levar e o quanto me dirigi para isso.
Dulce: É triste esse lugar, né? Vejo você com um pouco de pena.
Alberto: Não precisa, não me sinto triste. Me sinto comovido.
Dulce: Não é uma sensação ruim no final das contas. Eu queria te dizer algo.
Alberto: Se queria, não quer mais. Não precisa falar, chegamos nesse lugar juntos.
Dulce: E como você não acha isso triste?
Alberto: Alegria e tristeza são o mesmo lado da moeda.
Dulce: Impossível, alegria é alegria e, tristeza é tristeza. Não são a mesma coisa, isso é absurdo.
Alberto: Elas são o mesmo lado da moeda, porque a moeda não pára de girar. Isso não é um relativismo absurdo, está mais para um efeito ótico, saca? A moeda está girando e tristeza e alegria se fundem enquanto imagem, porque não enquanto sentimento? Quantos risos tristes e quantas tristezas com bom humor já experimentamos!
Dulce: Faz um pouco de sentido, você nunca tentou fazer a moeda parar de girar? Acertar a felicidade! Essa é a meta, não?
Alberto: Não sei Dulce, não sei mesmo. O que antes parecia feliz agora é triste e o que era triste parece-me feliz. Se você me diz que Cara é felicidade e Coroa é tristeza, se girarmos a moeda e der Cara, você pode acostumar-se com essa idéia, mas te garanto que, cedo ou tarde, acontecerá uma metamorfose nesse sentimento.
Dulce: Isso é a natureza humana?
Alberto: Não sei, é algo que eu convivo intimamente. Me conformei com essa idéia.

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