- Você deveria pensar mais antes de falar – Disse Dulce num tom seco – talvez um pouco de reflexão traga o mínimo de censura às suas palavras. Moral não se resume a um princípio cristão, não sei se adianto um pensamento que preciso explorar mais, mas existe um aspecto de auto-preservação nas atitudes morais. Entende? - Ela continuou um pouco mais carinhosa - Esses excessos de intimidade nas suas conversas deixam as palavras com um acento desesperado e inocente.
- Preferia quando eu soava sombrio para você, pelo menos tinha um aspecto soturno e menos óbvio que o desespero. - Disse Alberto com uma indignação bastante triste.
- Dá na mesma, quando te chamei assim foi porque ainda não te conhecia direito e não acreditava que você poderia ser assim durante tanto tempo.
- Assim com?
- Com essa sinceridade covarde.
- Pelo jeito você continua amolada como se estivesse em guerra.
- E você relaxado como se estivesse em paz. Esse lance de você se expor por completo para mim é um recurso barato, sem contar que você esta expert em abstrações.
- Estou evitando pegar aquela febre no estômago que me colocava numa guerra contra o mundo, mas confesso que não sou feliz nessa missão.
- Que mundo Alberto!? Isso é uma construção da sua cabeça! O tamanho do seu mundo é o tamanho da sua dor, não percebe?
- Você parece gostar de atribuir mais culpa do que eu já me disponho a carregar, mas vai em frente... sou como um coração de mãe nesse aspecto, sempre cabe mais uma culpa.
- Tá vendo.
- Por que não analisamos - disse Alberto - um caso específico uma vez pelo menos? Se sairmos das generalidades e abstrações por um instante talvez eu me mostre até um cara calmo e ponderado - Mostrava-se mais uma vez de peito aberto e revelaria até a mais profunda intimidade desde que descobrisse algo espiritualmente - porque me parece até óbvio que as generalidades conduzam ao pessimismo.
- Que caso específico você gostaria de analisar então?
- Talvez o fato de que ainda não tenhamos trepado.
- putz.
- Ok, a minha estupidez social então.
-