quinta-feira, fevereiro 12, 2015

Retratos escritos

Exercício de descrição de rostos, projeto para um face book de verdade.

1.
Seu rosto era arredondado como se não tivesse conhecido, não digo intimamente, mas mesmo corriqueiramente, a fome. Talvez fosse o medo da fome que o fizesse comer com tanto desespero e urgência, mas independente do motivo, o cara tinha um apetite que fazia inveja a qualquer um. Esse apetite combinava com uma voz alta e um jeito de falar que lembrava alguém falando de boca cheia. Um avesso da calvície ocorria na sua face, os cabelos pareciam invadir sua testa, trazendo à sua expressão um aspecto turvo e canino. Quando um sorriso emergia de sua boca, aquele monte de dentes brancos e alinhados era uma discrepância com os pelos e sisudez das expressões. Dócil, fazia-me entender que não devia julgar um livro por sua capa.

2.
O aspecto roedor de sua face tornava sua desconfiança e atitudes sorrateiras ainda mais evidentes, um sorriso debochado contrastava com o gesto sempre constante de por a mão em frente a boca ao sorrir. Na brecha de tempo entre o riso que escapa e a mão que o cobre, você podia perceber a faísca de deboche e zombaria. A barba lhe era farta, mas sempre feita, como se isso o fizesse mais honesto. Evitava o olhar direto nos olhos e seu andar era também hesitante, acho que nunca fez barulho ao caminhar, talvez nem tenha tropeçado na vida, mas isso não o impedia de ser um pouco sujo, num sentindo mais espiritual. Aproveitava brechas para fazer colocações que, se analisadas adequadamente, facilmente caíam no terreno da ofensa. Seus olhos teimosamente se direcionavam para os lados, como se algo ou alguém estivesse pra chegar de supetão. Era um rosto que não inspirava confiança alguma e com certeza sofria por isso.

3.
A pessoa tem um rosto que acompanha seus olhos, nenhuma expressão consegue substituir a mensagem daquele olhar, a claridade da sua íris torna-o ainda mais transparente e revelador. Sua expressão ganhou contornos marcantes com o passar dos anos, suas questões se aprofundaram com as marcas de expressão. Ainda que não tenha respondido nada a que se tenha questionado, digo, uma resposta contundente para se carregar até o fim da vida, parece em harmonia com essas questões. Seu rosto não transparece ignorância, doce, sereno e claro, com lábios macios, tenta recordar minha memória, torna-a suscetível a diversas formas de desejos, mais invasivos ou não. Trabalha com o olhar, como não poderia deixar de ser, seria o mesmo que um orelhudo negando sua pré-disposição para a audição, ou uma bocuda para a fala.

4.
Pense num rosto engraçado, ainda que, as vezes, tentasse abordar assuntos sérios a graça da sua expressão não me permitia acompanhar a profundidade do tema. Já o vi chateado com minhas risadas que lhe pareciam sem fundamento, mas aquele combo de expressão facial e sotaque meio matuto faziam da tarefa de conter a gargalhada, uma missão impossível. Seu olhar não era aberto, as pálpebras cerravam-se nas extremidades externas, seu nariz levemente arredondado e sombrancelhas fartas tinham algo de cômico e porque não de palhaço, sentia-se bem contando causos e piadas, mas sofria ao ser sério. Não sei como brigou com a namorada, pessoa cuja cara de limão era totalmente oposta a dele, mas um dia conseguiu se libertar daquele relacionamento fajuto. Perdi o contato, mas só de lembrar do rosto dele um sorriso me visita.


medo e delírio em vitória

Boca seca e mente turva, ando por esse bairro turbulento, a avenida próspera é uma casca frágil, um quarteirão atrás dela mais uma quebrada histéricamente agitada.
Coloco a mão no bolso, sinto a minha cueca lá dentro. Ela está usada, frente e verso, encostar nela é sujar um pouco mais a minha mão suja No terceiro dia virei ela ao avesso e no quarto tirei fora, coloquei no bolso, não gosto de jogar nada fora. Tenho uma cueca e um vale transporte, estou sujo, com uma ressaca acumulada por dias. Conhaque, cigarro, cerveja e maconha, me sinto podre e devo realmente estar podre. Não me recordo direito por onde andei, sei que as noites sempre acabavam naquela casa onde tudo acontecia, a liberdade era um horizonte presente e as conversas loucas nunca ofendiam, ainda que convidativa, deveria eu estar perdido nessa por dias?
Já voltei pra casa, isso aconteceu há anos, mas de certa forma ainda estou naquele ponto de ônibus na madrugada. Mendigos ainda estão me pedindo um real, dou tudo que tenho, meu vale transporte. mostro minha cueca como um escudo contra o roubo, quem diabos roubaria um cara com a cueca no bolso? Digo que voltarei a pé pra casa, não sei se é certo chamar esse depósito de frustrações de casa, mas o caminho até ela é tão familiar como um lar, nesse caminho me sinto parte de alguma coisa, de uma cidade com suas neuroses e transcendências. Sinto viver esse organismo arquitetônico, cheiro sua sarjeta e nas horas raras seus perfumes mais caros, sou um exilado de todos os cosmos desse espaço, nem pobre demais, tampouco rico o suficiente. Eu sei da riqueza do encontro com os despossuídos, esse tipo de encontro que tive no ponto de ônibus, estamos com tudo o que temos, com tudo que somos. Todos os cacos e riquezas, só carregamos o que precisamos e damos valor, sejam alegrias, tristezas ou vales transportes. Já não tenho meu vale transporte, já não tem mais ônibus. Seguimos até uma encruzilhada, a esquerda um complexo de bocas de fumo, reto minha cama em forma de abismo.
Andar é a forma mais íntima de se relacionar com a cidade, é o máximo da nudez e transparência permitidos, sou íntimo desses fluxos, caminhei tanto que cheguei a delirar. A cidade sem filtros revela suas facetas mais cruas, esbarra-se em arestas, beija-se bocas e asfaltos. Não se estuda uma cidade, no máximo a vivemos ou vemo-la morrer.

quinta-feira, janeiro 16, 2014

o mesmo lado da moeda

Alberto: Foi uma longa caminhada até o silêncio. Confesso que cheguei com minhas próprias pernas, mas não sei o quanto fui empurrado, me deixando levar e o quanto me dirigi para isso.
Dulce: É triste esse lugar, né? Vejo você com um pouco de pena.
Alberto: Não precisa, não me sinto triste. Me sinto comovido.
Dulce: Não é uma sensação ruim no final das contas. Eu queria te dizer algo.
Alberto: Se queria, não quer mais. Não precisa falar, chegamos nesse lugar juntos.
Dulce: E como você não acha isso triste?
Alberto: Alegria e tristeza são o mesmo lado da moeda.
Dulce: Impossível, alegria é alegria e, tristeza é tristeza. Não são a mesma coisa, isso é absurdo.
Alberto: Elas são o mesmo lado da moeda, porque a moeda não pára de girar. Isso não é um relativismo absurdo, está mais para um efeito ótico, saca? A moeda está girando e tristeza e alegria se fundem enquanto imagem, porque não enquanto sentimento? Quantos risos tristes e quantas tristezas com bom humor já experimentamos!
Dulce: Faz um pouco de sentido, você nunca tentou fazer a moeda parar de girar? Acertar a felicidade! Essa é a meta, não?
Alberto: Não sei Dulce, não sei mesmo. O que antes parecia feliz agora é triste e o que era triste parece-me feliz. Se você me diz que Cara é felicidade e Coroa é tristeza, se girarmos a moeda e der Cara, você pode acostumar-se com essa idéia, mas te garanto que, cedo ou tarde, acontecerá uma metamorfose nesse sentimento.
Dulce: Isso é a natureza humana?
Alberto: Não sei, é algo que eu convivo intimamente. Me conformei com essa idéia.

terça-feira, outubro 09, 2012

Liberdade

A liberdade logo chegará, no mar ou nessa ilha. Porque o ceu continua generoso, e o vento ainda sopra gostoso.
Sou feliz ate pelas minhas cicatrizes, quantas vezes elas nao foram poderosas atrizes? Me fazendo parecer mais sofrido do que deveria, me tornando mais humano do que gostaria.
Aprendi do jeito mais dificil, mas isso nunca me fez amar o sacrificio.
A liberdade nem sempre eh conforto, no vazio pode suicidar um roto, que no emaranhado das suas linhas, sufoca-se na saida mesquinha.
A liberdade eh o mar, a liberdade eh o que queriamos, mas nao tinhamos coragem de pedir um ao outro.
Hoje as historias que me rodeiam tornam-me cada vez mais algo que muitos odeiam, a verdade esta no vinho. Na ambiguidade da garrafa vazia, na certeza da mente ebria, no momento da decisao fulminante.
No coracao que insiste em bater, prolonga-se a narrativa em que rastejantes e bravos sao protagonistas de seus proprios dramas.
Quem diria que poderia vestir tal camisa? E fazer tal loucura?

(Em construcao)

terça-feira, setembro 11, 2012

Louco rio

Louco rio que segue seus imperativos até o fim, inevitável destino, seu desaparecimento em águas oceânicas. Louco rio que molda rochas, mas não é capaz de voltar atras.
Adiante louco rio, seu volume de certezas não o impede de cultivar mistérios em suas curvas.
Louco rio, seu destino é a foça ou a foz.

Em processo

terça-feira, agosto 28, 2012

Dane-se tudo! Todos comentários e julgamentos se você anda buscando nunca trair a si mesmo, se você acredita que pode ser tudo ou nada! Se injustiça e meio termo são sinônimos em algum plano.

Conhecendo a profundidade, sempre pule de cabeça!

Esse é um mundo louco em que tenta-se de toda forma aparentar uma normalidade fútil.
Os libertários também tem suas prisões se deixam de derrubar os muros que crescem diariamente.
Os autoritarios cospem tijolos e os resignados lubrificam a maquina.

Hoje é o dia.

quinta-feira, agosto 02, 2012

Eu mudei cem vezes de nome
Ja engordei e senti fome
Conheci hoteis caros e a grama gratuita
O edredon quente e a brisa oculta
O luar sem dono já foi meu
Na mesma noite insana que foi de todo mundo
O trovao surdo disse em voz gutural
Que o destino ainda nao eh o final
Quantas vezes o desvio foi meu unico caminho?
Quantas vezes fui rude em busca de carinho?
Eu sei da sinceridade que escorre no suor
Do fôlego coletivo que divide o fardo
Pois o amor só pode ser honesto
Pois o amor não pode ser deserto.

domingo, janeiro 22, 2012

a onda infinita

"Certamente não', me soprava a razão." (Dostoiévski, O jogador)


Quantos são os episódios onde a razão tem pouca eficácia? Eram tantos os casos onde ela não servia para Franco que já considerava seriamente - e aqui vemos como ele era paradoxal -, se entregar a loucura. Conforme o recorte da realidade a sua lógica, mesmo seguindo parâmetros racionais, ao invés de lhe aproximar de um entendimento sadio do mundo, empurrava-o para a mais profunda obscuridade, não existia senso capaz de frear sua teia de pensamentos. A partir de uma suposição levemente ofensiva, mesmo que sutil, dava então início a uma reunião de pensamentos em associações complexas com significados sempre cortantes. O engraçado é que foram poucas as vezes em que, por causa do pensamento, ele tenha explodido, agido e até mesmo contestado. Depois da maturidade não lembro de nenhuma mais enfática. Seus pensamentos eram seus e isso atormentava ele ainda mais.
Faz algum tempo ele esta dominado por uma ideia, uma ideia antiga que assombra homens e mulheres. Como ela entrou na sua mente? Como ela cresceu como um cancer dentro do seu cérebro? São perguntas que não consigo responder, mas desconfio que mais cedo ou mais tarde ele iria cair nesse labirinto sem saída. Com esse pensamento corrosivo ele se ocupa durantes dias e noites, uma febre da mente que atinge todo seu corpo, do estômago aos fios de cabelo.
Seguro de que esta sendo coerente, atravessa o inferno através do pensamento, remói com habilidade cada gesto alheio que confirma sua teoria. Nem tem saído mais para não esbarrar novamente com esse tipo gesto. Agora mistura um pouco do passado, era uma outra história, mas isso não importa. Tudo esta conectado, tudo tem que estar conectado. Esta sofrendo cada vez mais, é quando o pensamento começa a machucar que sente o poder da lógica. Franco está confiante, a ideia parece tão precisa e lúcida que chega a ser transparente.
E antes que ele mesmo provoque aquilo que a covardia alheia se nega a fazer com as próprias mãos, porque mesmo que infligindo esse tipo de provocador é antes de tudo um covarde passivo. Franco desarma-se de tudo que fere, atravessa os últimos metros das sombras através de uma inércia exaurida.
Sofreu, não fez nada, mas está convicto. A exaustão trouxe mais uma vez um tipo de paz que somente ela traria.

quarta-feira, abril 07, 2010

do abismo

a imagem do abismo sempre me encantou, muito mais pelo mistério que sua profundeza esconde do que pelo convite que escuto vindo das brisas abismais. Eu tenho uma certeza misteriosa que no fundo do abismo você vai achar um espelho, mas isso é uma baita especulação. No fundo do poço eu encontrei uma pá e um bocado de lama (isso é empírico).

quinta-feira, novembro 12, 2009

folk da bala perdida

meus joelhos se dobram igual uma esquina fudida
a escuridão que antes assustava agora domina
antes que o catarro desça e acalme meu estômago nervoso
meu olhar se refresca com a certeza de uma antiga maldição
a dor se foi com a última certeza infame
o sangue negro do fígado me faz sentir duas vezes mais homem
morrendo tudo parece duas vezes mais idiota
até a temida morte recebe a última chacota.
(cuspe)
tiro o chapéu, quero sentir o chão com minha testa.
meu último som oco para acabar com a festa.

quarta-feira, setembro 02, 2009

Consumido pelo fogo

"Os homens receberam seu eu como algo pertencente a cada um, diferente de todos os outros, para que ele possa com tanto maior segurança se tornar igual" T. W. Adorno


A crise do sujeito criou as condições existenciais e históricas para o desenvolvimento do sujeito da crise. O indivíduo que resulta do processo de estratificação inaugurado com a separação da economia das demais esferas da vida não encontra limites para outras especializações e separações. Esse sujeito que se apresenta para a história flexível e superficial ganha, através da ideologia pós-moderna, uma complexidade que só tem paralelo com o tamanho de seu vazio, inclusive o de origem intelectual. É nítido que essa complexidade é estritamente ideológica, porque o indivíduo pós-moderno é flexível no pior sentido do termo, digo, flexível sobretudo no que tange as suas mais variadas formas de submissão.


Experiência em primeira pessoa.

Uma força de massificação ou centrifugação sempre me perturbou, essa mesma força até então nebulosa, era difícil de decifrar. Chamei de "vontade de rebanho" após ver a organização espacial de um camping, mas não fui mais longe do que arranjar uma nomenclatura. Essa força durante um longo período da minha vida aproximou-me de encontros e situações que dificilmente alguém aceitaria de bom grado e isso caracterizava boa parte dos dois fronts de encontro. Esse tipo de destino social que alguns tentam atribuir à mãos invisíveis ou outras forças exteriores passíveis de qualquer identificação mais ou menos esotérica é, em boa parte, de minha inteira responsabilidade. Essa força sempre nos uniu enquanto separados, como bem observou Debord e a IS. E a minha intenção era experimentar nesses encontros forçados de primeiro grau aquilo que Cláudio Duarte apontou no texto sobre o "Homem sem qualidades" onde ele tem como questão principal "mostrar que mesmo assim tal homem suporta a particularidade de uma certa época histórica".

Suportar a particularidade de uma época, ao invés de vivenciá-la e contruí-la é o tipo de adaptação do homem sem qualidades. Suportar essa especialidade histórica, creio eu, só é possivel mediante a acumulação de alguns momentos impossíveis de serem desapropriados. Circunstâncias que só podem ser valoradas no universo da memória. Essa jornada individual, no meu caso, tornou-se com tanto maior segurança arruinada devido um processo incansável em busca do esquecimento absoluto. Tudo aquilo que escapou da compreensão no turbilhão socializador foi como a água que escapa por entre os dedos que almejam retê-la. Dessa pretensão metaforizada ficou simplesmente a sensação de umidade – uma forma nebulosa de frescor experimentada nas derivas. São raros e efêmeros os momentos recompensadores no deserto social. São as risadas e a casualidade das palavras que levam a uma comunicação profunda que fazem dos encontros uma possibilidade verdadeira de comunhão. Esse tipo de instante demora o suficiente para ser memorável é o tipo de riqueza há muito esquecida pelos materialistas de todo tipo. É o tipo de riqueza que consumi com o fogo e a fumaça.

Agora nem a saudade me resta, pois a saudade é o vazio preenchido por lembranças e boa parte das minhas estão deletadas. O que restou disso foi um furacão de longos dias acordado girando ao redor de uma mesma questão. Fui consumido pelo fogo e não sei o que vai sair dessas cinzas, talvez só mais um homem sem qualidades.


Por: João de Lírio
(texto originalmente escrito para o fanzine true lies #4 de barra mansa)

sexta-feira, julho 10, 2009

Perdido na tradição

D: Você é uma falcatrua!
A: Não acredito que atravessei o inferno à toa.
D: Que inferno? Ai meu deus, além de falcatrua é melodramático.
A: Cada um sabe a cruz que carrega.
D: Cristão também!? Você precisa entender que teve tudo sempre de mão beijada, você não tem o direito, n-ã-o t-e-m o d-i-r-e-i-t-o de reclamar. Se algo tão simples, ainda mais sendo do seu próprio interesse, tenha se transformado num calvário isso é problema exclusivamente seu.
A: Certo Dulce, você quer e sabe ser afiada, não me espanta que o seja. Este assunto só poderia ser tratado contigo porque compartilhamos a intimidade tão bem que mesmo através de abstrações chegaremos no núcleo do problema. O prisma que você utiliza é perfeitamente cabível e adequado aos meus critérios de julgamento, não fujo nem um milímetro da responsabilidade, inclusive das minhas atitudes mais inconseqüentes ou inconscientes. A questão nunca foi essa.
D: E qual foi?
A: Resumir as coisas ao indivíduo é tão simples quanto cruel, o problema é que se eu continuar com essa linha vai parecer que estou me desculpando e não quero ter essa intenção.
D: Ah! Alberto. Não gosto do seu discurso, às vezes vejo tanto sofrimento no seu coração, se você não tivesse sido covarde comigo, até teria simpatia por sua pessoa.
A: Não misture as coisas.
D: Não exija merda nenhuma, você é uma falcatrua.
A: Enquanto você se ocupa em atirar pedras, prefiro juntá-las para fazer um muro. Quanto mais você jogar maior será a altura do mesmo.
D: Estarei do lado de fora do muro?
A: Preciso sobreviver a sua artilharia para construí-lo, depois disso saberei o que é dentro e fora nessa guerra toda.
D: Você é desprezível, mas às vezes fala umas coisas que me encantam.
A: Você tem muita raiva e isso, por incrível que pareça, me ajuda. Só não posso parecer irônico, porque esses seus sentimentos são como um castelo de cartas, eles podem ficar extremamente altos e complexos, mas uma simples brisa pode levá-lo ao chão.
D: Teve aquela vez que você riu e levou umas bordoadas.
A: Achei que nunca mais conseguiria olhar nos seus olhos novamente, mas veja como é o tempo e suas propriedades alucinógenas.
D: Alucinógenas?
A: Convenhamos, você foi de uma conivência absurda, isso não é coisa que se faça.
D: Você sempre se mostrou ultra-inteligente, por que eu haveria de te ensinar algo?

Alberto da uma risada constrangida enquanto coça a cabeça. Um silêncio se instala na mesa, parece que o mundo todo se calou.

A: Vou dar uma volta, essa conversa não vai levar a lugar nenhum.
D: Como é que aquele menino falava? “We're going nowhere!”
A: Isso está fora do contexto e o entusiasmo que tinha correu pelo ralo.
D: Alberto, você é uma falcatrua.
A: Tudo bem, você venceu. Batata frita. A falcatrua aqui vai ficar bêbada com seus demônios.
D: Vai se tratar.
A: Vou, meu consultório é o bar. Beijo.
do abismo
"por maior que seja o abismo ele sempre encontrará uma alma que lhe sirva"

domingo, julho 05, 2009

Da sabedoria (ou da misantropia?)

"Sabedoria é conseguir usar a solidão para preencher o vazio."

(ah! esses longos dias...)

quarta-feira, junho 24, 2009

Quando o sujeito decadente reconhece seu espírito decadente, o orgulho e o temperamento que antes moviam-no ladeira abaixo, com determinação e velocidade são freiados com todo o peso do mundo. O princípio da inércia arrastaria esse sujeito alguns metros ainda mais abaixo, no abismo solitário que já estava habituado. Esse reconhecimento ao mesmo tempo que assustador e doloroso, identifica um processo que já tem, independente desta compreensão, um destino social determinado.

(corrigido?)

quarta-feira, junho 10, 2009

- Nomadismo não leva a lugar nenhum.
- É pra lá mesmo que vou antes do inferno.
- Que besteirol é esse de inferno?
- Tirei de um filme. O Del Gue fala com o Jeremiah "sei lá o que... hell in the end". Era sobre o destino que cada um tomaria assim que se separassem. Pior que o Del Gue estava querendo acompanhar o Jeremias, mas esse não aguentava mais os outros depois de uma longa perseguição através dos anos.
- Por falar em destino... o que pensa da vida?
- Qualquer coisa fora das suas dimensões.
- Hãn?!
- Não quero parecer brilhante, não se trata disso e você sabe, mas não sei como está sua estima. Nesses dias de crise, qualquer coisinha pode parecer prepotente. Fora das suas dimensões, é tentar viver de um jeito que você não aprendeu a viver e tão pouco me ensinou.
- Como assim?
- Criativamente. Viver criativamente.
- Tá me chamando de burro?
- Não! Você é e, sempre será, duas vezes mais inteligente que eu. Sinceramente não vejo nenhuma possibilidade de sucesso ao contar exclusivamente com minha criatividade, mas vejo uma infinidade de tristeza se ficar acorrentado como você, nessa areia movediça que chamam de serviço.
- Besteira. Foges do emprego como o diabo foge da cruz.
- Em outras épocas chamariam isso de uma atitude sensata.
- Só se for lá nos tempos ciganos.
- Onde ou quando for eu estaria em boa companhia, mas deixe-me ir para lugar nenhum antes que visite o inferno no final.

terça-feira, abril 21, 2009

ditados reloaded

"quem vacila amigo é"

"melhor sumir do que remediar"

segunda-feira, abril 13, 2009

"nada se esquece, no máximo se esconde"

do labirinto da consciência

quinta-feira, março 19, 2009

"Reclamar é para muitos, eu quero viver." L.P.

Agora eu fui. qualquer coisa: http://roadloveregret.blogspot.com

quarta-feira, março 11, 2009

curriculum vitae

Ele entrou no antigo emprego e disse: desculpe se em algum momento da minha vida de funcionário demonstrei algum interesse em continuar ou acender nesse emprego, com certeza fui vítima de todas as patologias que vocês mesmo funcionários-competitivos-de-merda fizeram questão de me imputar e, tenho certeza de que em algum momento demonstrei interesse nesse estilo de vida que tanto abomino. Sei disso porque vocês conseguiram me ofender, me senti humilhado pela gentalha e sua retórica de golpe baixo. Se me ofenderam foi porque me convenceram de algo, me fizeram deixar de ser indiferente. A ração quase ficou com gosto de lagosta, mas um soco sempre será um soco e viver rastejando num mundo cujas regras e trapaças não dizem nada a seu respeito é uma estupidez sem tamanho. Vocês fizeram da sua prostituição a minha prostituição e hoje é com prazer que o sol queima minha pele suja enquanto perambulo pela cidade, é como se aquela crosta de sujeira me protegesse contra as patologias com que vocês tanto me infernizaram. Gostaria de ter um aspecto mais aceitável, porque hoje mal posso passar dessa porta sem levar alguns chutes e pontapés, mas pouco importa. Não respeito vocês e tão pouco sou indiferente à toda essa merda que vocês fazem por debaixo de panos cada vez mais sujos. Vocês também estão com uma crosta repugnante cobrindo sua forma reptiliana asquerosa, esta crosta se parece com automóveis do ano e perfumes franceses, clareamento dentário e bom ar para camuflar seus gases. A distinção que vocês tanto querem exaltar de pessoas como eu ficou cada vez mais restrita aos zero$ antes da vírgula. Eu odeio você e toda sua laia.

quarta-feira, fevereiro 18, 2009

Num piscar de olhos aquilo que era cotidiano transformou-se em absurdo. Não sabia nem como e tão pouco o porquê. Minha consciência parecia cheia de buracos negros e minha alma um retalho de sensações. Confiava no meu juízo, mas o caminho sempre fora tortuoso. Eu queria pegar a porra da estrada, assim fui.
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Vou me despedindo do blog por um tempo... se conseguir fazer algo que presta estará publicado no roadloveregret.blogspot.com

adios niños e niñas.
the road, my passion, my curse.

quarta-feira, fevereiro 04, 2009

grandes questões de gente pequeña II

Todo erro transmite a sensação de retorno?

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

grandes questões de gente pequena

É possível que duas pessoas, de lugares completamente diferentes, partindo para a solução de uma mesma questão cheguem num determinado lugar sem nunca antes terem se encontrado?

terça-feira, janeiro 27, 2009

mensagem na garrafa

Encontrou a seguinte anotação no seu bolso: "o pequeno pedaço de sabonete na pia dava o tom de tempos de economia, a única coisa que acumulava naquele ambiente era uma poeira incrustante. A imagem que tinha daquele lugar era a de uma pia de cozinha muito antiga, daquelas que por mais que você a limpe, um aspecto de sujo e velho não consegue ser tirado por nada nesse mundo”. Não fazia idéia de onde estivera, mas aquele bilhete criara nele uma imagem tão nítida que reconheceria essa cozinha mesmo através da porta.
Sua memória voltava a lhe pregar peças, bilhetes deixados a esmo em seus bolsos e a sensação constante de não reconhecimento atormentava-lhe a consciência. Seria isso um sonho maluco? Estava novamente na sua casa, mas não reconhecia nada além de sua caligrafia nas paredes. - “Que lugar é esse? E por que escrevi isso nas paredes?”
A memória tem vontade própria e à medida que se sente maltratada pelas substancias encontra outros espaços para se manter existindo. No curioso caso de P. ela havia se refugiado na escrita, particularmente naquela feita à mão. As imagens que brotavam de seus escritos recuperavam aquilo que nunca havia pertencido a ele próprio.
Quando ele ficava vários dias seguidos sem escrever, tinha a forte impressão de que havia dormido por semanas sem parar e foi numa dessas hibernadas que P. acordou com uma mulher ao seu lado na cama. Ela tinha escrito nos braços dela que ela realizava a poesia na vida e que conseguia traduzir diamantes, isso bastou para que seu mau humor desaparecesse, mas o remorso de só saber dela aquilo que havia escrito angustiava seu coração, não acordou a moça e, com essa sensação de parcialidade do conhecimento foi direto para o banheiro. Enquanto escovava os dentes viu no reflexo do espelho uma frase escrita com uma letra feminina em seu peito. Teve dificuldade de ler a frase refletida e contorcido começou a entendê-la “você escreveu a vida em meus olhos, não precisa mais sentir a ausência”.
Aquela frase ganhou um contorno sonoro, ele podia ouvi-la sendo sussurrada em seus ouvidos. Ele reconhecia a voz que estava por trás daquelas palavras, ele sabia quem as havia proferido ele se lembrava da pele que cobria aquelas palavras e do olhar carinhoso que preenchia os silêncios. P. então correu para seu suposto quarto e olho para sua suposta cama e ela estava completamente vazia.
Desacreditado escreveu um bilhete “M. acreditava que destruía minha memória com as substâncias que consumia, mas é a distancia entre nossos corpos que faz toda lembrança perder o sentido. Você é a minha ilha e enquanto não te achar novamente, deixe-me sentir sua falta”. Lembrou de Guadacanal a ilha onde havia encontrado M. pela primeira vez, lembrou de toda inocência que os rodeavam, de todo amor que só poderia nascer ali mesmo, naquelas praias tropicais. Lembrou de tantos detalhes da sua personalidade e corpo que não conseguiria sequer descrevê-las, a velocidade que essas sensações voltavam para sua consciência não existia escrita rápida o suficiente para transcrevê-las.
Ao não conseguir realizar isso voltou a dormir por dias. Não estava por perto quando ele meteu a mão no bolso de sua bermuda suja e encontrou o bilhete que escrevera para a posteridade, soube que o encontrara andando pelas estradas do norte. Quase consigo enxergar o sorriso que seu rosto desenhou ao saber o que estava procurando e para onde estava indo. P. sumiu, mas aposto que sua memória voltou.

terça-feira, janeiro 20, 2009

"se é verdade que a linha reta faz uma curva no infinito, essa curva com certeza é para a direita"

da política

sexta-feira, janeiro 09, 2009

da saudade.

"A saudade é o vazio preenchido por lembranças."

quarta-feira, dezembro 24, 2008

uma historinha iluminada

Era uma noite escura e sem lua, Brenner ao sair da sala iluminada pensou "Será que meus olhos um dia não se adaptarão à escuridão?", continuou caminhando e, alguns passos mais adentro na escuridão, tropeçou numa pedra e enfiou a cara no barro. Ao limpar a sujeira do rosto e da roupa parecia ter descoberto a resposta.

sábado, novembro 22, 2008

fotogratextos

Aqui estão pequenos textos e diálogos fictícios que escrevi influenciado por imagens. Escrevi-os direto na internet e por isso não contém nenhuma espécie de revisão. Continuarão assim até que a vergonha ou a sensatez me faça apagá-los, mas como alguns de vocês que me conhecem sabem, sensatez nunca foi meu forte.

- me empresta o pano. - disse o motorista
- maldita tempestade de areia. - disse o co-piloto.
- pelo menos quebrou o tédio da estrada.
- falar do tempo sempre me deixa encafifado sobre a estupidez das minhas palavras, mas confesso que trocaria qualquer palavra, mesmo as inteligentes, pela simples observação da paisagem.
- deixa de ser retardado, eu fico o tempo todo concentrado nessa faixa estreita e continua de asfalto enquanto você deixa seu pensamento vagabundear pelas planícies. A paisagem também é um resultado do "tempo", assim como nosso diálogo.
- depois vai ser minha vez de dirigir e você pode fazer o mesmo.
- não tem graça.
- dirigir é que não tem graça.
- não tem graça ficar em silêncio, eu digo.
- e eu me preocupava com a estupidez, mas ok. Pense no seguinte, estamos enfurnados neste veiculo no meio do nada, estamos indo para lugar nenhum e provavelmente quando lá chegarmos teremos que lidar com os mesmos demônios que enfrentávamos antes.
- não podemos fugir de nós mesmos.
- isso, mas o pior de tudo é que o automóvel é a invenção mais estúpida para o movimento. é um maldito aquário com rodinhas.
- tá, mas vamos ao menos cruzar o deserto... ai nós pegamos uma carona ou andamos a pé.
- tanto faz, só não exija um diálogo nessa pocilga.

Conheci um sujeito interessante que fazia historia, mas não via o tempo passar.

- eu não nasci para existir.
- desistir?
- Existir, eee-xistir. Saca? Até tenho saco para toda essa merda, mas minha parede estomacal é fina igual uma seda... por isso eu sou uma "mocinha" em alguns sentidos.
- vixi cara que onda, esse lance de desistir é mó palha.. você quer conversar?
- nem um nem outro.
- qual outro? só falei de conversar.
- o outro é ter que te ouvir.
- vixi cara, você tá mal hein? é aquela tal febre de estômago que você tanto fala te atacando denovo?
- nem é... sabe o que aconteceu?
- não.
- o dia foi bem longo e por dia eu entendo, não o período em que o sol ilumina meu pedaço de terra, mas o tempo em que tenho as pessoas e sua radiante mesquinharia no meu horizonte.
- por isso você é um cara "noturno"...
- por isso que eu to saindo fora bixo.

Num piscar de olhos toda intimidade sumiu, não queee... tenha se transformado em vergonha ou antipatia, não foi isso. Sumiu! Desaparecemos um para o outro, nos perdemos ou separamos, não sei ao certo. Foi coooomo se o universo fosse tão grande como falam e tão conspirador como pretendem.

madrugada escura, ruas que pela manhã são grosseiramente barulhentas agora estão assustadoramente silenciosas. a idéia fixa do perigo as vezes escapa numa lembrança da noite ou numa idéia ébria sempre acompanhada de um sorriso zombeteiro. Se a sorte estivesse comigo não estaria andando pela madrugada e o pior junto com a escória paranóica do crack. Tudo que fiz foi ser azarado e displicente. Esse maldito clima policial, mais uma ótima oportunidade para ser mal sucedido. Sem a percepção dos policiais e a astúcia dos bandidos sou um alvo fácil para o mau-caratismo. Relógio parado e no meu bolso um canivete que não tenho a menor noção de como usá-lo. Quero acreditar que ele vai salvar minha vida, mas sei que descascará uma centena de laranjas e não conhecerá uma gota de sangue. Maldita atmosfera policial, preciso arrumar uma namorada.

Esse sol não era bom para a plantação de trigo, mas se deus quis fazer da terra uma frigideira quem sou eu para contestá-lo. As criações já demonstram algum nervosismo, não sei como escrever sobre isso mas sinto que os bixos domesticados começam a reavaliar esse acordo primitivo que fizeram com os homens. Se deus quis que esse acordo fosse revisto justamente na minha geração, quem sou eu para contestá-lo! Parece que uma pergunta há muito tempo deixada de lado simplesmente cansou de esperar e, já não procura uma resposta, na verdade esta cobrando pelo nosso silêncio. Meus cavalos (trovão, crespúsculo e batucada) continuam cavalgando com a mesma disciplina, mas o som que sai dos seus cascos parecem tambores agitados da revolta. Ainda bem que Orwell me alertou de uma revolta animal. Comprei um belo rifle Hawkin para me defender. Mas se todos animais se revoltarem e o sentido de comunidade da fazenda evaporar pelo ares, terei eu coragem de mata-los todos? Vai saber. O primeiro gesto que poderia ter tomado, já o fiz. carreguei aquele rifle e fiquei com os olhos bem abertos. Tomara que os cachorros não mudem de time, porque os porcos já me exigiram mais ração para manter o bico fechado nos tumultos.

- Cansei de tentar entender essa cidade - disse o prédio mais alto.
- É complicado se você parte de um referencial estático.
- Isso deveria conferir à minha interpretação uma estabilidade necessária ao entendimento.
- Esse não é o espírito do nosso tempo. E mesmo assim, quem disse que você está exatamente estático, nesse momento tem toda uma ação do tempo correndo seu âmago.
- Você ainda pensa em espírito soterrado por tanto asfalto e concreto?
- O paradoxo joga conosco, né?
- Tudo está assustadoramente vazio, a existência parece uma piada de mau-gosto e mesmo assim a idéia de jogo, por mais rasteira que seja, ainda encanta um número enorme de construções desencantadas.
- Como assim?
- Veja, somos escombros, somos amigos e na maior parte do tempo não precisamos desses mecanismos, mas se aparece um terceiro edifício nós ficaremos tentados a jogar. Tentar influenciar o comportamento alheio, sugerir, ironizar e, caso esse terceiro prédio seja uma bela Biblioteca ou Taberna o jogo ganhará uma conotação sexual que sem um desenlace correspondente só reforça a miséria do cotidiano urbano.
- É a arquitetura egoísta. Isso está em nossos pilares – disse o prédio baixinho de escritórios.
- E como você explica os condomínios?
- O egoísmo me parece uma inveja que reflete para dentro, uma auto-imagem que se mantém, mas ainda assim precisa de algo exterior para existir. Você só pode ser egoísta em relação à outra construção. Não sei direito. O princípio é supostamente autônomo, mas a rivalidade interna que ele suscita – a afirmação individual do edifício em contraponto com a sua integração à cidade – demole intrinsecamente sua auto-justificativa.
- Você não acha que isso é pensamento demais para nossa caixa d’água?
- Não sei, tomara que nosso arquiteto tenha feito um cálculo estrutural para agüentar toda essa merda.
- Tomara.

Gostava das florestas. Agradava-lhe caminhar perdido entre pedras, árvores e bichos, mas gostava principalmente de se sentir arranhado e "sufocado" (embora cheio de ar) pela vida. Não pensava na natureza como uma espécie de senhora bondosa, gostava da idéia de força, vingança e sobrevivência. Se a natureza fosse uma mãe ela seria uma mãe com muitos filhos, tantos que eles mesmos deveriam tomar conta uns dos outros, ela era livre da moral e da culpa. Talvez se arrependesse de uma filha em particular, a humanidade, mas isso é outra história.
Essa que conto é a história do Niño Lobo, o garoto amante das florestas e das derivas no mato, ele preferia quando era uma longa e alucinante descida, pois jogava-se por entre as galhas em alta velocidade, quanto mais se arranhava mais sentia seu corpo impenetrável. Por mais que espinhos e pontas de galho as vezes se comportem dura e violentamente, sentia-se como uma pipa cortada flutuando levemente pelo céu. Gostava da floresta porque um dia achou um "pé de gente" e sempre que queria uma mina pegava ela madurinha no pé.


ps.: também gostava dos feixes de luz que atravessavam as folhas.



- se te dissesse que nunca mais serei o mesmo.
- não sei o que isso significa, mas acho que você deve escrever isso.
- quantas vezes?
- quantas forem necessárias para limpar sua alma.
- não tem papel, madeira ou areia de praia suficiente para isso.
- se precisa escrever tanto assim é melhor começar logo.

sexta-feira, novembro 14, 2008

"deixar para fazer as coisas na última hora pode ser o momento ideal para fazê-las apenas uma vez"

do jeitinho.

segunda-feira, novembro 10, 2008

"o senso comum parece uma grande conspiração e pior, pode funcionar como tal."

da paranóia.

domingo, novembro 09, 2008

redução no estômago diminui a gastrite.

Essa é o tipo de certeza que não fazia a menor diferença para existência, mas gostava de pensar que aquela menina realmente me odiava. Nunca vi sorrisos e respostas confirmarem tanto essa impressão. Não sabia se estava certo, mas não estava muito longe da verdade. Se aquilo tudo era charme, merda!, a existência realmente alcançou as raias do patético. Eu simplesmente queria ver aquilo tudo mais de perto, queria sentir aquilo tudo mais na pele. Não me importava de ser parte do ridículo, não me importava em ser parte da piada. A vida era uma loucura-de-mão-dupla e, simplesmente, não optei por fazer o papel de leva-e-traz desse tipo de insanidade. Estava mais uma vez deslocado, nem era por causa do ódio característico do seu olhar, aquilo simplesmente me acolhia porque gostava de senti-la me odiando bem próximo. Sentia-me desconfortável somente quando o seu convite para a convivência me colocava numa espécie de sinuca de bico, quando seu ódio era uma mensagem criptografada, inteligível somente para seus amigos mais antigos.
Dulce era doce, mas nada adoçava seu olhar envenenado. Ela gargalhava como se aquilo fosse um privilégio, uma exclusividade da sua pessoa, isso fazia do meu estômago um cárcere da revolta. Minha consciência procurava dezenas de motivos para acreditar que ela era traumatizada, que fazia aquilo numa vingança contra o mundo quando, na verdade, ela simplesmente fazia da nossa intimidade o adubo de seu prazer malicioso.
Minha mão queria esmagar a dela, meus olhos queriam incendiar sua alma. Eu era um homem ridículo, mas se esse ridículo fosse exclusivamente meu, aceitaria de coração. Talvez ele até fosse exclusivamente meu, eu queria ser a porra do lobo da estepe, não queria? Mas antes disso, antes de colocar esse projeto em andamento eu.... eu tinha amigos, tinha mulheres, tinha família... onde eles estavam? Eu sei a resposta. Soterrados na minha própria insanidade.
Um princípio de convulsão começou a se apoderar de minhas células, músculos e papilas.
Precisava encontrar alguma calma. Precisava encontra alguma frieza.
Queria odiá-la, mas isso não era o papel social dela?
Queria responder mais do que perguntar, queria me sentir ignorante novamente. Eu sei o tanto que aquilo fazia bem para o meu espírito elevando-o até passar por cima de toda pretensão gentalhesca.
Ladainha.
Você foi a última pessoa por quem me apaixonei e provavelmente será a última. Não pense que sou piegas ou dramático dizendo isso. Por favor, não grite ou discorde de mim. Não te incomodo muito e só digo isso para impedir que o vazio se apodere de mim. Ele é infinitamente mais doloroso que qualquer ataque seu. Você só precisa esperar até isso acontecer novamente, até que eu me apaixone por outra pessoa de novo. Que ela me odeie ou ame, dane-se. Você me desculpe, mas preciso acreditar que essa paixão por você será eterna independente de toda rejeição, desprezo, mau-caratismo, deboche, ironia e maledicência que você, meu amor, tenha proferido. Você não precisa me atender no telefone, não precisa ler meus emails ou conversar comigo, eu só peço que continue ai, do jeito que você está em minha memória. Por favor!
-... (um grunhido diz alguma coisa que só eu consigo entender e que é simplesmente intraduzível)
-Impossível!? Quem disse esse absurdo!?
-.... (novamente)
-Minha própria memória? Não é de hoje que me sinto traído por essa meretriz!
- ....
-Se você não é exatamente aquilo que contive em minha memória por quem estou apaixonado? Isso tudo era uma miragem desde a sua origem?
- Você é viciado na sensação de estar apaixonado, independe o “conteúdo” ou melhor, independe a “outra”.
- Por que só agora você se manifesta?
- Porque me cansei do seu egocentrismo.
- E quem é você?
- Sou sua ressaca.
- Prazer.
- É todo seu.

sexta-feira, novembro 07, 2008

"parar com um vício faz você se sentir forte, se entregar a ele faz você se sentir acompanhado"

da nicotina.

quarta-feira, novembro 05, 2008

buteco dos conhaques uivantes

Como se uma voz sussurrasse no meu ouvido e, tinha tempos que não escutava um doce sussurro. Apesar do tom suave e do sotaque encantador a mensagem era sinistra e bagunçada, dizia caoticamente: "there's no chance, ça vá? Go! e foda tout ao seu around, você avez understand, mané?" Eu coçava os olhos e tentava entender da onde vinha aquela mensagem que, a cada pegada no copo, quando meu foco se concentrava nas cores do conhaque e na imagem do fundo que começava a se revelar, era repetida e embaralhada cada vez mais dentro da minha cabeça.
Esse tipo de confusão mental eu, geralmente, reservava para os momentos solitários de ajuste de consciência. Como pude perceber esses ajustes nunca foram eficazes e sempre ignoraram pedaços enormes da minha existência. Dessa vez a enxurrada de idéias escolheu um antigo bar que freqüentava e para evitar os efeitos catastróficos me perguntava inocentemente que tipo de "silêncio" anunciava essas tempestades. Esse é o tipo de pergunta que faz de você uma mosca morta no meio duma briga, um panaca diante de um flerte e uma piada diante da ironia.
Voltando ao bar, do meu lado tinha uma menina e um rapaz afeminado, como a voz parecia feminina, mal terminei uma golada e me virei diretamente para ela. Era o tipo de sussurro que tem que ser dito bem perto do ouvido. Achei que com esse gesto ágil conseguiria pegá-la no flagra, mas foi assustador quando a vi com o olhar completamente distante.
Outro gole, mas esse foi menor porque a bebida já estava no final. Esperei lendo o fundo do copo que a voz voltasse a pronunciar algo, mas foi da minha boca que sairam algumas palavras pedindo um "outro conhaque, por favor". Alguém comentou na mesa que bebia conhaque quando tinha 15 anos. Pensei "uau" sem querer me explicar muito disse que gostava mesmo da bebida.
Distração ou socialização, não sabia ao certo. A voz parecia ter saído do meu ouvido e entrado na minha corrente sanguínea, se "a verdade está no vinho" o caos estava engarrafado com o conhaque. "Sim, é isso!" comemorei como se essa fosse uma idéia brilhante, felizmente interrompida por um "Aqui seu conhaque". Era esse o som que precedia minha tempestade, pensei. As primeiras doses vieram acompanhadas de um constrangedor "senhor", esse tipo de idiotice não era mais necessária, mas não sei porque havia reparado sua ausência. Dei um longo gole para ver se a voz voltava aos meus ouvidos. Nada. Volto a atenção para a mesa e vejo que a conversa é interessante, mas minha mente está tão turva que existe um abismo entre o pensamento e a fala. Faço uma piada infeliz, então escuto novamente "there's no chance". Concentro-me para não demonstrar o baque que foi escutar isso novamente, agora mais sussurado e próximo da minha orelha ou loucura. Fui bem sucedido porque ninguém prestava atenção de qualquer forma. Olho pro fundo do copo novamente e, ao inclinar o mesmo para beber... o líquido que parecia um mel mais fluído escorre pela parede do copo formando um desenho. Ele parece um órgão, parece um polvo, parece um câncer.
Engasgo com a bebida e para não deixar o soluço sozinho no universo faço uma careta terrível, alguém me olha com pena e desprezo. Penso que a pessoa não sabe se expressar direito. É patética e paradoxalmente ambígua. Com certeza quer agradar a opinião pública. Eu sou apenas ridículo e isso é simples, é puro, é cristalino. Tento pedir outro conhaque, mas o garçon me ignora. Esse tipo de atitude me tira de qualquer lugar. Estou ousado porque tenho um pouco de dinheiro no bolso, hoje não preciso de cartão. Hoje eu sou o poderoso chefão. Me despeço e deixo vinte reais na mesa, penso que o conhaque é barato demais para vinte reais, mas estou bêbado demais para fazer conta. O poderoso bebão. A voz volta para se despedir da noite "there's no chance, c'est merda no tien fin, ça vá mané?". Digo "ok" sorrindo.

quinta-feira, outubro 30, 2008

pensar duas vezes antes de fazer qualquer coisa na vida é a oportunidade perfeita para vivê-la pela metade.

quinta-feira, setembro 04, 2008

"se o pensamento é liquido cedo ou tarde ele acha o caminho atraves da barragem."

"do jeitinho"
"para falar com a massa, o homem precisa da multidão.
para falar com o ser, o homem precisa da solidão."

de uma idéia nietzscheniana, mas aposto que é tão recorrente como a sede.

domingo, julho 27, 2008

- Você deveria pensar mais antes de falar – Disse Dulce num tom seco – talvez um pouco de reflexão traga o mínimo de censura às suas palavras. Moral não se resume a um princípio cristão, não sei se adianto um pensamento que preciso explorar mais, mas existe um aspecto de auto-preservação nas atitudes morais. Entende? - Ela continuou um pouco mais carinhosa - Esses excessos de intimidade nas suas conversas deixam as palavras com um acento desesperado e inocente.

- Preferia quando eu soava sombrio para você, pelo menos tinha um aspecto soturno e menos óbvio que o desespero. - Disse Alberto com uma indignação bastante triste.

- Dá na mesma, quando te chamei assim foi porque ainda não te conhecia direito e não acreditava que você poderia ser assim durante tanto tempo.

- Assim com?

- Com essa sinceridade covarde.

- Pelo jeito você continua amolada como se estivesse em guerra.

- E você relaxado como se estivesse em paz. Esse lance de você se expor por completo para mim é um recurso barato, sem contar que você esta expert em abstrações.

- Estou evitando pegar aquela febre no estômago que me colocava numa guerra contra o mundo, mas confesso que não sou feliz nessa missão.

- Que mundo Alberto!? Isso é uma construção da sua cabeça! O tamanho do seu mundo é o tamanho da sua dor, não percebe?

- Você parece gostar de atribuir mais culpa do que eu já me disponho a carregar, mas vai em frente... sou como um coração de mãe nesse aspecto, sempre cabe mais uma culpa.

- Tá vendo.

- Por que não analisamos - disse Alberto - um caso específico uma vez pelo menos? Se sairmos das generalidades e abstrações por um instante talvez eu me mostre até um cara calmo e ponderado - Mostrava-se mais uma vez de peito aberto e revelaria até a mais profunda intimidade desde que descobrisse algo espiritualmente - porque me parece até óbvio que as generalidades conduzam ao pessimismo.

- Que caso específico você gostaria de analisar então?

- Talvez o fato de que ainda não tenhamos trepado.

- putz.

- Ok, a minha estupidez social então.



-

domingo, junho 29, 2008

aforismos sobre a inimizade

"o avanço civilizatório pode ser resumido na progressiva transformação da inimizade num assunto burocrático"

"numa conversa entre dois inimigos quando brota um sorriso, vangloria-se a vilania."

tirei do meu livro de culinária "delícias do suco gástrico" publicado pela editora razões da bílis.

quinta-feira, junho 19, 2008

rapidas anotações sobre alucinações

"Ganhar-se-ia bastante se, pela instrução em tempo apropriado, fosse erradicada nos jovens a ilusão de que há muito a encontrar no mundo. Porém, é o contrário que acontece: na maioria das vezes, conhecemos a vida primeiro pela poesia, e depois pela realidade."Arthur Schopenhauer

Não vou perder tempo com o período dos relâmpagos que cortavam aquela terrível tempestade, nesse momento singelo e solitário todo significado ganha a força instintiva do espasmo, a compreensão lampejante é intensa e profunda como o susto. Esses dias tempestuosos antecederam uma reflexão profunda e ressaqueada da existência de Brener, uma pessoa com o olhar acostumado à escuridão não conseguia interpretar tamanho dispêndio de clareza. O efeito óptico desorientava aquele que já estava perdido.

Despedaçado o infeliz conseguiu enxergar na sua própria ruína algo de sugestivo, o esfacelamento do individualismo. Até a compaixão, que sempre foi uma virtude controversa para ele, procurou como oásis. Culpava-se por sua ignorância ao mesmo tempo em que sentia um orgulho masoquista daquelas conquistas. O mesmo orgulho que drenou sua vida e quase o matou sem derramar uma gota de sangue sequer, transformava aqueles dias numa poderosa tempestade contra o seu ser. Uma daquelas tempestades que pessoas como Conrad encontraram entre a monotonia da existência marítima. "O engano é uma benção – dizia para si próprio – nele construí minha morada e dele sou o resultado mais puro. Policiais e médicos de plantão acertadamente me acusaram de louco quando tratei da pureza sobre minhas condições, mas seus históricos serviços para a manutenção do senso comum e subserviência geral deslegitimam suas palavras. Caminhar no engano é uma parte importante do labirinto da verdade, só não achava que seria tão longo e doloroso".

Ele caminhava com um aspecto de perdido pelas ruas, não percebeu que estava chegando em casa, nem que estava falando sozinho e muito menos que lhe observavam. Quando percebeu logo tratou de não se preocupar com a aparente insanidade, mas já era tarde.. havia perdido o fio da meada.

quinta-feira, maio 01, 2008

A melhor terça-feira da minha vida.

- arrume a sua gola.
- você é linda. - disse Brener sorrindo e se aproximando da mulher num gesto que oferecia o pescoço para o concerto.
- acordou bem humorado.. que bom. - respondeu Fernanda sorrindo e arrumando a gola da camisa.
O gesto era comum como nascer o dia, mas alguma coisa naquela manhã tinha um novo arranjo. As palavras de Fernanda sobre a gola da camisa não eram doces, mas também não continham amargura. Então o que fez Brener reagir tão carinhosamente àquelas palavras? Estou me adiantando porque nesse instante nada disso era pensado, eles estavam acordando e boa parte da consciência deles ainda estava sonhando.
Enquanto ela arrumava a gola da camisa de Brener seu seio raspou suavemente no peito dele, um encontro comum para um casal, mas era uma manha com um arranjo diferente e ele se esqueceu do horário, do serviço e bagunçando toda roupa deitou abraçado a Fernanda na cama. Fizeram amor sorrindo. Ela despia, sem entender muito bem, a camisa que a poucos instantes tinha ajeitado e ele acariciava seu cabelo espalhando-o no travesseiro. A roupa dela foi mais fácil de sair porque ainda estava de camisola - só ia trabalhar depois do meio-dia - fazendo com que ele chegasse primeiro as regiões que tanto o encantaram no começo do namoro.
Ele sentia um novo gosto e ela uma nova sensação, ainda não tinham perdido o encanto um pelo outro neses 4 anos juntos, mas também já fazia um certo tempo que não acontecia algo surpreendente.
O sexo foi forte e carinhoso, ele riu quando gozou e ela tinha molhado a perna dele toda enquanto estava por cima.
Ele estava deitado sorrindo quando ouviu ela perguntar "o que foi?".
- oi? repondeu ele meio sem saber o que tinha escutado.
A manhã tinha sido mágica até agora e as vezes a mulher precisa saber a razão disso tudo ao invés de simplesmente curtir o prolongamento do momento. Claro que o motivo da pergunta é para tentar descobrir a receita para fazer repetir manhãs tão especiais quanto essa.
Fernanda beijou Brener ao ver que ele mesmo não entendia bem o que estava acontecendo, mas que estava transbordando felicidade. Se beijaram longamente e pelados começaram tudo denovo, mas dessa vez era ainda mais forte, parecia que o encaixe deles era perfeito e ela estava quente por dentro, seus grandes lábios pareciam chupar o pinto de Brener e as diferentes partes da pele dela pareciam alças feitas para as mãos dele que a puxavam contra si. Gozou e se contorceu todo rindo e tremendo, ela que já estava molhada do gozo anterior molhou ele ainda mais e deitada sobre ele ria cansada. Sua cabeça desabou sobre o ombro dele.
- eu te amo - disse ele com cara de bobo e beijando ela com a rôla ainda introduzida, a virou e se levantou para ir trabalhar, dessa vez ela não ajeitou sua roupa, nem sequer se levantou. Ficou deitada na cama em extase. Não queria mais saber de receita, estava curtindo as tremidas que suas pernas ainda faziam involuntariamente.
Brener mal chegou no trabalho e sua chefe já brigava com ele na frente de todos sobre seu atraso e a desorganização de suas roupas, mas trepar de manhã é para encarar a rotina como é o protetor solar pra ir a praia, ou um protetor auditivo para o barulho, ou o óculos escuro para olhar a intensa luminosidade.
No meio da verborragia patronal, que não tinha nada a ver com o seu humor, ele começou a pensar por que aquela manhã estava tão especial aos seus sentidos? Então lembrou do comentário de Fernanda sobre sua gola. Tentou achar alguma coisa no ton daquelas palavras e viu nelas apenas normalidade. Tentou achar naquela raspada de peito algo mais, mas os peitos de Fernanda apesar de serem deliciosos ao rasparem na camisa não eram surpreendentes..
Brener finalmente percebeu que não eram as palavras ou o encontro da pele naquela manhã que tinham atingido as profundezas de seus sentimentos, mas o olhar de Fernanda que, sempre atento e carinhoso para com ele, nunca o deixara desprovido do carinho necessário para uma existência sadia.
Ao constatar isso ele sorriu graciosamente enquanto sua chefe brigava com ele. A chefe vendo aquele sorriso engasgou, havia enxergado naquele sorriso uma verdade tão profunda de um espírito livre que sentindo-se ofendida e incapaz de antingi-lo retóricamente o demitiu ali mesmo.

Fim

Acho que é isso... agora vou bater uma... carta hehehehe.
Vale lembrar que esse blog nunca se preocupou com revisões, sintaxe, ortografia, concordância, métrica, regras, gramática, etc. Aqui é um caderno de rascunho para idéias que irei desenvolver depois que me aposentar.
Obrigado
Leonardo Prata

sábado, março 15, 2008

samba recado.

a ilusão que precede o erro
é a mesma que o mantém
a solidão que o sucede
é a mesma que lhe convém
não podemos errar juntos
que dirá vivermos assim
amores já tive muitos
agora é só o fim.
talvez esteja sendo precipitado, novamente
e a minha mente
numa brincadeira sem graça
escreve hj um recado, para o futuro
desse presente mal criado.

quinta-feira, janeiro 31, 2008

It was an impulse of madness and insanity, but also an impulse of nature, irresistibly and unconsciously (like everything in nature) avenging the violation of its eternal laws. ( The brothers karamazov)

Queria dizer que sinto a sua falta, que sinto a ausência, ou seja, a presença do vazio. Você por muito tempo me pareceu confiável e hoje não sei se posso confiar em nossa intimidade, ela é por demais devastadora à minha pessoa. Peço desculpas por te escrever como se ainda fossemos amigos, isso é um defeito meu e pode trazer uma impressão errada, mas que a comunicação continue fluida e aquecida mesmo enquanto nossos corações caminharem pertubados. Todo arranjo que construo é obscuro, as vezes até mesmo para mim, o que alivia minha existência é o acaso e dele eu nada sei. Conforme o destino geral da existência fica cada vez mais restrito ao cinismo, uma antiga verdade assume novo significado social. Aquela verdade que diz que é melhor estar só do que mal acompanhado. Você era uma companhia que preenchia meus pulmões e tranquilizava minhas mãos. Eu me conheço o suficiente para não me dar uma chance, seria o mesmo que dar uma tragada, mas era disso mesmo que eu estava falando.

sábado, dezembro 22, 2007

funerais de cidades

"É preciso ser deveras inteligente para bancar o idiota" pensou, buscando mais conforto do que estabelecer alguma verdade. "Mas esse papel não cai bem para qualquer um e nem é um fardo leve para se carregar, mas mesmo assim, você ainda será o único realmente apto a celebrar uma noite em sua estupidez mais dilacerante e desesperada."
Uma indiferença em relação a seu próprio tempo ao mesmo tempo que facilitava as coisas para sua conduta colocava-o num caminhar solitário cheio de significados ofensivos. Assustadora era a sua capacidade de se sentir ofendido, de tal modo que lhe bastavam poucas palavras e um arranjo mais ou menos sugestivo e toda febre lhe subia à cabeça, a bílis se contorcia no estômago e o sangue lhe inchava os olhos.
Ele só pensava, sempre pensava - "Quando em cada diálogo, por mais estúpido que esse seja, surgem dezenas de Alexandres, Júlio Cesares e Cleópratas só me resta o nobre papel de bobo. Por que o mesmo discurso que enaltece a brilhantice se incomoda continuamente com a insignificância? Já não sei se isso é um defeito meu ou exterior, mas nesse desespero para ser lembrado eles só fazem esquecer. Rebaixo-me até o autismo, próximo da nulidade completa num devaneio mudo quando de relance percebo a eterna conversa sobre conversar, a mesma porcaria que fez da arte o mais fedorento e desértico lugar na terra."
Por essas e outras ele acreditava que Vitória estava morrendo, ele não tinha mais a inocência de antes que ainda inspirava alguma vida e inchava seus olhos de deslumbre, a cidade morre conforme ela foi matando-lhe. Os muros vão ficando brancos, as conversas insignificantes e o desespero gritante. Tem que ter muito fígado ou ser muito idiota para glorificar algo nesse cenário. Brener sentiu a miséria, abraçou a miséria, tornou-se miséria para finalmente preferir a idiotice.
(sem muito o que escrever, voltando a ativa, sem revisão, sem pretensão, sem esperança)

sábado, outubro 27, 2007

"e no final o desprezo recebido é sempre maior que o esperado." L.p. outubro/07

será que essa frase já existe ou é uma daquelas verdades absolutas que trazem a impressão de já existirem ou de ja terem sido ditas de outra forma?

domingo, outubro 14, 2007

onde não existe o sentido só resta o desespero.

segunda-feira, outubro 08, 2007

fragmentos

"No final as palavras são só uma forma de vestir sentimentos" Leonardo Prata 06/08/07

"Tenho uma sede, uma secura na boca. Um deserto no peito quando cultivei nos campos do apego. Às vezes um descompromisso malevolente e uma miopia para enxergar em perspectiva. Um Midas ao avesso que deprecia tudo o que tem nas mãos e adora seu passado como se tivesse um olho nas costas.” (Trecho encontrado em um rascunho sem destinatário em 12/06/07)

"Tenho um apetite pelo presente que só encontra rival à altura na minha vontade de ver o amanha nascer novamente diante dos meus olhos” (L.P. perdi a data)

"Existe alguma coisa em mim que parece invulnerável, uma vontade de estar com os olhos e ouvidos abertos, mas que perde o sentido para o mundo conforme minha fala se esvai ou meu apetite pela sociedade diminui." (L.P. perdi a data e mais um monte de frases legais)

"o alcool é o melhor removedor de manchas espirituais"

Se na época em que eu estava escrevendo "frases" enviei alguma para "você" que não se encontra aqui por favor me devolva.

--
Pedaço de algum livro brilhante que estou escrevendo... brincadeira.

As idéias haviam desaparecido das conversas, percebera isso primeiramente enquanto sensação negativa e porque não dizer, reduzida. Não se sentia satisfeito com o universo das sensações, precisava senti-las para além do mau-humor e da febre. Um mal-estar lhe habitava o espírito, sem passar pelo coador da razão, essa sensação não lhe transcendia o raio fisiológico, não se convergia em retórica, não amadurecia em conceito, essa clausura da sensação em sua manifestação puramente biológica, confinou por osmose o seu espírito. Eu conhecia Gerson Brener muito bem e sabia que para um homem que levava os pensamentos a sério, não conseguir decifra-los poderia acarretar mais tormento que a própria sensação fisiológica, algo comum em suas atitudes, um eco que não diminuía gradativamente o volume, mas ao contrário aumentava até tornar-se insuportável. Contou-me o que estava sentindo e que iria se debruçar sobre essa sensação, estudá-la mais a sério.No inverno daquele ano entregou-se ao silêncio, foi a última notícia que obtive sobre seus "estudos" antes da carta que recebi. Na carta, uma espécie de grito calmo me escreveu sobre as conclusões as quais chegara sobre a natureza do silêncio, mesmo acreditando que ele era o único lugar onde o dualismo poderia ser extirpado, só alcançava esse oásis através da meditação. A partir do encadeamento do pensamento o silêncio era por excelência ambíguo, mesmo assim conseguiu retirar uma dialética superadora, sobretudo no que tangia a busca da serenidade. Escrevera-me que "toda tranqüilidade detinha em algum lugar nela um aspecto silencioso, mas que nem todo silêncio era tranqüilo". O silencio era para ele sem mistérios, puramente reflexivo não só para as questões das idéias e da alma, mas como espelho desta última. Se confundiram alguma vez na história o olhar com o silêncio como detentor dessa função, não caíram, assim, propriamente no erro, mas no pecado da redução. A visão é facilmente ludibriada, mesmo que o olhar contenha mais alma que as imagens, os olhos há muito tempo estavam sendo sobrecarregados e nessa avalanche de imagens e com a nova velocidade em que elas apareciam o olhar não ficou desconfiado, na verdade, ficou hipertrofiado perdendo sua capacidade investigativa, sendo sobre tudo a janela da ilusão. Disse-me outro dia que não se assustara quando percebera que a ilusão havia descido, sobre tudo na consciência das massas, ao reino da visão.

quinta-feira, agosto 02, 2007

1 ano e 6 meses de blog!

Fui dar uma olhadela nas coisas que escrevi, algumas palavras tornaram-se velhas outras continuam vivas e estão até mais jovens. A validade das palavras tem alguma relação com o tanto de sangue que você derrama para escreve-las. Como gosto de abrir minhas veias ao máximo um padrão foi estabelecido nas minhas batalhas cotidianas, a luta para acabar com os parâmetros erguidos pelo tédio. Nem sempre fui feliz nessa luta, ainda mais caminhando no meio do gado humano. Gostaria de montar uma guerrilha de dois, mas como diria o mussum... é complicadis e pareço sempre estar a serviço do descompasso. Hoje estou andando mais sozinho, pensando mais de mansinho. Não digo que saí dessas palavras ileso, que idiota pensaria isso? Aqui estão pedaços que por alguma falha da minha natureza eu resolvi expor. Não é vaidade, essas palavras com certeza me afastaram mais ainda do mundo dos homens. Estou escrevendo mais do que nunca, mas não estou publicando aqui. Estou fazendo um "mistério"...
Estou com um outro blog de resenhas (http://booksloveregret.blogspot.com) e um blog secreto das minhas viagens e filosofias do movimento para o projeto do meu livro "Como se filosofa com o chinelo ou filosofia a chineladas". Estou traduzindo um texto para uma suposta editora pirata, escrevendo minha monografia e com certeza.. ficando louco. Tudo isso exigiu de mim que abandonasse a boêmia, por isso peço que evitem convites para eu me juntar a vocês, celebrar qualquer coisa ou rir de qualquer merda. Amo todos meus amigos e desejo todas a bocetas, mas agora é tempo de hibernar.
Obrigado a todo mundo que deixou um recado aqui, sei que nunca comento nada no blog de ninguém e nem leio o blog de ninguém... mas não é por escrotice, é mais para me manter limpo ou, se preferir, imerso na minha própria sujeira.
Se quiser me encontrar, ande pelas ruas de vitória em horários inusitados ou nas tardes dos finais de semana.
Abraço
L.

domingo, julho 22, 2007

só mesmo em vitoria onde os homens se confundem com o mar

na calmaria ou no tumulto sempre naveguei nesse assunto.
de qual oceano estamos falando?
do pacífico, oras. há muito tempo não me banho em suas águas, mas sempre que o céu parece um pulmão negro cheio de estrelas é como se minha boca salivasse agua salgada ou quando nossas peles escorregadias e suadas encharcam a cama e agarrando no seu quadril como um naufrago segurando a vida, nessas horas, me confundo com o mar, me deixo levar... sou quase amar.
o que falta então?
que pergunta! você contaria os segredos do mar?

domingo, junho 17, 2007

as portas da percepção ou de como eu preciso do seu olhar


o silêncio deixa uma infinidade de possibilidades para a imaginação e a imaginação é, para a realidade, uma porta fechada. e sabe que o é. vamos supor que você seja bom nisso e que sua imaginação encerre muito mais possibilidades do que o usual e que você se diverte nessa busca angustiante para chegar ao máximo de possibilidades, você passa pelas mais dolorosas e experimenta de sua dor, pelas mais alegres você se diverte e sorri e assim por diante, você acaba introjetando todas elas e acaba retornando em algumas e não são poucas as vezes, mas a troca de silêncios, para ser saudável, exige muito mais compreensão entre imaginação e realidade (do objeto) do que parece. Pois a natureza do silêncio é ambigüa, pode compreender o entendimento mais pleno e a indiferença mais fria.
Apesar da sensação de ter experimentado tantas possibilidades e tê-las sentido como se estivessem tocando a sua pele, você sabe que a porta ainda estava fechada e que pouco vale esse universo de experimentações imaginárias se o objeto não abrir a porta e deixar que você sinta não mais um milhão de possibilidades imaginárias, mas um milhão de momentos de possibilidades infinitas.

domingo, junho 03, 2007

existem noites que somos bons, existem outras.... que somos horriveis.

-"Noite sem sentido." - Pensei e continuei - aqui o jogo é mesquinho, não me agrada. Na verdade, nem me sinto tocado por esse jogo. Não me sinto desafiado, há muito tempo isso não faz diferença para mim, digo... afeta meu humor, mas não meu espírito. E o que me traz novamente nesse lugar? O que diabos me traz? A possibilidade do encontro! É verdade! Minha eterna fraqueza sociabilizante. - sorri para mim mesmo, um sorriso doente e louco e nessa hora percebi que haviam notado minha alegria autista. Meu silêncio e concordância despreocupada haviam irritado o democrático ditador daquela casa.

- repara que ninguém consegue ficar parado.
- mas isso não significa nada, estamos sempre em movimento. e tem a coisa da música, ela mexe com a gente.
- sim, essa música é horrível. Amaldiçoados aqueles que não reconhecem seus limites. Mas isso, de estarmos todos em movimento não signifca que seja impossivel analizar o movimento, veja bem...
- por que retorna sempre as mesmas questões?
- digamos que sou chato. - e continuou - minha vida toda me encaminhei para tornar movimento. Nunca fui apegado a nada, meus amores nunca apareceram para mim enquanto perspectivas futuras, era o momento. Minhas posses estão a mercê de todo o imprevisto e desapego. Não lustro coisas mortas, nem tiro a poeira da velharia. Tudo para mim tem que acontecer e morrer na acidez do tempo. Mas veja a contradição, não viajo faz muito tempo.
- a maior parte do tempo, você se pergunta sobre o tempo. não vê que aniquila todo o sentido girando inercialmente?
- lá vem você denovo com esse papo sobre inércia. sabes muito bem que venho girando ao redor das coisas para vê-las em todos os ângulos e se não bastasse meus temas variam conforme meu espírito. Não abandono um problema por sua complicação, abandono-o quando a minha resposta me satisfaz. Posso não ser o cara mais feliz do mundo, mas me aturo muito bem. Não me vê reclamar sem propósito. E fique sabendo, agora estou a estudar a urgência.
- Sim, interessante. E já digo, que tu parece desesperado.
- Toma a forma pelo conteúdo, sabes que sou calmo. Nervoso não consigo pensar, é uma fraqueza deixar que me tirem do sério, mas acontece. Sou humano. Nessas horas fico reduzido à nada. Não estou desesperado, digo as coisas com uma urgência benéfica, estou a me acostumar com este estado excitado. Talvez melhore nas próximas situações críticas.
- Críticas?
- Nervosas, que seja.
- Mas o que tem de positivo a urgência?
- Acredito que se eu estudar a urgência posso fazer do impulso, que os momentos urgentes exigem, uma arma mais precisa. Na verdade você trouxe a conversa para onde eu realmente queria chegar, a urgência e o impulso que ela exige de mim. Nessas horas nervosas eu me comporto muito mal, acabo tropeçando nas minhas próprias pernas, resolvi estudar isso para que nesses momentos, na menor fração de tempo possível, eu obtenha a resposta mais curta e esclarecedora possível, tanto física quanto retóricamente. Como sabe reajo pouco ao mundo, abandonei quase tudo que a humanidade glorifica. Sempre tive essa tentação pela solidão, não me leve a mal. Estou bem assim.
- Não te levo a mal meu amigo, só fico preocupado com suas idéias. Andas a ler muito e a viver pouco, mal fala comigo. De que adianta seus "exercícios" - e fez o gesto com as mãos como se colocasse as aspas - se anda escondido? Parece fraco.
(continua um dia)

sexta-feira, junho 01, 2007

solitude's temptation vs. desire

quando meu pensamento se desfaz em sombras, caminho taciturnamente pelo barulho da confusão.
quando meu pensamento se faz de sombras, caminho pensativamente pelo silêncio da solidão.
é tudo uma questão de causa e consequência.
caminhar é a única constante que obedeço. que meus pés me levem para longe do mundo dos homens e para perto do mundo dos deuses. eu sei que vou longe.
minha bagagem é leve quando sou sincero, enquanto o fardo da mentira é pesado e escorregadio. dificil de carregar, você vai constatar.
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era uma coisa virou outra
minh'alma grita rouca
para ler em braile
os mistérios de su boca.

sábado, abril 21, 2007

descaminhos ou como filosofar com um chinelo

As idéias são possessivas, e quantas vezes já nos percebemos girando ao redor delas com expressões angustiadas? Voltas investigativas num universo que ao mesmo tempo que é íntimo, pelo seu modus operandis, é estranho e novo, pelas suas sempre inesgotáveis possibilidades. Lobo, macaco ou hiena, mil faces da alma. Bobo, opaco ou sem pena, quem dentre nós me condena? Fora está o beijo quente que nutrio, o rio de pele e pêlo que você atravessa sem perceber. imagens ou imaginação, pensamento ou ação, boca ou tentação.
Não pertenço à nenhuma cela e minha condenação veio do carrasco em mim mesmo, indefeso palhaço que ri do espelho que zoa e maltrata sem zelo. a polidez na lata de lixo dessa transportadora de ilusões chamada vida. a medida que encolho, escapo. Conheço a fuga como quem viveu perambulando por cadeias, um coiote sem deserto, um lobo sem estepe.
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o prazer de viajar esta em se perder. por isso viajar sozinho é uma experiência necessária, as vezes dois são um só, mas a cumplicidade afoga as experiencias mais profundas, deixadas de lado em nome do conforto do espelho conhecido nublam o incerto e a deriva nos aguas tranquilas da alteridade. Poucas pessoas tem coragem para fazer aquilo que sabem, pouquíssimas. Estou aqui, longe de mim e de todos e nesses dias eu quero ver o esfacelamento do mundo porque aqueles que tentam salvar o mundo com a razão descobrem a sua pequenez.

terça-feira, abril 17, 2007

tato

meu olhar anseia por um dia de sorrir e namorar, olhares ja me conduziram para esses paraísos de alegria e poesia. hoje, daqui, te dou minhas palavras com vontade de chorar.

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passear poeticamente pela vida consiste num exercício descompromissado até o fim objetivo. Cada passo é uma revolução caliente e o desfrute pleno a utopia do vagabundo, nde o amor e a poesia se realizam na sua doçura e simplicidade. O caminho, quando duro ou insípido, exige um radicalismo do desejo, nesses dias tristes a profundidade tanto do corte quanto do peito são a arena de nossas paixões, onde a soma de tudo tem seu único espaço de insurreição na mesma proporção de sua urgência. (juro que vou consertar esse final ou tudo).

segunda-feira, abril 02, 2007

Sentia-se mal e fraco, não em sua moral ou julgamentos, era seu corpo que padecia, notara que seu apetite para aquilo que considerava vida havia diminuído. Começou um auto-tratamento, como sempre fazia - pelos com as doenças da alma, diminuiu os cigarros e começou alguns exercícios, mas sua rotina era um constante desmoronamento. Comprou um maço de cigarros para evitar que, num momento de fraqueza, pedisse à alguém. Preferia sua tosse monstruosa a estabelecer alguma espécie de contato com outros fumantes, aquele orgulho burguês de não se portar como pedinte, porque se o cigarro já era visto por ele como uma fraqueza, fazer do seu vício uma razão de comunicação atormentava-o. Preferia o silêncio pois sempre que escutava conversas perdidas pela cidade ficava assustado com as imbecialidades modernas, preferia o silêncio por que não queria fazer parte dessa estatística e silenciosamente se saía bem das mais difíceis encruzilhadas que a vida havia colocado em sua frente.
O fato de ter um maço cheio atiçava seu desejo pela nicotina e sabia que provávelmente fumaria tudo e rápido. Mas estava satisfeito com seu pensamento burguês.
Acreditava que toda aquela fraqueza servia-lhe de alguma forma. Mostrando o quanto escrever carregava consigo uma certa mortandade interna, fúnebre ritual de transformar a vida em palavras mortas, em folhas de árvores mortas para durar além da vida.
"-Outra dose de loucura, por favor!" Gritou um negro alto que tocava saxofone alucinadamente, nem esperou a bebida chegar, quando rapidamente ouvimos a marcação distante de quatro tempos nas baquetas, era o prelúdio de mais uma música de beleza enfurecedora. Ninguém conseguia achar um jeito contínuo para movimentar seus corpos e pensamentos, um desconforto acolhedor nos aquecia, copos iam e vinham até nossas bocas aveludando nossos ouvidos e encharcando nossas idéias.
Nessa altura, nossas conversas pareciam com o movimento de cardumes de peixes pequenos fugindo dos predadores, uma nuvem dançante de esbarrões num oceano de deliro. Só podia ser coisa daquele quarteto alucinado. O pianista parecia tocar uma espécie de tambor primitivo, seus pés não conseguiam se conter, aquela cena toda da banda nos impelia a dançar, não um passo, não um estilo esquizofrênico, parecia que desviávamos de socos vindos daquele palco. A esquiva nos fazia tirar conclusões a torto e a direito, o mais quieto do grupo disse em voz ébria:
- Dificilmente um fraco resiste ao silêncio, por isso estive quieto até agora. Não que vá falar coisas brilhantes, mas com certeza o silêncio é um direto de direita. Esse som é fudido e às vezes me perdi em sua fluidez, disse Gerard que logo foi interrompido pelo sempre volumoso Diego com suas caretas e retórica de machado desafiado:
-Sim, mas... – e dele sempre vinha um irritante "mas" seguido de suas verdades piradas – nas minúcias o silêncio não deveria ser encarado tão desafiadoramente.
Gerard só aceitaria essa resposta de uma pessoa que ao menos uma vez ficasse quieta diante de um assunto ou que evitasse as avalanches de mas e poréms, que sentisse fadiga ou demonstrasse humanidade.

quinta-feira, março 22, 2007

o que sou senão a miragem do meu próprio eu? Uma pergunta idiota respondida sem foco nos dias do império da visão. A claridade que não ofusca revela não mais do que o vazio. Foda-se! Hoje não existirão arestas e tudo vai descer o abismo infinito, deslizar por curvas imaginárias. Hipótese confirrmada pelo gosto dos oceanos e estradas de palavras e gargalhadas. Vendo a alegria nos dias de tristeza e ressabiado sorrio doentio para seus olhos carinhosos como quem sem medo treme e sem choro gagueja por um beijo, idiota que seja! Não sou mais do que isso.
De volta deparo-me com o sem graça e disfarço uma saída do embaraço. Se soubessemos os prazeres da liverdade não haveria mais tempo ou dias, sem ressentimentos te amo minha música.
"O céu me apareceu cheio de encanto" e a chuva finalmente é percebida, peranbulando por músicas e ruas o encontro ainda encanta corações estragados que estraçalhados no tempo e no espaço, na rotina e no descompasso sorriem diante do desenlance. - "No sepa lo que soy. Yo crèo que soy un beso. Una salita de recepición, una musica cantada para la luna. "
A certeza que dissipada canta sua essência efêmera, fumaça fuliginosa como gosta de dizer vulgarizada pela esquecidiça condição de existência.
-"Yo solamente soy essa noche calieñte! Mira me. solo su ritmo alucinado! Mira me no hay nombre, solamente cuerpo e dança".
Misturou goles com filosofia sem perceber rastros despejou sua mão novamente sobre o papels, diretos de direita dignos de seus idolos boxeadores esmurravam sua cabeça contra o ânimo. - Meu repelente é ácido expulsa mosquitos travesseiros que atravessam as noites.
Qualquer elemento surrava-lhe a mente, fraco ouvia a chuva em catarze que seus olhos molhados se fecharam para o amanhã.

domingo, março 18, 2007

e o silêncio e a alma

oh alma trancafiada, que nao uiva, mas cala. dorme, dorme e dorme e, quando não, cava sua própria vala.
parece aceitar a jaula, mas conhece os sintomas de sua clausura. ignora-os ao gosto do momento. por onde sorrateiramente transborda essa alma? mutável, prefere a fumaça à forma. escorregadia e foliginosa e calma. doces são os tempos de liberdade quando escapa de seus próprios tormentos, quando finge ter algum talento. sabe-se que é resistente ao silencio. então controla o incêndio e quase deixa escapar, palavras de amor ou raiva nesses dias sem paladar. vai alma penada, desce a escada, atravesse a parede e transborde a rede com sua sede. bêba até o último gole porque você entende mais lúcidamente de porre e se alguem te importunar, mande a loucura procurar. oh alma tranca afiada. devagar, devagar, devagar. bocejar, bocejar, bocejar. que ampla cadeia que é o silêncio mas que dói e aperta mais o coração do que escrever.

quarta-feira, janeiro 10, 2007

já é hora de desvirar a ampulheta


Deveria estar certo de que ao desvirar a ampulheta começaria uma nova contagem do tempo, mas desde que a ampulheta parou o que essas areias guardaram dentro de si naquele contar do tempo? Construíram castelos de areia, forminhas de praia, palavras sutis e atritos... ora escorreram suavemente ora dolorosamente, como se estivessem arranhando meus olhos. Sólidas e salgadas estruturas, diria, se não carregasse a doce propaganda da memória sem rastro, foliginosa e enfumaçada. Não faz mais diferença, as areias são pequenos manuscritos do tempo, nelas estão contidas todas as experiências dos milênios, vem de bem antes da minha recente existência e a elas juntar-me-ei num futuro recente. Quem duvidaria de nossa pequenez?
Será que as areias envelhecem? Talvez elas sejam as formas da velhice, o pó. São pelo menos quando uma bunda velha senta e deforma a areia com suas curvas mulambentas e gravitacionais.
As areias desertas de qualquer estação gravam sua volúpia silenciosamente, resistem ao seu destino atômico e tragicômico, afinal quem será lembrado nas areias do esquecimento? Quem será amado ou odiado? Quem terá o perfume tatuado e a textura da sua pele impregnada dos/nos poros de outrem? Quem conhecerá os segredos dos mares da outra pessoa e terá a sensação de estar sempre a desvendá-los em qualquer momento? Tanto nas lembranças quanto na imaginação!
Agora sou um exercício, uma matemática torta que visa potencializar todos os momentos da vida, sem piedade minha ampulheta soterra o tempo e minha miserabilidade. É a faca que você, supostamente, amola contra si mesmo. Acreditando que viver entre o delírio e o mistério torna a vida um pouco mais excitante. Não existe mais contabilidade, nem balança. A ampulheta nunca foi desvirada, porque ainda não acabou, quem desvira a ampulheta é a morte e nosso xadrez ainda esta no começo da partida, espero.

sempre inacabado, como precisa ser.

sábado, janeiro 06, 2007

drop your guns

aquilo que não vivi permace com o encanto do que não foi, é que tudo parece maior quando sou incapaz, covarde e medroso. como você pode ver esse ego grande e esquizofrênico não tem mais receios, até suas fraquezas (conhecidas e exploradas por uns, odiadas e amaldiçoada por outros) são propagandeadas com a sinceridade da publicidade.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

av. entranhas esquina com a coração

Desculpe se não escrevo sobre as belezas turísticas de minha cidade, não me interessa esse tipo de atração local onde o comportamento se manifesta tão padronizado e etéreo, onde as particularidades são assassinadas por posturas débeis e infantilizadas de seres ignóbeis geralmente chamados de turistas que, seguindo fórmulas simples, congelam seus sorrisos desnatados em primeiro plano ofuscando paisagens de fundo com sua morbidade seriada - na verdade todas essas fotos, acredito, são os retratos de uma auto-imagem fria e sem personalidade que prefere a imagem à vida.
Espero não desapontá-la na forma como vejo e descrevo esse lugar onde a beleza é tão simples e pequena que fica difícil decifrá-la, para isso me embriaguei dessa cidade na esperança de transformar minhas impressões do espaço em algo mais cotidiano. Embriaguei-me e ainda estou bêbado, às vezes sinto uma ressaca de vitória, facilmente contornada com outra dose de aventura e descoberta. Caminhei perdido e cambaleante por suas ruas, provei seu amargo, às vezes, seu doce. Procurei ruas pequenas, onde as almas distantes se vêem de muito longe e nossos passos assumem uma cadência envolvente e são escutados e percebidos, por segundos ou anos conforme a melodia que nossos pés suscitam. Na multidão abri trilhas estreitas onde só passava uma pessoa por vez. onde tinha barulho eu cantei alto em voz muda. Onde era vazio expandi-me até ficar rarefeito, até ficar frio, até perder o equilíbrio.
À direita. Atravessei da raiva à serenidade, curvei na perspectiva, subi no respeito, atravessei o doce cume da eternidade que tatuado nas minhas entranhas e coração ainda se faz presente mesmo como ausência amarga ou doce coexistência. Desci o vale em espiral que torce o vento num ciclo constante que me trouxe de volta à partida. Aterrorizei-me com a perspectiva da ausência de história através da clara noção da linha que rodopia constantemente em torno de cada dúvida fundamental, uma fatigante peregrinação entre sugestões e pesadelos.
A esquerda costuma acabar no tédio, acho que parte da culpa esta na minha repulsa ao norte(ador). As formalidades da comunicação, à postura servil assumida tanto por mim, quanto pelas massas.
Quem diz que vitória é uma ilha deixa-se enganar pela metafísica da geografia, ou pelo mau costume das ciências que, geralmente, se mostram num plano autista que não diz nada a respeito da vida. Mas como podem dizer que essa cidade é uma ilha? Vitória é um arquipélago! E por mais mapeado que seja já vi em centenas de olhares, pessoas que descobriram suas ilhas secretas. Pequenos espaços inabaláveis e indestrutíveis sujeitos somente às ações do esquecimento.

(continua?)
(continua!)

quinta-feira, dezembro 21, 2006

a tempestade no oceano

meu olhos apontam para o nada e nada vejo. a impressão que tenho é que não perco nada, (valeu laerte) mas nada tenho. estou em algum lugar do tempo ou do esquecimento é frio e amplo e distorcido. afogado no meu próprio ego, me resta a caridade. é o resultado do dano. o abismo tem dois gumes e te corta em quantos fragmentos inteiros você conseguir contar. agora somos dois estranhos que se conhecem bem. agora, não existe mais para mim. agora é só um ponto, é só uma gota e eu sou a tempestade.

domingo, dezembro 17, 2006

não posso ser contido.

mais fumaça que matéria
não tenho forma, sou idéia
perambulo pelo tempo
vagabundeando pelos momentos
a vida é quem exige o esquecimento
os pedaços que guardo em segredo
espero encaixem com os seus
pois é fumaça, é idéia
muito mais sangue que artéria.

domingo, dezembro 03, 2006

poesia picaretista, ops concretista

desconfio,
descuido,
descompasso,
descaso,
desastre
destemido,
destino.

quarta-feira, novembro 29, 2006

o esquecimento é que terá a última palavra

que pedaços pequenos me restem
mas que nunca à significados escusos se prestem.
Pedaços tão rasgados, praticamente irrecuperáveis,
por nenhum momento miseráveis.
um aqui outro acolá
melhor quando é dificil encaixar.
anos de lembrançar perdidas
para evitar sentir o gosto de um dia sem vida.

sábado, novembro 04, 2006

pequeno tratado de um grande b.

procure pequenas fissuras para tentar chegar a qualquer lugar, fale sobre qualquer coisa, até mesmo vulgar. faça as palavras sairem ou simplesmente estocar, pensei que você estivesse errada, mas só o tempo irá nos contar.
pensei que a vida era curta, mas o tempo parece um inferno. recolha-se até uma noz. silencie-se, você não gosta da sua voz.
você planejou ser escorregadio, mas as vezes é pegajoso, as vezes é arrogante, parecendo corajoso, mas você se conhece, sabe que ainda é, apesar da casca dura, um muleque medroso.
a maior parte do tempo, odeie o tempo.
e se o caminho mais curto para sair fosse escrever alucinadamente? acho que não.

quinta-feira, novembro 02, 2006

i thought that you was wrong
but only time will tell.
i thought life is short
but time sometimes looks like hell.

ad infinitum

cretinos, sacerdotes, administradores de empresas, empreendedores, modernos, estudantes em geral, trabalhadores do terceiro setor, espertinhos, fanfarrões, pessoas que abusam da paciência alheia, que falam muito, que são hiperativas e não fazem bosta nenhuma que presta, pessoas inertes e sebosas, juízes da moral em plantão 24h, políticos, anti-políticos, boêmios, caretas, artistas, intelectuais bossais, malandros, quadrados, políciais sem distintivo, opinião pública, criticos de qualquer coisa, mendigos e milionários, grávidas e mulheres sem ovário, homens sem huevos, homens que praguejam ao pé do ouvido, machões que fazem análise de risco, motoristas que lustram o carro como se fosse uma rôla grossa, aqueles que estão inseridos em estatísticas, aqueles que não vomitam, patéticos, introspectivos, autistas, portadores de deficiência de caráter (sic), esportistas, niilistas, bons de bola, filhos da terra, maconheiros, estrangeiros, descendentes, mamíferos, dançarinos, atores de teatro, bibliotecários, pedagogos, vendedores de livros, editores, filhos da puta em geral... eu odeio vocês e toda sua laia.

eu chamo isso de exercício da memória.

domingo, outubro 29, 2006

giant steps

devagar, devagar...
passos gigantes estamos prestes a dar.
a ilusão do que pode ser imenso
esbarra no perdido, no pretenso.

sábado, outubro 28, 2006

domingo, outubro 22, 2006

se eu fosse um enrolado
me chamaria leonardo
se esse enrolado fosse um babaca
me chamaria leonardo prata.